30.5.07

Une Saison en Enfer...



"Love must be reinvented."


Eu era uma menina e meus desejos eram tão imensos quanto de um adulto que tinha desejado tudo nessa vida e na outra. Sempre tive a impressão de ser maior do que as outras pessoas, não por me achar demais da conta, mas porque tinha a sensação de não caber em mim. Meu corpo se esticava além dos limites da minha pele, dos meus músculos e dos ossos que pesavam ainda mais a cada novo passo, ao me levantar da cama para começar mais um dia. Eu era uma menina e eu conheci certas coisas que até hoje, nunca mudaram pra mim - tenho certeza de que nunca mudarão.

Existem certas memórias que não são memórias. São histórias que eu contei pra mim mesma pra que o sono chegasse. Nunca consegui cair na cama e dormir profundamente logo de cara... Minhas visões e sonhos eram minhas certezas de que a vida chegaria algum dia, galopando e me tirando dali, me levando pra bem longe. Estou enrolando tanto pra falar de um acontecimento – ímpar -, que mudou tudo e que chegou de tal jeito que é difícil até de entender. Eu tinha uns doze anos quando ouvi falar de um filme que ninguém tinha dado muita bola. Tinha uma melhor amiga que agora está bem longe de mim - mas que estará próxima em breve - que também tinha sonhos pesados, como os meus, de fácil combustão e cheios de detalhes. Nós duas nos sentamos para assistir ao filme tão desajustado e mal falado.... Nós duas ouvimos essa frase: o amor tem que ser reinventado.

Lembre... Tenho memórias que não são memórias, são histórias. Essa é uma memória e está catalogada como tal, mas também é história que me colocou pra dormir muitas noites frias.

Também nesse filme, ouvimos:

Olhe! Encontrei...
-O que?
A eternidade. É o sol, misturado ao mar.

Essa memória se transformou em paixão e em poucas semanas já tinha toda a obra completa daquele que tinha inspirado o filme. Já havia lido, relido e me perguntado algumas vezes se valia à pena muita coisa que eu sentia a toa, muita coisa que com aquela idade toda parecia não fazer sentido – e que não faz até hoje -, muita coisa que me fez chegar a muitas conclusões que ainda são válidas hoje.
Essa manhã eu acordei com as memórias vividas tão presentes em mim que até dói. Dói a ossatura do rosto, a musculatura que sustenta o tronco. Faz marcas na cintura, nos pés e nos ombros. Dói a ponta dos dedos, os traços finos nos lábios expostos ao frio... Doem os olhos que ardem de tão secos, dói tudo porque a memória existe. Quando é inventada, a dor é maior, mas quieta. Hoje a dor grita e no fundo ouço uma voz que diz que o amor deve ser reinventado. Reinventado como única maneira de sobrevivência. Como negação de tudo e como resposta pra tudo. Quando todos escolhem pelo ceticismo altruísta, escolho a entrega reticente... Até porque saber o que sinto é fácil, entender aquelas palavras que me transformaram e que reinventaram todas as moléculas do meu ser é ainda a grande tarefa a ser concluída...

Hoje sim, queria uma máquina do tempo para poder brincar com ele...
Talvez assim ele para de brincar comigo.

26.5.07

esses dias

"esses dias passam e é chuva. é sol de três da tarde e é chuva dentro do carro. esses dias podam sonhos e fazem crescer raízes. esses dias são verdes e cinzas. dias de acrílico em noites de crepom. na janela, na porta, no rosto. nos olhos é dia de falta de tempo, de verdades, de aconchego... esses dias são pedra no caminho alheio. e eu me desculpo se usei santos nomes em vão. e eu me perdôo pelas atrocidades cometidas contra minha própria pessoa. eu me engano e sigo adiante porque ninguém me engana tão fácil. avante. esses dias de música quieta. de vozes silenciosas. de guitarra chorando baixinho. esses dias o baixo fala mais alto e o espelho é meu melhor amigo. confidencio altas esquisitices, pro meu espelho querido. ele me mostra a sincera falta de vontade em volta e não mostra mais do que já sei em mim. amigo. esses dias o sol se põe mais cedo e é do desespero que tenho medo porque ele me dá medo. e é chuvinha boa, mesmo assim. é frio de conversas frias, é assim. é num ritmo lento que eu passo a perna em mim, mas antes eu sei a hora e o local, o como. boicoto o meu próprio boicote, eu não espero alguém fazer o mesmo por mim."

i'll be your emily...

