29.9.07

wish, wish on


-Supostamente você tem que deixa-lo ali, grudado na janela...
-E porque isso?
-Porque assim os seus sonhos se realizam...

Apertando os olhos ela pensou por alguns segundos no que queria... O sol brilhava forte e fazia suas pálpebras se apertarem ainda mais. Ouviram barulhos na porta e era ele chegando, o amuleto realmente havia cumprido o seu papel!

pra se ler com os dentes cerrados...

eram como de aço, como de laço a fita e o prego
o martelo, o viúvo
o troço que se carregava no pescoço
era o osso
osso pintado, de branco amarelado
como amarelado era o dente
o pente
que penteava o tubo, o cabelo do ruivo
que parava...

de repente!

de presente acertava
como o gato acerta quem passa
com seus olhos estridentes
entre ameaças e cantadas
as folhas que acabam com a graça
daquele dia sem massa
e que morre com a gente...


eu não vou perder tempo em meu tempo, eu sei o que sou. quantas vezes negando a gente se fez de vítima e se veste de santa, de freira, de puta e de doutor? eu não vou apertar o calçado no pé, arrastar a bolsa até a lua e deixar o que ninguém acredita me alcançar com um anzol e fazer dessa pouca vida muita coisa pra se perder. eu caminho. o vento agora sopra mais forte e eu caminho. o tempero tem o gosto mais forte e eu caminho. eu agora me sinto mais forte e caminho... e é bom parar e olhar, às vezes com os olhos fechados, às vezes com a pele toda aberta pra ver além das cores que moram sim, lá no fundo do cantil, no que está longe de abril, no inverno acelerado dessa terra de poucos abrigos, do choro gentil...

20.9.07

thoughtfully mindless...

sorvete de baunilha, raspas de limão por cima, cookies integrais por baixo... música com o baixo bem alto e o samba esquentando no colo, no quarto quente, nos lábios mais vermelhos, nas frases de efeito, na eterna desconfiança que morreu junto com quem não conta nos dedos quando tem que chegar a alguma conclusão. eu gosto do meu café prensado, com gostinho de banana no fundo, leite integral com muita espuma... gosto da baguete quente, com algum queijo, algum tomate e alguma erva. gosto da bebida quente junto com o lanche, gosto de lanchinhos... mas quando estou com alguém especial gosto de refeições... o tempo virou ontem e o vento soprou pro meu lado que não tem ninguém, mas talvez atrás de mim venha algum desavisado então está tudo bem. o sorvete esquentou, a garganta secou, os lábios ficaram e a língua recolheu o resto do gostinho... o sono chegou. dá dó e dor no umbigo ter tanta vida assim pra se dar, acho que vou dormir... ele acabou de tocar a música que eu secretamente pedi pra ele tocar. o sono tá matando e cortando os dedos das mãos, esquecendo de acalmar as pupilas. gosto da cor que meus olhos ficam quando olham nos dele e da marcha ré. mas amo mais ainda acelerar pra quinta em auto estrada rumo a qualquer lugar...


18.9.07

lessons from the road...


pra quem quer conhecer o mundo,
precisa conhecer bem as cores dos seus sonhos...

14.9.07

manda seu corpo desmembrar...

parece tarde em são paulo.


toca maria rita no som do café, não sei como, eu canto junto - no mesmo tom porque eu sei cantar ainda mais em português... em brasileiro.
parece tarde em são paulo e dói igual como doía lá.
como dói aqui, quando eu pegava um ônibus qualquer na paulista.
como quando eu pegava meu carro e colocava a frente do som e de repente ouvia a voz de alguém que me amava de longe.
deus! parece de tarde, fim de tarde em são paulo.
na rua, os carros, são iguais.
aqui dentro as dúvidas, também.
no gosto na língua tem algo de diferente
e nos olhos algo de igual, a lágrima pesada.
igual em são paulo.
uma ciranda que não para de rodar e eu sei, de algum jeito eu sei bem que não vai parar tão cedo e eu em uma tarde assim, em são paulo - algum dia perdido - pedi pra não me sentir mais assim.
essa paz não tem voz então é medo, eu sei disso desde quando a música tocou pela primeira vez, eu tinha uns catorze anos... ah, eu sei... parece uma tarde dos meus catorze anos em são paulo. parece... o que eu disse? uma tarde cinza, quente, dura, vazia, musical e triste de são paulo. uma tarde quieta cheia de barulho, áspera e sentida que não está em são paulo. que não está e não tem vida, está morta e canta...

