30.11.08

peace. paz. pace. fred. frieden. שלום


Tenho ouvido muito ultimamente sobre a paz. Colegas discutindo a respeito, desconhecidos conversando desavisadamente sobre o mesmo assunto por aí, amigos me perguntando as opiniões que carrego no meu peito. Me desculpe, não sei se devo repetir o que repito mais uma vez, again, again and again. A paz é uma possibilidade. Não só como é o que o ser humano no fundo almeja, é o que o animal, em sua forma mais crua quer: paz. Cada um cuidando da sua vida, respeitando um limite que é o outro e sempre sem ter ninguém se machucando ou morrendo por nada em lugar nenhum.

Me diga... é ou não é?

A quantidade de debates que presenciei nesse ultimo mês a respeito disso não está no gibi, e as vezes que eu ouvi que NÃO, o ser humano NÃO quer a paz, foi nula. É o que você ouviu. Eu presenciei, num país IMPERIALISTA - e eles admitem que o são - que NÃO pensam que a natureza do ser humano é a de guerrear e matar, e então confusa eu pergunto sempre a mesma coisa a essas pessoas tão diferentes de mim: porque então vocês deixaram o seu país iniciar mais uma guerra sem fim?

Antes da resposta uma pausa para engolir a seco o que se está por vir.

Pronto?

Recebo sempre a mesma resposta, com frases feitas e algumas com leve alterações:


"because it was either them or us."


E a paz mais uma vez se entristece e pede ajuda a quem quer que seja, sem muitas esperanças de algum retorno, um telefonema, um email ou até uma text message... Nada. E a guerra continua e ela não pede por paz nem luta por democracia.



***


*foto Mumbai depois do ataque do dia 26 desse mes.

the harsh truth


"Either you repeat the same conventional doctrines everybody is saying, or else you say something true, and it will sound like it's from Neptune."

***

29.11.08

mais um

o moleque parava por alguns segundos prestando muita atenção ao último carro que havia passado. pensava em rodas, na utilização que elas possuem, em suas habilidades desenvolvidas a partir dela, tinha um esquema montado em sua cabeça. o ninho se formava, as pessoas falavam, a testa suava. em dias como aqueles, gostava de particiapar sozinho desse mundo curto que o acompanhava. era de uma linguagem quase antecipada, ja familiar que o mantinha vivo num mundo externo qualquer em que estava semi-presente todos os dias. ele falhava ao tentar e deixava por ser assim mesmo. afinal, o mundo era uma grande e frustrada tentativa de qualquer coisa que nunca deu certo, certo?

mais um.

***

"If you don't want it, we'll take it;
if you don't want to give it to us, we keep walking by.
Keep going, we're not tired.
Got plenty of places to go, lots of homes we ain't been to yet.
West side, southwest side, middle-east, rich house, dog house, outhouse, old folks house,
House for unwed mothers, halfway homes, catacombs, twilight zones.


Looking for techniques, turntables to gramophones.


So take a last lick of your ice cream cone.
And lock up what you still want to own.


But please be kind.
And don't rewind.


All of your pretty, your pretty little rags and bones."

***


por mais que...

Ele vinha chutando pedras pelo caminho. Andava algumas quadras, parava observando o que tinha ao seu redor e deixava a mochila que já vinha arrebentada desde quando saiu pelo portão, largada pelo chão mesmo onde encontrava qualquer graveto que o interessava. Ao se inclinar para buscar qualquer coisa uma gota deslizava de sua fronte que já vinha húmida desde a briga no colégio. O dia era livre, era o que pensava, catava o graveto e mexia no sangue que quase secava no asfalto, tentava ter algum de volta para se olhar, tinha tempo. Ao se levantar passava uma de suas mãos imundas pelo rosto procurando mais algum arranhão ou algo que doesse. Os dedos marcavam a pele, o tingindo de qualquer cor sem cor que não pertencia ao seu conjunto. Se acalmava enquanto isso e como se o mundo tivesse pressa de acabar, carregava de volta a mochila nas costas frágeis. Voltava a caminhar chutando pedras pelo caminho.


quer um novo herói?


peça a ajuda dela e clique na foto pra ouvi-la.

agree, sister


slavery has never been abolished from America's way of thinking.

***

27.11.08

talk about the passion

"Empty prayer, empty mouths, talk about the passion,
Not everyone can carry the weight of the world."
R.E.M.

Ele rangia os dentes, algo como que uma ideia passava por sua cabeça. Era um frio vazio que o alimentava. Ela pairava à sua sombra, penando para não ser apenas mais uma.