I'll be your emily...
.
drifting and sliding

wandering in your dream,
and you shall find me
there, overseas.

24.5.07

pensar na coisa

às vezes a realidade cai de boca no chão.

quebra todos os dentes da frente.

rasga a testa no cimento seco, no áspero dolorido da rua.

não saber é algo fora de cogitação. esperar pra saber é algo sensato. saber é o cúmulo e já não quero mais regar certezas. elas são frias. são terríveis quando estão próximas. tudo se materializa sem fundo e sem propósito? são caminhos tortos mas são nossos... right? um dia é o sol que se apaga porque não quer mostrar seu rosto. outro dia é a lua. e quando serão as estrelas as escolhidas por mim para se desligarem da minha proteção de tela? quando será eu mesma a se apagar? não sei. tá aí algo que eu não sei. se paro pra pensar não dói e nem faz cócegas. não anima, não entristece e nem causa convulsões. não me ilude, não me enrola, não me tortura... parar pra pensar nisso é neutro como é neutra a flor lilás que estava na minha frente pra ser fotografada. quando eu paro pra pensar, as coisas são neutras. coisas que eu posso chamar de coisas porque são itens na minha lista de planos, achados e perdidos... ai, como eu não ligo. eu não ligo e não ligo, mas as coisas aparecem na vida assim, neutras e então eu queria não ter que pensar nelas. mas eu penso...

23.5.07

uma canção de amor...

Peguei o filme porque uma linda amiga minha que tem trinta e cinco anos a mais de vida do que eu, disse que eu o entenderia. Disse mais coisas também. Uma delas que a atriz principal era a Scarlett Johansson. Outra delas que era um filme sobre viver... Viver no sentido mais casto da palavra. Viver porque te encurralaram ou viver porque você se encurralou. Viver? É... ela só disse pra eu ver o filme e mais uma vez a obediente Alice que às vezes é em correntes, às vezes é cooper e às vezes é quase Silverstone foi até a locadora pegar o tal do filme... O nome já é gostoso. Uma canção para Bobby Long. Em inglês é ainda melhor, A Love song for Bobby Long. Até rima e rima bonito. O filme começa mais colorido que Frida Kahlo só que de um jeito estranho. É blue, porque é blues. Porque é New Orleans com cara de Old New Orleans. Tem cheiro de mato no filme inteiro, mas no começo eu senti forte, logo nos primeiros segundos. Dona Scarlett, com aqueles lábios escarlates, não imaginava que o filme seria tão gostoso de ver. Ela tem cheiro de cereja. Em pouco tempo dou de cara com o Travolta - sim, ele mesmo dos embalos - completamente caquético sem estar velho e com cheiro de álcool da mesma forma que o filme tem cheiro de mato. Tem também um tal de Gabriel Macht que tem cara de alguém que eu conheço. Cara, jeito, tom de pele, voz e cheiro - que eu também senti o seu cheiro assistindo o filme - e amor por literatura como aquele alguém que eu conheço. Em alguns momentos a história até chega a me fazer acreditar naquela máxima ridícula de tão mínima que diz, "em terra de cego quem tem um olho é rei" e deixo minha caixola entender aquele mundo onde ninguém tem nada de mais e de menos e só está vivo sentindo o gostinho amargo da terra, sem esquecer das cores das flores que vivem no mato mal cuidado desse pedaço de planeta largado há tanto tempo, por tantas pessoas, tantas vezes. A música vai tocando e os diálogos vão se completando e então tá na cara que foi uma mulher que dirigiu essa tropa toda. Uma mulher que sentiu que aquela história deveria ser contada, e mais do que isso deveria ser sentida por gente que entende. Quando tudo parece ter um fim é porque o momento de escolha chegou e esses momentos nunca são glamurosos na vida real. Nunca são cheios de estardalhaço, muito menos de carinho. Ás vezes a gente tem que tirar essas coisas do nosso umbigo e fazer brotar dali o amor que a gente precisa, plantar em terreno fértil é difícil quando se tem uma única mula, dois apêndices e milhares de quilômetros pra percorrer antes de chegar na terra roxa mais próxima...
.

