9.7.10

largado entre as estantes ou fragmentos de a verdade fora de hora



"No meio do verso, enquanto o tempo ainda não adquire aquele valoroso ar de cidade pequena, eu rodo a vagar esperando pelo próximo minuto em que estarei viva de fato sem preocupar meus poucos neurônios com qualquer coisa que não seja ser. Gostaria de estar pronta para isso, gostaria de cantar baixinho e chorar feliz, mas a verdade está longe disso e é por essa e outras razões que viver nunca me bastou. O que aprendi com a vida? Nada muito rigorosamente útil. Absolutamente. E enquanto os raivosos e os envolvidos gritam freneticamente, meus olhos observam enquanto o rapaz que me observa do outro lado da rua pensa que sabe o que eu esteja a pensar, mas de fato nem eu mesma sei o que se passa por trás de mim, muito menos por dentro ou até mesmo envolta. A dor é imensa, tão imensa que já não sei qual é sua verdadeira origem – já não sei se é origem ou ramificação – talvez até seja conseqüência, sendo o que for e sendo o que é, não sei ainda nomear qualquer coisa que venha e o que vem aproveita pra se instalar sem dó nem piedade, largando seus cômodos sem hora marcada ou qualquer recado na porta da geladeira."

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