Era um dia escuro lá fora e seria de um tom infernal se essa história fosse sobre qualquer outro que vivesse por ali, não para os dois. Ele permeava em sons quase primitivos qualquer fosse pensamentos em tons variantes de verde, ela os
pinçava e os adornava com terríveis realces de cores incríveis. Eles se entendiam num silêncio que também pareceria infernal, mas nesse caso apenas preparavam o território. Algo sairia dali. No peito, uma paixão e apenas ela era o antídoto de si própria, nas mãos as sementes do todo que as rodeava, era de se esperar nascer um quê de tédio de frente de tamanha e árdua vontade, eles fingiam bem.

Enquanto o disco rodava, sem som, ele parou para respirar.

"Suas anotações parecem que saíram do meu lápis"
"Suas palavras parecem que saíram dos meus lábios..."
"Acho bem correto isso..."
"Penso em perfeição"
"Penso em dois... talvez..."
"Um?"
"Um."

Ela o rendia. Era de incrível encanto, quase surreal, mas ele era de se espantar. Era de uma terrível certeza que a diminuía e com isso a prescindia. Toda essa vontade era viva bem antes dela a agarrar com todas as suas forças. Era apavorante e ao mesmo tempo, inteira.

***

Num pulo, um vento que forçou papéis e idéias rasgadas a se desencontrarem pela sala também desavisadamente escancarou a porta que muda mantinha-se imune até então, os passos dele cobriram o piso - e as folhas - de marcas. O tapete era grosso. Ao fechar tudo novamente e passar o cadeado em tudo, se espantou ao perceber que revivia aquela cena novamente. Parou por um segundo e se perguntou, quase que verbalmente se havia vivido aquilo antes. Ela, que se mantinha a distância catando as folhas abandonadas, respondeu num fôlego só que sim.

Ajoelhada parecia que o fazia remeter a alguma cena estridente que convivia com todos os outros pensamentos na base do seu cérebro, era algo profundo de fato. Ele caminhou até aquela quase desconhecida e colocou sua mão direita sobre seu ombro contrário, algo como uma frase se descolou de seus lábios.

"Eu já sabia..."

Espantada voltou seu rosto para o único dos mortais que restava sobre aquele mesmo tapete. Ele se ajoelhava.

"Eu também já sabia..."

Nós também já sabíamos.

***

satan's bed, by pearl jam


"I never shook Satan's hand, look see for yourself... you'd know it if I had, that shit don't come off!"


***

25.11.08

bom dia.

faz tempo que, sem rédeas, essa impaciência pairava sobre a rua. pessoas cruas corriam como quem se corre de um medo impune, porque é de fato impune o crime que se comete contra quem vive. essa terra deu frutos a custa de sangue, e é ao sangue que volta o temor por qual essas bandas passaram. eu? eu paro quieta e observo, com alguma sensação que é quase imune a qualquer coisa. eu estou a beira, do que? de qualquer coisa que seja. estou a espera que friamente se calcula através de minha ausência, eu tenho sangue de barata.

22.11.08

how i feel


"all the words are gonna bleed from me and I will think no more."

***

devaneios

A gente tem nariz, boca, peito. tudo do nosso jeito, tudo único - ou quase - permanentemente nosso até o fim das nossas vidas como conhecemos. Nós temos dentes, saliva e olhos que pesam e marcam de formas únicas, nós temos lábios que beijam com ardor específico, que babulciam palavras desumanas e que expressam sentimentos enraizados ou não. Nós temos leveza que prevalece e que as vezes envenena. Nós temos solidez que muitas vezes se desfaz em muitos e tantos números que preocupam. Nós temos qualquer coisa que chamamos de vida, não porque temos alguma escolha, mas porque foi explicado dessa forma, e ao cair da noite podemos por alguns minutos antes do sol se entregar completamente, chama-la de dor. Antes que a dor verdadeira devore a carne até o sol que pela manhã se espreguiça, procurando qualquer coisa pra agarrar... Assim o tempo passa mais rápido.

20.11.08

Vancouver - minha nova "pátria"