Só escrevi isso aqui pra encorajar quem não viu Uma canção para Bobby Long a ver... É pra gente que gosta de cheiro de mato e cereja com cores de Frida Kahlo ao fundo.

Algum voluntário?

20.5.07

o maio doce de dois mil e sete

Foram semanas como poucas as que passaram...

Passaram e vão deixar marcas expostas, traços forçados, manchas de chocolate na roupa, de lágrima no canto do olho, de cheiros variados no cabelo... sons de risadas escandalosas em cantos escuros de cafés pelas noites e dias que aprendi a ser mais minha. Eu choro porque sou muito feliz. Sou muito feliz por ligar para o meu irmão a meia-noite, só pra perguntar se ele está bem e ouvir o eu te amo mais lindo que alguém poderia ouvir. Feliz por juntar pessoas diferentes, com vidas e estilos diferentes, visões e cortes de cabelo diferentes em uma noite de sábado pra ver um filme completamente perfeito em um cinema imperfeito com banheiros que ficam muito longe da sala de exibição...

Feliz porque eu sinto falta de gente que já não pode mais ficar longe de mim... Teria um ataque!

Feliz porque ouço mulheres coloridas me ensinando a ver coisas que estão na minha cara!
Feliz porque existe amor e carinho sinceros em cada pessoa que me olha nos olhos quando fala comigo... Feliz porque eu choro quando quero chorar e isso acontece com frequência. Feliz porque tem vezes que a tristeza toma conta de mim e não larga...

Foi uma semana como poucas e queria agradecer a tudo que faz da minha vida essa história tão romântica, regada a café e sorrisos deliciosos, moldurada a olhos de todos as cores e formatos. Queria saber quem pode ser essa força tão caridosa, em algum lugar desse universo que me dá pessoas que vem de outras terras e que me encontram sem saber que estão encontrando o bichinho mais perdido do planeta! Quero presentear essa força, brindar de um jeito que seja inesquecível.

Queria adiar o logo mais... Queria prolongar o pra sempre.

Queria fazer tudo aquilo que todo mundo faz pra tentar manter viva a chama. Essa chama que é feita de qualquer coisa que não tem fórmula pra acertar e que raramente te pega de jeito, na hora certa - ou errada mesmo - e acabada dando chão pro seus pézinhos cheios de incertezas. Sou tão feliz por crianças prontas para ouvir. Sou feliz porque elas enfim são todas feitas de todo o brilho que eu queria rever todos os dias, todos os minutos e por todo o eterno verão sem fim desse coração gigante que não cabe no peito.

Ah... Sou feliz porque posso confessar: MEU CORAÇÃO NÃO CABE NO PEITO!

E sou feliz por tantos nomes que invadem o meu! Por tantas vozes que complementam a minha! Por tantas exclamações presentes nesse texto! Por tantas vidas que ainda vou ter que viver pra aprender a dizer sem medo algum que eu sou feliz. Você sabe quem sou? Força misteriosa que faz de tudo a minha volta essa loucura sentida que são os meus dias? Então fale meu nome! GRITE! Quero ouvir da onde você vem, vou te seguir e agradecer... Vou agradecer muito e mais um pouco! Grite meu nome pra que eu possa te encontrar! Me deixe pra que eu possa te encontrar...

