29.8.07

***

ela tinha uma pressa danada, o sol não tinha hora pra se por... o resto do mundo sim.

estava parada, quieta num canto ouvindo a sua respiração. tinha pequenos pontos nos ombros que doíam, o cansaço não existia, o peito pesava estranho... ela conhecia esse peso. era aquela dor do passado não aproveitado, sabe? um gosto que ela não conhecia mais reconhecia...

um cheio meio vazio que ela notou no copo manchado na mão dele.

no rádio do café começou a tocar a música que a fazia lembrar dele, sim! era verdade...

porque essas coisas acontecem assim? - ela pensou.

porque acontecem - ela mesma respondeu.

os fios de cabelo escuros faziam ondas com o brilho do sol, só que era noite. as memórias estavam vivas na cabeça dela. ela riu sozinha, memória viva? viva o que? vida... do que? caiu em si de que cair em si não é uma coisa tão difícil, ela se cansou de fazer isso toda hora.

o ar em volta tinha cheiro de óleo e suor de cavalo...

que cheiro enjoativo - ela pensava.



que tempo enjoativo - ela esperava.


***


28.8.07

tá querendo acabar comigo?


it sucks, man!


estava eu sentadinha descansando do meu dia de trabalho, enquanto uma revista chamava a minha atenção na vitrine... era um dorso. um corpo, um desenho de um tronco e tinha algo por trás da capa principal, claro! só podia ser aquela resvista maledeta, a FLAUNT que tem um jeito cool de ser pra tudo... até demais por sinal! as melhores fotos estão sempre lá e eu queria ser a fotógrafa de todas! resolvi sair da cadeirinha e andar até a dita pra espiar e não é que dei de cara com o Josh Hartnett atrás da capa estranha/louca/linda do novo número da revista? deus! pra que isso, hein!?
me deu uma vontade de rever aquela minha "histórinha" com ele... ai ai ai...

perfeito!

agora só falta a corda pra amarrar no meu pescoço - pra eu deixar de ser besta!


27.8.07

again


eu li em algum lugar que a gente tem que aprender a viver tudo de novo, cada dia que passa...

não! eu não li em algum lugar, eu li no blog da JT LeRoy!

no dia em que isso não for verdade talvez seja uma tristeza ter que acordar, sentir o cheiro da manhã e fazer tudo que a gente faz pra continuar por aqui... certas batalhas são diárias e certas coisas acontecem só porque a gente no fundo pensou que seria assim... o balão que se forma sobre a nossa cabeça com essas coisas chamadas desejos, às vezes são tão densas que se encharcam de delírio, fazendo com que o mundo pareça uma terra quente demais pra certas verdades.

quando eu li aquilo, que a gente precisa aprender a viver tudo de novo cada dia que passa, eu fiz que sim com a cabeça, apoiei as costas contra a parede e olhei pro teto pra não ter que deixar os olhos molhados continuarem com o seu lamento, porque no fundo eu estava feliz em ouvir aquilo. cada dia é uma chance a mais...

uma chance a mais pra uma dor de menos.


24.8.07

"do you feel the breeze?"


ela tinha um desejo desgraçado. passava os dias desejando e todas as ruas falavam alto pra ela ficar quieta! o som era nítido... "quieta... quieta", era o que ela ouvia. "quieta" era tudo o que ela precisava ser... junto do sol amarelado vieram os encontros distantes, deles os mais chegados até se criar um mundo de flores e pedras, de riachos doces... em um dia era tudo certo, em dois era tudo irreal e em uma semana eram duas mãos cheias de cortes e eles não eram discretos... como ela os esconderia? o mundo não podia ficar na espera de algo que não cabia em sua mala de mão, ela não poderia esperar mais do que o máximo que conseguia. e os dias passavam enquanto ela se perguntava até quando ia ficar esperando, a resposta não veio. o conseguia ficou lá no passado mesmo e as ruas ainda gritavam "quieta... quieta" sem parar...


22.8.07

cultura do "quem odeia mais quem"


WHAAAAACK MEEEEE! HAH!
Reconheceu quem é o imbecil da foto?


olhe de perto... killer.

paciência que sempre me falhou...


em volta, dos lados, mais ali na frente e no canto... todo mundo querendo algo. tentando tirar do que existe de mais íntimo o que pode existir de mais familiar pra mais um monte de gentes. é um lugar estranho, com um tom árido à luz do dia, com uma brisa seca e dura. é um lugar de loucuras onde os pensamentos caminham por labirintos estreitos e nem sempre chegam a algum lugar. você encontra pedaços de sonhos nos arbustos amarelados nas calçadas. no céu sempre azul, balões vazios... são os corações de quem não cansa de esperar... quem não cansa de esperar vira pó ou vira estrela, de qualquer maneira pode vir a se queimar e largar de lado o que é genuíno... o que é real. nem tudo que se vê é assim mesmo mas o que parece nunca é e o que é tá escondido e se você olhar com calma, consegue distinguir... como tenho aprendido a ter calma...



ah... isso! isso não tem preço.