Bom, a partir de agora, Vancouver no estado de British Columbia no Canadá, é o primeiro lugar das Américas onde se existe centros de uso de drogas controlado. É isso que você ouviu. O cara se estiver com vontade de injetar a sua heroína sozinho, pode passar por la e pegar uma seringa nova de graça. Se prefere ficar, pode ir até uma sala, onde duas enfermeiras presentes vão assistir e prestar ajuda a esse mesmo cidadão que quer usar a sua droga em paz, não em um beco imundo por aí dividindo seringa com estranhos... Não, não acho legal usar heroína, craque, cocaina e afins, nunca nem quis! A questão é mais embaixo e também não vou entrar em discussões MORAIS porque eu não sou dessas - eu praticamente não as tenho - mas vou fazer algumas perguntas que ilustram bem a minha indignação com esse tema que sempre foi importante ao meu ver:
  • Quando que, o bem geral, a melhora da economia e o fim da guerra civil nas Américas - por causa das drogas vendidas e consumidas por pessoas que não tem nome, nem cara, nem número - serão as principais preocupações de quem nos governa?
  • Desde quando pensamentos religiosos ligados ao pecado, à dor e ao que é "imundo" sobre os olhares (im)pacientes de DEUS deve servir de base para QUALQUER governo e qualquer grupo de leis que visa trazer o ser humano a um patamar de progresso, liberdade, harmonia e bem comum?
Pois é. Me deixa louca! Que Vancouver se torne um exemplo pro resto desse continente que perdeu a graça há muito tempo atrás. Oh Vida!


E VIVA VANCOUVER!


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Soube dessa notícia aqui.

a p*rra do calor

com esse sol a queimar, como se ainda não fosse época de se congelar a alma, minha cabeça não consegue pensar no formato que eu, há algum tempo, fiz com que pensasse. "está chegando o frio, está..." e as coisas congelavam lá fora, esquentava tudo aqui dentro, mas depois desses dias que chegam a ser ridículos de puro sol e 25 graus lá fora, a vontade que tenho é de desligar o mundo! para que eu quero descer porque tá estragado já, o pobre. arrebentaram com os seus ciclos por pura e indecorosa falta de amor a ele... sim, isso me deixa pouco inspirada.

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19.11.08

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tem mais foto nova
aqui.
estou muito serelepe ultimamente...

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e qualquer coisa cobra qualquer coisa que engana. eu tenho uma pressa que não é minha, mas é. eu tenho gula que também não é o que deveria ser. eu tenho intenção. e alguém que bate à porta não sabe ser mais do que se necessita para ser menos. acho que deixei o mundo girar e ele se foi...
sem esperança alguma de voltar.

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17.11.08

qualquer coisa

Eu tenho ouvido muita coisa ultimamente, coisas que haviam sido esquecidas num tempo remoto que eu sonhava em ser uma louca revolucionaria que queimaria bandeiras em praças publicas. O Dylan (Bob, não o Thomas) disse no documentário que o Martin Scorsese fez, que era para a Joan Baez não ficar magoada com ele, pois "um homem não pode ser inteligente e estar apaixonado ao mesmo tempo". Ah... Parece que ele sussurrava de um jeito que deixava o mundo quieto depois de um principio tão exato ter sido escarrado na telinha ligada na sala... O dia era longo. Acho que Dylan sabia disso desde o começo mas fingiu esquecer, pois percebendo quão simples era a verdade e quão infeliz era o fato de ninguém mais vê-la alem dele mesmo, perdeu o tom e se engasgou na sua própria percepção. Eu me curvo a ela que, sem medo me deixou também sem palavras, ou melhor, cheia delas, somente e tão somente delas.

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16.11.08

Motivos para se deixar ser - Parte IV





"Eu queria que você ficasse para sempre."

"O seu para sempre é demais para mim"

"É o tempo de um piscar de olhos, que por fim livre pode ser do tamanho que nos quisermos..."

"Eu nunca soube me concentrar, porque, apesar do que faço, não sei pensar em nada que valha a pena se sentir antes... sou de barro..."

"Mas nunca te pedi pra ser de qualquer outro jeito"

"Nem poderia."

"Pois seja quem quer que você seja, pois te quero assim..."

Ela se aniquilava ao se encontrar no reflexo dos grandes olhos dele que, na maioria das ocasiões eram pequenos pois acanhados buscavam qualquer coisa que pudessem confiar. Com ela, ele não precisava disso. Com ela ele não precisava procurar e com uma certa duvida presente sempre se jogava contra o seu muro, que tinha de fato uma firme base. Ela era verdadeiramente um perigo para ele que, sem muito o que perder - ou pelo menos era o que pensava - esperava hesitante por uma resposta que prestasse algum alento mais otimista aos seus temores... Ele vivia cheio deles e ela era o antídoto pois se mostrava tão sem medo, apesar de esconder uma terrível verdade: tinha tanto medo quanto ele, e talvez, pensava consigo mesma, teria mais se não se portasse como se não tivesse. Os dois se seguravam obstinados como se disso dependesse suas vidas... Era o fim de um dia passado como se nunca tivesse existido. Era nítido. Enquanto os dois que se excediam em um, quietos se entre olhavam. Algo morria.

Não era o amor, não. Ele nunca existiu até aquele momento.