18.5.07

"eu consigo te ver me lendo. você recriando as palavras enquanto as lê no papel... eu vejo."

"e é assim que eu penso o que mais poderia dar errado... eu só penso."

"porque é tão difícil pra você perguntar? achar somente aquilo que quer achar, nada de achar coisas a mais..."

"mas eu não acho, não quero..."

"não fala. você continua aí relendo as palavras e refazendo passos. continua vendo mais coisas do que deveria ver. continua escolhendo emoções e depois reinventando verbos como se verbos fossem feitos pra explicar, mas não são! eles fazem as coisas acontecerem."

"não quero verbos, quero substantivos..."

"ah... esses sim a gente cria!"

"não cria!"

"cria com tempo que de longo não tem nada. tem mãos brutas e não teme o abismo."

"será?"

"será."

17.5.07

true colors...

"I see your true colors
shining through, I see your true colors
and that's why I love you...
so don't be afraid to let them show
your true colors...
true colors are beautiful like a rainbow"

phil collins e cindy lauper... hahaha



Tem gente de todos os tipos, gente que não gosta de tipo e gente que tem todos os tipos e que é um. Tem tudo nesse mundo. Tem até realidades diferentes para as visões mais variadas do nosso caleidoscópio particular. Nosso caleidoscópio particular, tudo soa tão colorido, mas nem é.

Eu por exemplo...

Vejo o mundo em muitos tons. Quando chego a um lugar que se parece muito marrom escuro ou meio verde musgo onde as pessoas têm essas cores em volta delas, minha primeira reação é de me fechar no casco dourado que eu imagino a minha volta... as cores são todas sensações para mim e eu nunca aprendi isso em lugar algum. Também me apaixono por cores. Me apaixono por cores novas que descubro em pessoas, porque cada palavra que cada pessoa transmite tem cor e tem freqüência (óbvio, né Alice!) que mexe comigo das formas mais variadas. Recentemente descobri em uma pessoa relativamente nova nesse filme hollywoodiano que é a minha vida, que tem um tom diferente nunca antes visto de laranja. Tem uns toques azuis claros e algumas nuances de sombras de todas as formas, escuras e claras que são cativantes. Cativantes? Sim! Me cativaram desde a primeira vez que a vi. Desde a primeira vez que a senti próxima. Ela tem também uma certa nuvenzinha lilás que a contorna. É muito lindo ver essas cores nela, sentir essas cores vindo dela. Dá um jeito de me animar mesmo sem estar nem um pouco animada com nada. As cores dela se transformam com o tempo, já notei pelas suas fotos, mas durante todos os períodos de sua vida suas cores tinham o dom mágico daquela fumacinha lilás... Daquele tom de laranja que não há igual no mundo para que eu possa me expressar melhor, simplesmente tem nela. Vá lá ver nela esse tom laranja, só tem nela...

Muitas vezes o mundo em volta tá preto e branco também. Decisões traçadas com linhas firmes, contornos marcando a realidade com formas precisas, mas que ligam nossa imaginação a tudo que não faz sentido. O sentido das formas mais concretas e duras aos nossos olhos, me levam às coisas mais absurdas, aos sentimentos mais irreais, às alturas mais inalcançáveis. Ao preto e ao branco de tudo aquilo que talvez nem seja. Amo quando tudo está preto e branco. Me sinto no gabinete do Dr. Calligari e amo me sentir assim... Presa por nada porque sem cor alguma que reaja contra a cegante luz do branco e a profunda entrega do preto não há nada pra se perder... nadinha.

Hoje acordei tão apaixonada pelas cores nas pessoas. Tão apaixonada pelas pessoas (que até me enjôo de mim mesma).

15.5.07

eddie's desk...


eddie vedder, um cara simples.

será que é de hoje?