*foto tirada por minzinha, na Vine com a Sunset em Los Angeles


19.8.07

flamingo

ela tinha dez unhas afiadas, cantavam agudo na terra do nunca...

os sapatos, dizia o que gostava do baixo, faziam sons interessantes - algo que ele talvez quisesse usar em alguma nova música. enquanto davam os exatos quatro dólares e cinquenta e sete centavos ao coreano que não vendia fiado, o que gostava das teclas brancas e pretas e do peso de suas mãos no piano, observava quieto e de lado - pra não dar na cara - os olhos dela que sorriam pra ele.

ela era diferente e por isso o que gostava do baixo perguntou denovo da onde ela vinha...

-nossa! você conseguiu ser o melhor de todas as culturas!

ela nunca tinha ouvido isso e aceitou como um elogio. o que gostava das teclas pesadas continuava olhando e pensando quieto... o tempo que havia passado era longo, mas a sensação era a mesma dos dois minutos que de tão bons tinham que ser eternos, mas nunca eram o suficiente.

ela andou de volta pro lugar que não lhe fazia feliz mas que era temporário e esperou que aquele que gostava das teclas brancas e pretas, gostasse dela também.

(mas quietinha, porque até as corujas da terra do nunca observavam a moça das unhas afiadas descendo as ruas, serena e querendo só um pouquinho mais...)

13.8.07

toyon days... or is it California Poppy?


a noite demorou pra chegar, mas finalmente abraçou essa terra quente e seca. a trégua, mesmo assim, não veio como em um piscar de olhos...

você esperava o tempo passar enquanto eu também esperava, desejando ver no visor colorido do celular o seu nome piscando... esses tempos modernos são assim como uma coisa inexplicável, um arranhão no teto que foi parar ali, não sei nem como.
quando você chegou as sobrancelhas estavam pesadas, os ombros curvados e a voz rouca... quando você chegou o abafado já não me parecia tão ruim enquanto as calçadas e as pessoas viravam sombras e nuances, entre uma gargalhada e outra, entre uma gafe e outra, entre um leve exibicionismo e uma inocente vontade de ficar perto demais...

naquela esquina onde o poste de luz parece de filme, gene kelly ficaria orgulhoso. você fazia o mesmo que ele só que sobre quatro rodinhas e uma prancha... enquanto ouvíamos o poeta senil vender seu anúncio no jornal do vagabundo, eu senti o peso dos seus olhos sobre o meu rosto, prestando atenção nos meus lábios que repetiam o que nosso jornaleiro declamava... os seus olhos me olhavam como se eu não soubesse que estavam ali, como se eu simplesmente existisse pra você olhar assim, quando está cansado demais de ser do mundo... e eu não me importo.

estar aqui com você é afinal, como ser alguém que nunca fui e ao mesmo tempo sempre tive de ser... agora sim é fácil.

fácil, fácil como se fosse natural...


12.8.07

poeminha pra flor...

eu tenho que te contar do cheiro
do gosto do beijo
do sol que cega o sorriso, da coruja quieta observando
os dois conversando em tom de alívio...
preciso te contar do barulho do skate
das rodinhas no cimento,
da música de fundo, do bilhete do cinema....

do mundo!


preciso te contar das tendas

dos óculos e das marcas,
da água,
da mensagem atrasada...

das cantadas engraçadas...


preciso te contar do susto

do soluço
do tempo
que passou faz tempo

e faz só alguns segundos...

9.8.07

as grandes pessoas da história tiveram a sua história confundida com a do tempo... o mundo afinal é um lugar muito, muito escuro, mas quando é claro, é todo e é todo da gente. alguém me disse que tudo que é meu, seria meu com um esforço de quem não pensa em si, mas no incomum. sou feliz se faço alguém feliz e quanto mais ouço que preciso fazer algo por mim, mais dói aqui dentro... uma caverna ácida, escura e com as paredes porosas, um verde musgo irritante... é assim que é aqui dentro se for só pra mim...



mas não sei porque, por onde passo encontro olhos cheios de vontade de olhar nos meus.



7.8.07

agora tem sentido, todos os sentidos.

estou na cidade dos anjos...


entendo agora o que ele quis dizer com a música. começou com um poema, muito íntimo, muito dele... quando ele abriu a boca e deixou as palavras saírem os olhos se encheram rapidinho, como se não soubesse o que o atingiu. todos a sua volta o observaram e quietos fizeram uma melodia que explicasse com som o que ele explicou com caneta e papel... ai, anthony, thanks for that.


***




(parte de Under the Bridge dos Peppers)
Sometimes I feel like I don't have a partner
Sometimes I feel like my only friend
Is the city I live in, the city of angels
Lonely as I am, together we cry...

I drive on her streets 'cause she's my companion
I walk through her hills 'cause she knows who I am
She sees my good deeds and she kisses me windy
I never worry, now that is a lie.