Era o sentimento lascivo que nutriam por suas superfícies que encontrava um meio comum quando o sol encontrava o mar. Era a imortalidade de um dentro do outro que agonizava finalmente ali, para que qualquer coisa sem nome criasse asas.



... NÃO SEI SE CONTINUA....

15.11.08


All this talk about equality. The only thing people really have in common
is that they are all going to die.

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Tertúlia Virtual - Meu Ídolo

aqui está minha participação nas tertúlias virtuais:

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assim que soube do tema, entrei em pânico. pensei em não participar dessa vez. "ídolo? que ídolo? como eu sei dividir o que é ídolo do que é de barro e a quem posso contar a que conclusão devo chegar?", não sabia ao certo responder a essas perguntas embaralhadas em uma. mas voltei ao tempo, voltei ao meu tempo e à minha estadia nessa terra que ainda foi curta e encontrei uma pessoa que, apesar dos pesares foi o primeiro tijolo dessa minha construção de ilusões e asneiras que não explicam nada nem prestam para simplificar coisa alguma, são para me servir de desentendimento, uma tal regalia besta que eu aprendi a usar como minha única e verdadeira base de tudo, minha luxúria e meu vício. inventei um ídolo de um ídolo que, muito provavelmente nunca existiu como o conhecemos. ouvi falar sobre ele pela primeira vez em uma crítica do filme Total Eclipse, que por cima contava a história libertinosa que o meu ídolo em questão vivia. arthur rimbaud era então - para mim - o nome de um autor esquecido. pois bem, fui até o poço e busquei entre a água escura que beirava à podridão uma pérola única, que de pedra não tinha nada. era quase de luz, intocável, era ele. uma pessoa que por pouco não se materializava, mas novamente me alertava que nada sairia daquele poço que fosse palpável, tudo que rendesse, renderia por mim, através de mim, dentro e envolta de mim e assim aconteceu. ele me mostrou um mundo que desconhecia. letras e palavras que dançando se cruzariam em DNAs perfeitos, holofotes de luz que perderiam seus mestres e correriam soltas por ruas inexistentes. ele me mostrou uma saída para um mundo que não permite a entrada de qualquer um. ele me mostrou que eu era um qualquer um e que por terra se derramariam todas e quaisquer condições para a minha existência. a partir do momento que o conheci, me desconheci e ganhei um presente, o maior e o mais insignificante de todos.


***


senhoras e senhores eu vos apresento meu ídolo, meu primeiro e eterno amor, Rimbaud.



14.11.08


all the truth in the world adds up to one big lie...

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definição

ela tinha uma visão reticente porem era objetiva em sua reticencia. era com extrema pratica com que lidava com a vida em suas rotineiras idas e vindas, mas não deixava se mostrar ser quem realmente era. nada familiar, não? ela não era familiar. costumava parecer que tinha um terno de gelo que a cobria no intenso inverno. era de gelo. tinha olhos congelantes a primeira vista, a segunda: apaixonantes. ela era simples e em sua ingenuidade não cabia inocência. é o que você ouviu, ela não nadava em um mar de auxilio, era do exílio comedido. em dias como esse ela se curvava quieta para catar pequenos montes de neve que caiam sobre a calcada, gostava de sentir a textura em seus dedos.


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13.11.08


pois se engana quem acha que quem é triste não vive - é que aos olhos de quem é feliz tudo que não é do colorido é ruim - tanto quanto aquele que esta sempre arrancando alegria de tudo. ser triste é de um dom impecável, quase paciente demais. o ser triste se percebeu no mundo como o ser que precisa de tempo e de humildade que é de um extremo tão medonho, que muitas vezes é mais que o todo, é o maior e melhor e o mais importante de todos, sem ninguém saber, por detrás das cortinas. se engana quem pensa que sim, ser triste é o fim de qualquer que seja um futuro, mas e se eu disser que o futuro cabe numa linha melódica que pode variar entre notas profundas, quase silenciosas e aquelas que enraivecem o maior dos perspicazes mortais? me faço por entender? e se faço aceite que viver com uma lágrima no canto do olho é de quem deve viver, mais e com maior pena por uma humanidade que insana busca pela nota perfeita. isso não existe, só se é perfeito quando se é torto, errado, sanhoso... só se é de fato quando se abdica de ser.



*foto: chet baker, on the blue side


hoje

bom, se começar o dia com o sol nascendo de um lado num céu de um alaranjado quase celestial e do outro uma lua IMENSA comendo o mundo de tão profética não for bom, eu não sei o é.