Quanto mais se vive, mais se aprende que aprender mesmo a gente não aprende, no máximo gostamos de nos espatifar e colher as asas de anjos perdidos pelas planícies e pelas serras da vida. O dia perturbado assim me dá náuseas que me empurram pra qualquer coisa que seja. Qualquer coisa que faça o tempo acelerar. Corre, maldito, corre! Não é ruim e não é bom. Também não é igual à lua vazia. É meia-boca, sabe como? Um inteiro rio e um meio cheio que se esvazia sem explicação.
.
Nessa sala tem muitas pessoas. Algumas delas são casca de se aguentar. Tem olhos de tigre, quase de lince e não enxergam nada em volta. São pálidas pra elas mesmas. Almas pálidas não vêem gente colorida. A cor em si prejudica qualquer coisa que seja viva, a vida afinal brilha e cega até aqueles que não usam a pouca visão que tem pra nada... Não é fácil ser um pouco do que sou nessa sala imensa... O ar é pouco pra tanto espaço. A gente é muito diferente de tão igual e os cabelos já não brilham mais debaixo do mesmo sol, esvoaçantes sob o efeito do mesmo vento. Ah... não tem nem mais vento.
.
Tem tanto espaço que sufoca o pouco que eu preciso.

11.5.07

ao pai do frio...

tinha um quê de suspense que ficava no ar.
.
um certo sombreado diferente em tudo que se costumava ver por ali.
"é o ar frio, deve ser..."
você respirava aquela respiração de perder o fôlego e ele, o fôlego vinha gelado renovando qualquer coisa que estivesse guardada no fundo do peito. "há de ser o frio, não tem como não ser"... os céus tinham todo o espaço do mundo e com as nuvens, dançávamos em círculo nessa fábrica de flores. éramos crianças e não éramos felizes. os pais muitas vezes não sabem muito mas alguns amam o suficiente pra compreender tudo.
.
uma das crianças encontrou uma borboleta muito colorida voando em volta das flores. a outra criança resolveu caçar pedrinhas de tamanhos e texturas diferentes, de cores diversas e de pesos variados. a terceira criança resolveu marcar o tempo que levava pra correr dali até o portão e a quarta criança decidiu não brincar. queria ver tudo com seus olhos de águia filhote, com seu coração de mãe ainda por ser. os pais às vezes não sabem muito mas alguns amam o suficiente pra compreender tudo.
.
assim o tempo passou, ou melhor o tempo passou assim, baixinho com cores fortes e cheiros de flor de lis e redemoinhos de girassol. o peito ainda transbordava de tanta coisa que renovou por respirar todo aquele ar frio.
.
"aquele é um país de sonho... tem que ser!"
.
as crianças, ao cair da tarde, ficaram todas juntinhas, em círculo, esperando alguém para buscá-las. os pais muitas vezes não sabem muito mas alguns amam o suficiente pra compreender tudo. quando a primeira estrela apareceu no céu o papai chegou. ele tinha aquele ar de inverno cinza e elegante em volta dele "tem até o chapéu!"... pegou as crianças pelas mãos e nenhuma falou se quer um ai. pareciam estarrecidos com a visão de inverno daquele homem e com o seu sorriso gostoso, com suas mãos grandes e fortes. morenas e cheias de pintinhas. mãos de biscoitos de caramelo com gotas de chocolate. ao saírem do encanto do dia de sol para entrarem no inverno de uma noite de estrelas as crianças aprenderam a ser mais do que gente é, aprenderam a sorrir com as mãos e cuidar do jardim um do outro.

10.5.07

it's been in my mind...


"Daydream delusion.
Limousine Eyelash.
Oh, baby with your pretty face
Drop a tear in my wineglass.
Look at those big eyes
See what you mean to me.
Sweet cakes and milkshakes.
I am a delusioned angel.
I am a fantasy parade.
I want you to know what I think
Don't want you to guess anymore
You have no idea where I came from.
We have no idea where we're going
Launched in life
Like branches in the river.
Flowing downstream
Caught in the current.
I'll carry you.
You'll carry me.
That's how it could be.
Don't you know me?
.
Don't you know me by now?"
.
.
.
poema para Celine e Jesse em Before Sunrise...