"pelo amor de deus, não vê que isso é pecado desprezar quem lhe quer bem? não vê que deus até fica zangando vendo alguém abandonado? pelo amor de deus..."


boa noite, ela disse

manoel disse que ser de qualquer um não faz mais o jogo de ninguém, e que ninguém mais quer o pé sujo na porta de casa, porque a casa já tá desfigurada de tanta roupa mal lavada! o mar vai virar sertão e o sertão vai virar mar enquanto eu tento pensar em mil coisas novas pra me entreter e tirar de mim essa dor do saber... se sei ou não, realmente não é problema do mundo.



boa noite,
senhoras, senhores
e idosas
crianças do meu brasil.


vaidade ao pé da câmera...

ela cançou de coçar, cansou de esperar a hora passar
a terra que se movia debaixo dos seus pés
não estava embaixo, ou em cima ou do lado, estava dentro do estômago, dos olhos e do cabelo embaraçado, molhado e relutante... estava pensante.
ela tinha quatro jogos
de quatro planos, de quatro enganos diferentes....
ela tinha dentes, pra quem dentes resistentes não insistentes, ela tinha sementes.
era disso que ela precisava
quando menos esperava, lá estava. ela estava.
e quando o tempo a tinha
a guardava com manias,
com mordidas no pescoço
com mais do que carícias porque ela merecia
mais do que queria,
ela era tudo isso que parecia ser e era mais...
mais e mais
menos do que jamais seria,
aceitaria tudo do jeito que viria...

13.9.07

era uma vez num lugar qualquer... PARTE II

o sino tocou. .

era mais um prato pra ser levado a mais uma mesa. ao dar alguns passos fora da cozinha ela se lembrou que aquele era o número da mesa dele. o prato foi co
locado com cuidado sobre a mesa, antes de sair ela perguntou se ele precisava de mais alguma coisa, e a resposta veio depois de alguns instantes de profunda meditação sobre comida que estava a sua frente... "-não, está tudo ótimo! obrigado". ela sorriu e partiu... não haveria nada que a fizesse ficar mais tempo ali ao lado dele, é claro... o dia passou rápido e logo era hora dela ir embora. pegou sua bolsa no escritório, guardou seu avental e saiu dando tchau para os seus colegas. quando ia passar pela porta percebeu que ele ainda estava sentado, fumando quieto, olhando para o nada perdido em algum pensamento distante. a garota parou por alguns instantes segurando a porta tentando inventar alguma desculpa pra falar com ele! foi inútil, nada aparecia... era como um enigma, um quebra-cabeça. porque justamente ele, aquele que a fez cantarolar suas músicas desde os seus tenros oito aninhos até os dias de hoje, estava a sua frente e ela não conseguia pensar em nada interessante para fazer com que ele a notasse? com um forte suspiro e os olhos levemente marejados, ela abriu completamente a porta, esperando uma idosa senhora entrar e saiu, não olhando na direção da mesa onde ele estava sentado. ao dar às costas ao café ela ouviu aquela voz familiar... "-ei, garota!", parou assustada na calçada e virou dando de cara com ele de pé a sua frente, um pouco mais alto que ela, um pouco mais próximo dela...
"-eu?"
"-sim... você pode me ajudar com uma coisa?"
"-depende! mas se eu puder..."
"-acho que pode, você parece ter um bom gosto!"
"-haha, bom gosto? acho que tenho, eu gosto da sua música!"
"-viu?"
"-é..."
"-então, pra onde você está indo?"
"-vou descer a franklin, preciso ir até o mercado lá embaixo."

"-posso andar com você? é muito estranho?"

"-não é estranho! pode sim..."
.

eles caminharam e ele contou a ela para que precisava de sua ajuda.
. . .


... CONTINUA...

12.9.07

era uma vez num lugar qualquer...

e então ele entrou quieto, sem causar nenhum alvoroço entre os habituais visitantes daquele café bem conhecido do bairro. fazia um bom tempo que ele não passava por aqui, teria sido naquele posto da esquina que ele trabalhou há alguns bons anos atrás? ele não se lembrava. por um minuto parou pra apertar bem os olhos antes de esquecer do que estava pensando e continuar sua busca por uma caixa registradora. ele precisava comer algo. o calor estava infernal aquela tarde, por volta dos trinta e dois graus centígrados mas sua camisa com estampas de xadrez teimavam em não deixá-lo por nenhum minuto se quer. continuou caminhando e parou quietinho atrás da última pessoa na fila. não demorou muito até chegar sua vez. olhou um pouco confuso pro rapaz que o perguntou o que poderia fazer por ele e ironica, porém educadamente respondeu "-nada!" . deram algumas risadas e a garota que trazia os pratos sujos das mesas que ficavam na parte de trás do café reconheceu o som... eram invitáveis os olhos arregalados buscando a figura dele. assim que terminou o seu pedido, pagou com algumas notas amassadas que estavam no bolso da sua calça, pegou o número que ficaria na mesa pra ser mais fácil o garçom o encontrar com o seu prato e seguiu a buscar uma mesa lá foram onde pudesse fumar. o rapaz da caixa registradora puxou o braço da menina que havia notado a presença dele ali e falou baixinho no seu ouvido: "você viu quem está aqui né? pacto com quem que você fez pra acontecer isso, hein?". ela prontamente pegou um cinzeiro nas prateleiras do fundo e levou até a mesa que ele havia escolhido pra se sentar. ao chegar com o cinzeiro a sua frente ele havia acabado de acender o cigarro, sorriu, tirou o cigarro da boca e disse em um tom quase inaudível de tão suave: "na hora certa!". enquanto ia e vinha ela o observava esperando pela hora em que teria que trazer seu prato até a mesa onde se sentava, ele continuava calmamente fumando quieto enquanto esperava, sussurrando algo entre um trago e outro, as pernas cruzadas, o olhar distante...