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12.11.08

debates comigo mesma sobre o nada enquanto tocava beatles


não adianta nada, brother. não adianta. não se registra nada brother, nada. não se pensa, não se come, não se vive, nao se morre, brother. não se entrega nessa espera a esperança que arranca e que nos tranca todos na mesma caixa, no mesmo fim, não se nega, brother. não se quer, não se repete, não se lê cada dia mais o sim do que o não, não se manifesta, brother. se facilita, se complica, se revitaliza o novo que é o velho com roupa que cheira a hotel e bom perfume, brother. não se nega, por mais que se negue, não se entorta, brother. eu tive um sonho, ele teve um sonho, tivemos o mesmo sonho que vive com os olhos vidrados no proprio sonho, o sonho e nosso, brother. não se espera muito pra chegar ao encanto de não se ter nada pra falar, brother. não se aguarda com ressalvas o fim. não, não brother. não se aguarda. não se guarda. não se enfie na magoa, no fim de um poço qualquer, não se permita ter pelo que se entregar. não, não brother. diga que sim.

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Um leve comentário


sobre Changeling de Clint Eastwood. Porque será que eu tenho a impressão que o velho Eastwood tem problemas para encarar os personagens e deixar que eles se mostrem vulneráveis...? Só um comentário.

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11.11.08


Tem fotos novas
aqui. É tudo uma grande besteira!

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Motivos pra se deixar ser - Parte III


O telefone tocava alto, mais alto do que o que sonhava. O desassossego havia batido à porta. Ao atender, ainda pasmado, enrolava a língua que sem muita consciência embrulhava palavras sem permissão, balbuciando algo de tal forma que fazia quem estava do outro lado não saber o que pensar a respeito. Depois de algumas trocas de qualquer sinal que fosse que o tirasse daquele estado meio morto-vivo, semi apático em que se encontrava, a voz o pareceu mais familiar. Mais inteira. E era o que era, inteira ela, a quem ele desesperadamente esperava para que por alguns poucos minutos pudesse ter mais do que tempo para trocar o que sentia. Queria a ausência dele. Era ela.

***


Enquanto tomava um banho quente, que espalhava aquele calor fino por toda a casa por causa da elevada temperatura do seu chuveiro, a porta da frente se abria calmamente. Botas surradas tocavam suas solas pelo assoalho notável daquela casa. Era realmente mais do que ela esperava ver. Os passos chegavam mais perto, mas desatento ele terminava de se vestir calmo. Ela aguardava de pé, da mesma forma que chegou parou, no meio da sala, sobre o chão maciço tão pesado quanto ela se sentia ser.

***

O cabelo ainda molhado marcava a camisa na altura dos ombros e sentindo-se enjaulado descia as escadas às pressas, na mesma urgência que pressentia que estaria perdendo tempo, e estava. Ela estava ali, muda. Casaco nas mãos, bolsa no ombro esquerdo - sempre no ombro esquerdo - olhos contornados com força, quase com brutalidade, lábios cerrados como os tinha quando se conheceram... Era uma dor e um prazer revê-la. Era um fim qualquer que não se dava conta ainda, mas sentia, era palpável, afiado. Ele sorria. Ela o encarava. Ele se movia até ela que, sem reação o observava quase fria, quase se não fosse pelo vulcão que entrara em erupção ao passar pela porta mas que se continha como gostava de achar, ele não acreditava.
Antes de chegar mais perto ele parou e disparou a olhar quem quieta estava ali, a sua frente, resumida, e se colocou a sorrir, ela hesitante perguntou "o que está a fazer?", ele sorria. Ao chegar ainda mais perto sentiu o perfume e a abraçou, prendeu os braços em volta do seu tronco forte e austero, confortante. Seu peito era o seu fim, sentia isso. Ajoelhava-se enquanto beijava seu ventre, ela então o acariciava os cabelos como uma mãe contente, mexia em suas orelhas, arranhava com delicadeza a nuca de pele fina e macia, o amava de perto então.


...CONTINUA...

10.11.08

manufatura

Estou fazendo parte do blog MANUFATURA, um local onde você encontra: A cada dia da semana um poema, um mini-conto, uma expressão para exercitar a nossa alma.


Estou participando pois fui convidada pelo amigo-blogger Victor Barone e a cada dia 9 do mês postarei algo la! Hurrah!

9.11.08

Motivos para se deixar ser - Parte II

Afiado ele respondeu a altura. Tinha pressa. E quando a chuva não da trégua? A quem eu devo correr? E era a chuva quem respondia com mais urgência sem meias palavras. Ele era urgente e gostava de quem o era junto dele. Enquanto esperava pregava a fina pele que recobria a fronte na camada grossa, quase a prova de balas do vidro de uma janela que por pouco era completamente ignorada até então. Ele observava as lágrimas na janela escorrendo, como um bom cliché. Ele era um cliché que respirava e que pedia por mais do que jamais teve: ela. Um cliché quase que sem lugar na historia, um cliché mal empenhado. O sono, ele esperava, viria mais cedo ou mais tarde mesmo que se precisasse tirar um dia para se jogar na inércia de um repouso profundo, mas viria. Ele aguardava e em silencio se perguntava se deveria se manter assim por mais tempo.

