15.10.08

the harvest moon let the sun take its place


eu me deito sobre o sofá ao lado da minha cadela que é dourada e que aguarda com o couro e o pelo frios, como esperasse no lugar exato por onde o sol gosta de aparecer primeiro, e ele logo aparece. tímido no começo, quase sem forças. tem medo de quebrar o encanto do outono, que por essas terras deu a luz ao dia das bruxas, o famoso halloween. sim, o encanto do outono por onde eu ando é quase mísitico. é o que o povo que cresceu aqui mais tem de encantador, e o sol tem medo de destruir isso também. um raio quase anêmico atravessa a grande janela da sala e cai sobre o corpo dourado da menina que se deita ao meu lado, que está quieta, olhando para mim como eu olho para a janela. outros raios vem dizer olá, e se apressam para também timidamente pedir licença e ir entrando, com medo do frio lá fora. eu deixo. permito passagem porque mesmo antes tendo sérias questões a resolver com o camarada sol, sinto que mais do que tudo o nascer dele é todo dele. não posso pedir que deixe de ser da forma que quer ser, como ele não pede nada de mim e nunca irá pedir. eu permito. o outono que cede algumas horas do dia a qualquer que seja o caminho do sol a percorrer, recolhe como oferenda as folhas que caem, as frutas e legumes que estão sendo ceifadas, as noites claras de estrelas, as sombras que vivem nos becos e que acompanham as sombras de quem anda por eles. eu permito. como nunca permiti uma estação cobrar nada de mim, agora eu prometo trégua, por enquanto.


e o vento frio que eu respiro me dá mais uma nova e inteira realidade para viver: a minha.


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pintura de carol nelson