Well, I don't ever want to feel like I did that day
Take me to the place I love, take me all the way
I don't ever want to feel like I did that day
Take me to the place I love, take me all the way...

It's hard to believe that there's nobody out there
It's hard to believe that I'm all alone
At least I have her love, the city she loves me
Lonely as I am, together we cry.

but here I stay...

a MINHA prece


que a saudade não mate o que tem por vir, que a vida não aniquile a saudade que alimenta. que o pouco que se tem seja menos do que o pouco que se sabe, que a certeza seja no fim pura linha fina de intuição, caindo sobre os olhos, sobre os cílios grossos e longos que contornam meus olhos castanhos. que a hora não passe do jeito que passa pra quem não quer passar, que as ruas sejam amigas como na canção diz, a única que vê minhas boas ações e que deixa passar as más... que o certo não seja errado quando o que é bom abraça o meu peito. que os sorrisos sejam verdadeiros, que o "don't leave us" seja brega e lindo do jeito que foi. que o caderno não espalhe as folhas, só no momento em que o sol me cega enquanto ele vem no caminho. que o café nunca esfrie, que eu aprenda como faz pra ensinar alguém a sonhar, que as palavras voem, cantem, acariciem, libertem e nunca criem chagas ou pestes... que a boca e as mãos cantem junto, tudo o que você precisa é amor. que o nunca seja exatamente assim: nunca. que o sempre seja mesmo pra sempre. que o mundo gire, do jeito que ele tem que girar porque eu o respeito e quero que ele também me queira respeitar.


e que assim seja.

6.8.07

Sim! Sim! Sim!


tirado daqui.


5.8.07

Interesting Looking Women...

So why do you wanna walk home?
Because it's our destiny!


****

A tarde triste veio corroendo, veio cheia de dores que não eram dela, eram do peito dela... De tudo aquilo que havia deixado pra trás e das vidas que ela havia tocado, catando conchas e contando grãos de areia perdidos na estrada. Com a noite e as costas quebradas veio a dor querida, aquela que não escolheu dia nem hora, que escolheu sentir. Ela andou... Andou sozinha porque era assim que ela queria, achando buracos no chão... Achou cada um deles no escuro e nunca pisou em falso.


Os sorrisos e os olhos brilhantes a fizeram querer falar, na porta, logo na porta ela quis hesitar, mas dessa vez não tinha saída, só entrada. Todos perguntaram de que cor ela pintava o seu sonho, mas com tanto carinho e cuidado que ela sorriu e disse "preto e branco...", a noite dançava sua valsa lenta rumo às estrelas que ela calçava e acabou encontrando em dois pares de braços e pernas como as dela, atenção.

A atenção e a sutileza andaram de braços dados aos dela.

Narizes empinados, os das três.

Ela havia encontrado uma inocência rasgada tão linda que não podia deixar escapar...


"por que vocês vão pra casa a pé?"

"porque é nosso destino."


as calçadas brilhavam num tom alaranjado fumegante enquanto aquelas mulheres de gostos distintos e narizes empinados passavam.

4.8.07

e o que faço aqui?


E alguém me pergunta o que faço aqui.


Se são de nylon ou de puro algodão os tecidos que seguram meus sonhos no ar... Se são claros ou escuros os passos que marco na estrada. Eu digo que são meus o tempo e o vento, que se balançam num arredio veleiro nesse mar de ai meu deus, enquanto os raios esquecem dos santos e se lembram de mim. Quando peço vento o cubro com pó de giz colorido, pra enfeitar os cabelos e os sorrisos, pra sabotar sacrilégios, maremotos e companhia. Aterriso nesse plano faz de conta que de tão plano se vê além, cismada com nada, enrolada em mim mesma, a música toca e no seu ritmo eu dou um passo inteiro e outro também até chegar no horizonte e catar pedrinhas de vidro no cocar do rei...


2.8.07

What!?



picture by myself...

ai ai, já deu.

aquilo isso, isso aquilo
é só o que interessa pra quem não se interessa, se assume dono, sem querer saber.
isso isso, aquilo nisso, o nisso no aquilo que não foi nada disso.
e essa porcaria de cheiro que tem data pra sair direito
já passou do prazo da validade, está mais velho do que o inteiro e agora eu sei que nada é por acaso.

precisava aparecer na sua vida pra te jogar fora logo e implorar pra mim mesma pra ter paciência.
paciência. a santa paciência que nem meu pai tinha...

prego na porta, a porta torta, o teto claro e o claro bafo, o córrego a céu aberto, a ladainha a dois minutos do fim de tudo, fim da rua, dá pra chamar o elevador? cansou o tanto que cansou o pouco do tempo que cansou, pisou já, foi feio, desligou qualquer tempo ganho, já deu, já deu aquilo isso, isso aquilo... é só o que interessa, pega essa baboseira e nada longe que esse mar é bonito assim porque peixe que se preze não acredita em auto-piedade.

Amém.