***

A manha chegou. Os pés ainda calcados sobre a mesa de centro, a TV ligada sem qualquer som, pessoas alegres e saltitantes na tela. Os olhos dele pregados ao teto como se houvesse alguma solução naquele fundo branco inteiro, uma tela pronta para ser preenchida, e ele a preenchia com imagens de qualquer coisa que poderia estar a viver agora, mas se estivesse não seria tão bom, e mesmo se o fosse não seria tão atraente...

Ele aceitava. Compreendia com um conhecimento fora de série, era um modo de se olhar a si próprio que calado caia por terra desarmando o seu próprio ser, ele se desarmava por se entender e pedia quieto por dois trechos de insanidade para se perder no que queria ter. Queria ser livre do seu discernimento. Queria ser. E ao sorrir percebendo o quanto se expunha a si mesmo fechou os olhos, sereno.

Dormia em paz pela primeira vez em dias...



...CONTINUA...

My own private Beatles III


I'm not sure if there's a point to this story, but I'm going to tell it again. So many other people try to tell the tale, not one of them knows the end... It was a junk-house in South Carolina, held a boy the age of ten along with his older brother Billy and a mother and her boyfriend who was a triple loser with some blue tattoos that were given to him when he was young, and a drunk temper that was easy to lose and thank god he didn't own a gun! Well, Billy woke up in the back of his truck, took a minute to open his eyes... he took a peep into the back of the house and found himself a big surprise. He didn't see his brother but there was his mother with her red-headed head in her hands. While the boyfriend had his gloves wrapped around an old priest trying to choke the man...

Ah Ah Ahhh...


Billy looked up from the window to the truck threw up, and had to struggle to stand. He saw that red-necked bastard with a hammer turn the priest into a shell of a man. The priest was putting up the fight of his life, but he was old and he was bound to lose... the boyfriend hit as hard as he could and knocked the priest right down to his shoes... Well, now Billy knew but never actually met the preacher lying there in the room. He heard himself say, "That must be my daddy" then he knew what he was gonna do, Billy got up enough courage, took it up and grabbed the first blunt thing he could find. It was a cold, glass bottle of milk that got delivered every morning at nine...

Ah Ah Ahhh...


Billy broke in and saw the blood on the floor, and he turned around and put the lock on the door. He looked dead into the boyfriend's eye, his mother was a ghost, too upset to cry, then he took a step toward the man on the ground, from his mouth trickled out a little audible sound. He heard the boyfriend shout, "Get out!" And Billy said, "Not till I know what this is all about", "Well, this preacher here was attacking your mama", but Billy knew just who was starting the drama. So Billy took dead aim at his face and smashed the bottle on the man who left his dad in disgrace, and the white milk dripped down with the blood, and the boyfriend fell down dead for good Right next to the preacher who was gasping for air, and Billy shouted, "Daddy, why'd you have to come back here?" His mama reached behind the sugar and honey, and pulled out an envelope filled with money, "Your daddy gave us this," she collapsed in tears, "He's been paying all the bills for years"! "Mama, let's put this body underneath the trees and put Daddy in the truck and head to Tennessee", just then, his little brother came in holding the milk man's hat and a bottle of gin singing,

La la la la, la la la la, yeah
La la la la, la la la la, yeah
La la la la, la la la la, yeah
La la la, la la la... La la la la, la la la la, yeah
La la la la, la la la la, yeah
La la la la, la la la la, yeah
La la la, la la la...
La la la la, la la la la, yeah
La la la la, la la la la, yeah
La la la la, la la la la, yeah
La la la la, la la la la, yeah

Well now you heard another side to the story but you wanna know how it ends? If you must know the truth about the tale, go and ask the milkman.

8.11.08

pra constar que...


you think not telling is the same as not lying, don't you?
then I guess not feeling is the same as not crying to you...


***

7.11.08

Motivos pra se deixar ser - Parte I

Ele tinha queimado os dedos no bule. Pela janela as crianças eram observadas de longe, por um pai um pouco ausente mas muito cheio de amor, as vozes e gargalhadas que preenchiam a casa eram de se guardar. O tempo virou. No telefone, sua mulher respondia seca e que aguardaria la fora, ele pediu que entrasse, mas a resistência era maior, algo havia morrido sem volta e ele ainda tentava compreender. Duas chamadas. Duas chamadas não atendidas. Ele logo tentaria novamente. Era um dia como qualquer outro e sem a menor sombra de duvida ele havia feito algo de errado. As crianças voltavam para dentro da casa e o jantar estava pronto.

