25.10.08

casual...


uma ida casual ao supermercado, as flores que ainda vivas são carregadas por humanos com caras como as caras de todos, caras quase iguais às caras que se misturadas à minha são tão como a minha como a de qualquer outro mortal. passos que contados são os mesmos, passos marcados pelos mesmos, passos retratados que pretendem o mesmo que sempre entenderam pretender. a conspiração segue adiante, uma humanidade que - diante de um precipício que parece nunca ser fundo o suficiente para botar medo - se separa do que a transforma em humanidade como água se separa do óleo. os dois não combinam. certa vez ouvi que os semelhantes não se atraem, mas a polaridade aqui é inútil, num mundo sem regras para o que convoca e cheio delas pra quem caminha. quem caminha não serve de cúmplice, serve de mágoa... serve de recreio pra quem reprova. um desespero. um passeio qualquer por um bairro qualquer que prende o ar de um qualquer que quer respirar... o tempo é curto. sacolas se debruçam sobre robôs apressados que sem contar seus passos deram dois em falso, um ao chegar e um ao partir. o som é seco, como é aquele ar e um passo em falso é um passo seguro para quem quer estar e sim, a dor é a mesma. e não é minha. os rostos poderiam ser os mesmos. as mãos, os sons e até os sonhos, mas não as certezas. o mundo é casual porque ele foi preparado para o ser. e alguém já viu qualquer coisa casual com hora marcada?

nem eu.


***