...CONTINUA...

Hold on, take a deep breath, it's a long road...

é bola que vejo.
no céu atrás do prédio que esconde as árvores ali de trás.
é o palco agora que vejo.
mesmo que travestido de ponte, rabiscada e quebrada, mais suja que limpa com o cheiro forte do córrego lá de baixo.
é bola que vejo.
no freio do tio que passa azulado, debaixo do fio que é de cá do lado, o trem que não vem...
é bola que vejo.
nos olhos arregaçados
olhando pra mim.
nos olhos de medo
que temem por quem
tem medo de mim.
nos terremotos rendidos alguém contou uma história e nela eu só via a bola.
a bola, é ela a única que vejo.
e na bola eu via a única vontade que tinha...

7.9.07

reflexo do bode


baixei um cd dos mutantes, mas esqueci que o programa que tenho pra ler o arquivo expirou. os dedos estão grudentos depois do café que eu tomei e que sujou a mesa onde está o computador. o cheiro de fritura me enjoa e a rua está quase vazia, mais vazia do que deveria - it's friday, friday night, hon... eu sinto coisas que talvez não existem e vejo coisas que talvez não deveria, eu sei... mais do que o céu escuro eu tenho todo o tempo do mundo e cansei de saber mais do que abraçar aquilo tudo que sei... acho bermudão e camiseta preta lindos de morrer ainda mais nele, os cabelos compridos e os olhos verdes magníficos. acho que a música é ótima e que o abraço foi feito pra mim... acho as mãos tão perfeitas que envolvem as minhas como jamais foram envolvidas. acho tudo isso e mais um pouco, acho tudo isso um pouco pra não ter que achar nada, no fim.

***

6.9.07

a minha cidade


a minha cidade tem ruas tortas, línguas presas e dentes faltando
em cada esquina tem um poste

em cada poste tem uma lâmpada quebrada
e atrás vem correndo um gato, um cachorro e uma cadela desvairada.

na minha cidade tem uma dor
que dói em mim com mais força

quando penso nela a distância.

na minha cidade tem um cheiro
que é forte e que não é tempero
nos olhos dos outros nem nos meus...

na minha cidade tem um tempo
que é duro pra quem é mole

tem jeito de gente grande
mas é criança e tem corte no dedo pé,
que vem enfaixado há semanas...

na minha cidade tem um choro que só ouvi lá
e que é meu também

que corta os ouvidos
os olhos e os sentidos
que me entrelaça em canto,
de canto e no canto,
na pele mais calejada e nos ossos a mostra,
no vento que levanta uma poeira que nunca mais vi
e que ainda está em alguns pedaços de mim,

respirando comigo,
vivendo comigo

essa espera sem fim.




*fotografia por Leonardo Wen

notícias da terra do nunca


roupa que cheira a cheiro de quem tem boca que gosta da boca que mora em mim e que se alimenta de quem não tem mais o que querer... é simples. as luzes estão ainda a toda, as perucas e os moicanos ainda dançam pelas ruas e os carros ainda tem hora pra sair da onde estacionaram. o tema é sempre um só porque é sempre uma coisa só quando se está com quem se é só por ser. o café é diferente, mas também quem teve a infeliz idéia de vir até aqui? é só pra estar, mais um pouquinho, com quem quer estar... eu olho tudo e tudo me faz assim sorridente. me pergunto se eles também me vêem como me vejo agora, e percebo nos olhos deles o sorriso rasgado que está nos meus, enquanto ainda agradeço por não ter que passar minhas noites tristes em algum lugar perdido em qualquer canto contido desse lugar colorido, desse sol mais amarelado que em qualquer outro lugar. da gargalhada veio o abrigo e do nada o beijo que aquietou tudo.
.
e o tudo virou roda gigante e entendi o que estava acontecendo...
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do beijo quieto veio o suspiro e de surpresa veio o encanto de quem tanto parecia estranho e no entanto tão querido e familiar... foram quatro, cinco, seis dias de palavras e de sonhos e de mais um pouco de indecisão, mas quando a gente menos espera o gostoso vira prato cheio pra quem tava com a barriga vazia e a pele transbordando de cheiros e conchas, de suspiros feitos de nuvens prontos pra virar sabão... . . .
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a sirene toca e todos tapam os ouvidos.

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.

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aqui é assim, emoções ensurdecem os ouvidos mais atentos...
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..