Quase que sem querer ele parecia preocupado. Pedia ajuda, qualquer ajuda que qualquer um conseguisse dar. Os pratos e talheres se esbarravam, ele olhava inquieto, respondia com carinho mas o olhar estava distante.

Enquanto os talheres não parassem de causar alarde, ele não se acostumaria com a sensação de se esperar. Não tinha o privilegio da paciência. O peito reclamava.

Das duas uma, ou ele deveria aprender a ceder ao tempo dela, ou ela iria causar o seu fim, o fim de um começo que estava ainda por vir. Ele não queria perder o sangue frio.

Sua mulher chegou rápido, fora menos tempo do que ele esperava esperar e o sol se punha como um quadro que seria feliz se não fosse doloroso. Ele realmente precisava que ela entendesse... Mas ela não alcançava a sua falta de lógica. O tempo passava.

***

Era quatro da manha. Quatro da manha, ele pensou afiado. O telefone vibra, uma mensagem enviada às pressas. Ele calado e preso, preso num tom quase sem tréguas. Era ela, e quase conseguia ouvir sua voz através do aparelho. Eu não durmo bem e sei que você da mesma forma pena para tal... Em dias de guerra, durma com os olhos abertos - ela dizia.

Em dias de guerra, ele repetia.

Sua calma se esgotava com um trovão la fora. A chuva começava a importunar...




...CONTINUA...

5.11.08

you're given a flower, but I guess there's just no way of pleasing you...


Bom, vamos lá.

Era tarde e algumas pessoas já se perguntavam porque o mapa estava tingido de vermelho com tanta intensidade. "São os estados republicanos, não adianta". Alabama, West Virginia, Tennesee, Texas... Um daqueles lugares que você ainda pode ser morto se estiver passeando por ai de noite e se a cor da sua pele for negra... Sim. É o que você ouviu. Lentamente os lugares de onde as melhores pessoas do mundo vieram (porque realmente conheço algumas das melhores pessoas que já conheci que vieram desses lugares) como Michigan, New Jersey, Maine, New York, Illinois, Vermont, Wisconsin e Massachussets foram ficando azuiszinhos... "Era de se esperar, são sempre estados democratas". As pessoas que entravam pela porta da casa, eufóricas, tinham sorrisos de vitória presos entre os dentes, mas o olhar era aquele que sabota a própria esperança, um olhar de incerteza que diante de um fracasso que talvez não estivesse tão longe assim, poderia significar o fim de muitos sonhos. Afinal, não foi só o sonho do garoto Barack quando conquistou a cabeça dura da Michelle que se concretizou ontem à noite, foi um sonho coletivo, um pedido de muitos a qualquer santo, deus ou fé que pudesse servir de muleta num momento como aqueles. Foi uma alucinação coletiva sim, que fez com que uma pessoa que ouviu de todos os lados que era impossível, viver agora - ou melhor, depois do dia 20 de janeiro - uma vida que não é um privilégio por excelência, é uma vida de entrega e de sacrifícios. Devo confessar que quando percebi que o que realmente o elegeu foi o colégio eleitoral, me deu uma certa dor no peito. O que isso quer dizer? E porque afinal mais uma vez o povo, que é aquele que deveria ser o que pede por mudança, não conseguiu um número arrasador de votos pelo novo presidente.... foi o colégio eleitoral que eu tanto xinguei durante todo o processo de eleição. Foi esse sistema medieval que eu tanto odeio que colocou o homem que eu preferia ter no poder. Isso me de uma certa sensação de total perda de esperança, enquanto todos explodiam com cores mais fortes que as próprias cores de suas bandeiras. Partidos agora eram inúteis, estados também, mas o que eles todos que estavam naquela sala deixaram de perceber foi uma coisa bem simples e algo que o mundo já percebeu antes de qualquer americano: o que o Obama ter sido eleito significa vai alem de patriotismo, é o sentido de anti-nacionalidades e fronteiras, contra qualquer determinação de terra e cultura. Obama significa um mundo "unificado", petrificado em um único objetivo: ser. Obama significa UM que antes eram muitos e muitos contra muitos. Eu queria poder dizer a todos ali, que aquele homem cheio de garra, de uma beleza quase filosófica significava o fim da América, mas a América gritava tão alto que ninguém mais tinha voz, nem mesmo ele... mais uma vez, novamente, again brothers...