8.5.07

Uma lembrança para Josh - parte final?

Olá minha gente, esse é o fim da minha pequena fábula. O "conto" se chama "Uma lembrança para Josh" e organizei os capítulos pra quem quiser ler tudo junto.

Primeira parte


Segunda parte


Terceira parte


Quarta parte


Essa aqui é a quinta e última parte. Não dá pra prolongar muito certas coisas...


Enjoy it!


***

Uma lembrança para Josh - Parte Final e curta

Você pode não se lembrar, mas eu sim. Era uma manhã que parecia uma manhã de dois dias antes, uma manhã com toque de veludo e cetim, uma manhã nossa. Enquanto tinha você nos meus braços não queria muita coisa, queria tempo, mas se me perdesse para pedir por tempo perderia você. O seu celular tocou e era um toque tão contido que não tive coragem de me mexer, era até bom de ouvir, bom de sentir que você não se importava e o deixaria brilhando e repetindo o mesmo som por um bom tempo até a hora que fosse. Você queria estar ali. Tinha que voltar pra casa e você tinha que voltar para a sua vida. Depois de algum tempo, quando o céu já estava azul, seus olhos se voltaram para os meus e eu tive medo deles, do que eles queriam me dizer, medo do que você queria de mim, medo do que eu queria de você. "Você tem que ir embora hoje? Tem alguém te esperando em casa?" Seu olhar era quente. Um olhar cinza, dois olhos meio longe e perto ao mesmo tempo.

"Tem alguém me esperando sim e eu nunca falo pra onde vou."

Uma vontade invadiu, era imensa e quase maior do que eu. Eu queria ter esquecido toda a história que existiu antes de você e fazer daquele dia uma nova vida para mim, mas nada do que poderia inventar pra minha consciência ficar tranqüila, nenhuma realidade que pudesse imaginar com você sendo ator principal poderia ser levada a sério. O tempo estava passando depressa e nós tínhamos que ir.

“Não sei o que querer de você...”
“Não queira nada, você não pode.”
“Mas e tudo o que aconteceu foi por nada?”
“Foi por lembrança, Josh...”
“Fala meu nome de novo...”
“Josh.”

Enquanto mantínhamos toda a distância necessária para não nos envolvermos, enquanto mantínhamos toda a proximidade necessária pra não nos perdemos no que nunca teríamos de novo, vi o que não era meu na sua voz e no seu nome. Na minha voz pronunciando seu nome. Você sabia da minha vida antes de me ver? Via todas as coisas que estavam escondidas no meu silêncio? Talvez, durante todo esse tempo que vivi e até hoje nunca encontrei alguém que pudesse dizer que tive isso, essa certeza de que sabia absolutamente tudo por causa da minha ânsia por calar. Se passaram dois dias, três no máximo foi o suficiente para saber disso, Josh. E naquele instante em que o ritmo do mundo nos acompanhou eu me joguei a seu favor do jeito que gosto de me jogar, inteira e mulher e te dei tudo o que poderia te dar, uma lembrança. Não era mais do que isso e nem menos do que o mundo. Era o melhor presente de todos, te dei a única pessoa que sei ser, te dei a única realidade que soube acreditar, o único sonho bom que virou algo mais do que letra no papel ou na tela, te dei as mãos e você tomou meu corpo e cuidou de mim enquanto eu chorava no único momento que me senti inteira. Com você.

***


Estávamos com os pés enterrados na neve. Um jovem porteiro do hotel em que passamos a noite abria passagem no gelo para nós. O táxi já estava esperando por nós na rua. Você segurava a minha mão e eu fiquei preocupada com as pessoas em volta, mas queria continuar com sua mão na minha. Nós entramos e você bateu a porta com força.

“Pra onde, Senhores?”
“Para o aeroporto.”