Eu amo o Barack Hussein Obama, sempre falei isso aqui, mas tenho medo de ninguém ter ouvido o que ele disse ao afirmar Yes We Can, há um ano or so atrás. Tenho medo de ninguém mais querer ouvir e continuarem a seguir suas vidas, da maneira mais anti-humana que existe, achando novamente que a "América" é a resposta para todas as dúvidas e todos os problemas existentes...

Bom, respira fundo Alice, você é uma pessimista incorrigível.


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3.11.08

"Presentim no fino da bossa"

Olha só o que o Monsieur Paulo Barbosa fez:


E ele disse que foi pra mim... ah! Então todos pensando positivo porque se o Obama não ganha eu não sei o que acontece com o mundo! Serio mesmo!

E Paulo, ta demais...


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leia tudo.


que mundo é esse em que a gente vive que, uma voz não é o suficiente para se pedir por paz? leia o que eu acabei de perguntar, leia em voz alta, de frente para o espelho. se pergunte "que mundo é esse que a gente vive que, uma voz não é suficiente para se pedir por paz?", não, pare tudo. pergunte algo diferente, ainda em voz alta: que mundo é esse que vivemos onde pedir por paz NÃO adianta? alguém pode ler isso aqui e achar pura ingenuidade, inocência, candura ou ate de uma ausência de qualquer experiência de vida passada de minha parte. pare tudo. eu pensei que ser gente era ser... humano, pronto a ouvir o outro e, utilizando todas as ferramentas que foram entregues a nos ao sermos concebidos, poderíamos enfim racionalizar, compreender, discutir e chegarmos a conclusões sensatas. não. mentiram para mim. mentiram sem do, nem piedade, nem esperança. mentiram. falharam, esses tais seres, ao imaginarem que mentindo criariam melhores cidadãos, criariam pessoas mais... sensatas, vejam vocês! e por isso agora você me lê e pensa "que criatura ingenua!", que criatura que eu fui tornar a ser. eu ainda não entendo, não se passa pela minha cabeça, minha pouca - ou muita - compreensão não codifica o não quando um único alguém pede por paz, qualquer paz que seja. chega! um tiro, uma bomba, um tapa na cara não é concebível, não é cobiçado, não esta pronto para se tornar algo aceito por quem deliberadamente entrega esse discurso a você, leitor, como quem entrega pão a um desconhecido faminto. eu sou a faminta. aquela criatura cheia de porquês mas que estaria infinitamente feliz com um sim! apenas um! será isso possível? alguém estar feliz com um sim? um por favor, você esta certa, sim, venha cá... vamos resolver tudo. lave as calcadas com o sangue que for, pavimente o solo com a dor que for, cubra as feridas com as gazes necessárias, temos todas as que precisamos logo aqui, no bolso, respire fundo, diga sim. olhe novamente naquele mesmo espelho e diga sim. mas cuide-se pois a experiência pela qual você ira passar ao dizer um simples sim será imensamente libertaria, como se regassem flores nos seus jardins, e sem nenhuma razão aparente as flores postas começassem a criar asas, não há razão! ela não existe! os céus felizmente e finalmente estariam cheios desse colorido que você jamais viveu. aprenda... aprenda a não deixar a inocência de uma simples pedinte -mesmo aquele que tem "tudo" - te tirar o tom, essa pedinte sou eu, aquela que não entende de nãos, que não entende de não se conceber um pedido tão... humano, a quem quer que seja.



"ele não parava de cantar, não parava de pedir e todos pediam com ele."



1.11.08

recadim

Tem post meu no blog da Uni-Yôga Unidade Brooklin! Siga o link.

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slowly turning...

" Who's usin' who?
What should we do?
Well you can't be a pimp
And a prostitute too"
J. White, Icky Thump


Se ligado fosse, pesado seria. Ele olha de canto do outro lado do bar. "Ei, meu querido, mande um drink pra garota tristinha ali do outro canto", o olhar de dentro não falava atento ao olhar que de fora parecia cheio de vento. O tempo, meu caro, só o tempo. A bebida veio em alguns minutos e retornada dentro de segundos. "Ela disse que não bebe senhor, e não agradeceu", enquanto meu olhar continuava distante, o seu continuou firme. Preso no que? Não sei bem ao certo... a qualquer coisa bamba, e de galho em galho ele nunca chegou em outro lugar qualquer que fosse terra, ficou no mesmo enquanto eu pescava quieta pensamentos agudos, que chegavam a driblar a inocência que eu tanto pedia pra voltar...

No dia que ela retornou à casa eu perdi o fôlego e fui a assassina da minha própria força... a vontade foi mais surda do que a intenção. Ah, não...


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