Eu não conseguia falar mais nada, você tinha que fazer pelo menos isso por mim. Quando chegamos lá meu impulso foi sair do carro e pedir pra você não me acompanhar...

“Despedidas são horríveis, não vamos nos despedir, ok?”
“Você vai dar uma de Ethan Hawke em Before Sunrise? Vai me dizer que casaria comigo essa noite?”
“Vou te dizer que a gente não encontra gente especial assim todo dia... é isso que vou fazer.”

Tinha que embarcar às oito da noite, você se sentou comigo no banco de espera da companhia aérea. Que triste foi aquilo, você se lembra? A gente não se falava muito, mas ria um do outro. Você esperou comigo e não quis largar a minha mão. Às oito horas pontualmente entrei naquele avião. Dez minutos antes você tinha me pedido pra ficar e chorou. Eu não derrubei nenhuma lágrima até ver seu rosto imóvel pela janela, enquanto o piloto dava a partida.


THIS IS THE END, BEAUTIFUL FRIEND, THE END.



***


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À ALICE SALLES



6.5.07

presa por um fio essa delicada e reticente dúvida está prestes a ser desfeita em luz...
.
é difícil se refazer em sombra quando a sombra nem sempre é sinônimo de coisa boa. já foi-se o tempo que a menininha se sentia tão cheia de vida em suas noites de domingo, ela não assiste mais seus pais pintando a vida como um seriado bom, com cheiro de macarronada e molho de tomate... ela não canta mais ouvindo a vitrola velha do seu pai. ela não entende mais dela do que entende de todos os outros... em certos momentos ela prefere a dúvida pra ter tempo pra não correr atrás de nada. ela prefere a manhã, bem cedinho que é quando ninguém está em volta pra ela ser exatamente quem é, por completo e por inteiro. ela não tem medo de nada e espera não tão ansiosa pelo medo chegar porque assim vive por algo que teima em ser mais do que só um sonho bom...
.
ela cansou de ser ela e de sonhar em terceira pessoa.

3.5.07

ela é quieta mas nem tanto...

ela estava sozinha e cansada e precisava de alívio.
o alívio vinha com uma mão quente no peito, sobre os seios, entre os ombros que se afastavam com o calor que percebia que vinha do peso daqueles dedos feitos sobre encomenda. ela sentava no sofá, ouvindo os carros passando e bebendo mais café não porque tinha vontade, mas porque a necessidade de se ter algo nas mãos era mais forte do que ela. entre uma ventania e outra que entrava pelas janelas ela ouvia um sussurro no ouvido. vinha daquele corpo ao lado dela, daquele que não tinha tempo pra nada mas tinha tempo pra ela, daquele que não sentia muito mas pensava em tudo pra ela. ela suspirou enquanto a mão pressionava o seu peito.
.
o relógio marcava a hora e a hora marcava o tempo que não chegava.
.
ela estava impaciente, ele estava dormindo no seu ombro.
.
ela ouvia os passos na rua, as vozes febris da segunda-feira, o cheiro de mato molhado. o sol estava quente mas não tanto e o café havia deixado pequenas gotas no fundo da xícara como rastro de óleo na estrada... a estrada a chamava. o som era alto e ele continuava dormindo ao seu lado, a mão já estava cansada, escorregando pelos seus seios, pela sua barriga e para o seu colo.
.
o relógio marcava a hora e a hora marcava o tempo que não chegava.
.
ela estava impaciente mas agora estava mais calma, ele estava dormindo no seu ombro com a mão em seu colo. ela o acariciava.
.
o telefone não tocava e ela aproveitava pra ver as fotos na parede. as fotos das vidas que ela não viu passar, queria mais café mas não podia sair dali agora, era bom se sentir ausente em um mundo tão presente a sua volta, era bom e queria justamente isso. tudo a irritava porque não conseguia fazer parte do tudo mas todos a queriam por lá. ela não podia querer nada, nada e mais nada...
.
o relógio marcava a hora...