26.1.08

o passarinho voltou pra beliscar...

aqui e em tempo
o que se dobra é meio
e a metade é o inteiro
de dois
que se desfazem
no que se completam.
o intento
é tão mais, tão tenro
é o imenso
o cabelo todo
caindo no pescoço
o meio fosco
na lente da menina problema...

ó problema!

25.1.08

isso aqui, nunca vai acontecer...

e o mundo ainda não entendeu porque ele morreu...

24.1.08

ai, eu te amava tanto, pra onde você foi?


-eu disse que quando aprendesse a navegar, eu trazia você pro meu lado...
-mas você nunca me chamou!
-é porque eu ainda não aprendi!
-e você nunca mais vai ter tempo pra aprender?
-não sei... a gente não sabe nada depois que tudo acontece... fatos são pesados...
-carregam mais do que deviam...
-carregam nada, fatos são idos, inventados!
-são reais.
-não...
-onde você aprendeu isso?
-morrendo...
-pra que então? pra que tanto esforço?
-pra nada...
-nada?
-não te disse que quando aprendesse a navegar, te traria pro meu lado?
-sim...
-aprendi, pois sou só eu nesse mar e a música que toca é só minha... você não quer vir morar comigo, é uma imensidão de nada que preenche o vazio sem sentido que vivia...



é uma mecha de sonho, um arrepio preso, um soluço. em dois passos, não sei nem como foi, em um passo, talvez até dois ou três e o mundo parou. o sol soluçou, eu disse que ele soluçou? prendeu numa roda o vazio, o vazio parou e eu escorreguei, aprendi a tecer veia e céu num calabouço escuro, eu me encurralei. prendi o cinto, eu chacoalhei o véu e tudo que caiu foi mel de lábios azuis, de um corpo gelado em um banheiro escuro, de um terreno azul...


é o adeus.

adeus.

adeus, adeus, adeus...


20.1.08

ela parou ali, naquele canto que você estava observando.
parou e se concentrou na dor nas solas dos seus pés.
enquanto parava erguia de leve a barra da saia, observava as pernas, os ângulos, a pele e as meias... os pés. o material da bota, o cadarço, a cor do couro...
se esbarrou em si mesma, de cima pra baixo, escapando do telhado, caindo por baixo da terra enquanto deslizavam sons na solidão silenciosa de sempre. era um eterno sempre, e demoliam-se canções. as paredes nunca estiveram tão frias. quanto menor a tolerância, maior a entrega... e a entrega era infinita...
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ela parou ali, naquele canto que você estava observando.
parou e se concentrou na dor nas solas dos seus pés...


14.1.08

as cartas que escreveram...

meu querido Jim,
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te escrevo em meio tom porque é no meio fio que a gente sempre se encontrou...
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já olhou pra fora da sua janela? o sol está dilacerando cucas por aí, queimando solas de zés ninguéns, ralando a ponta dos dedos de quem já não os sente? corre pra fora, Jim. mas protege os olhos porque a areia do deserto os secará em minutos... está muito quente por aqui e me faz lembrar de ti.
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pois saiba que há dois meses, Mary veio chorando dizendo que você havia morrido, vê se pode! que encontraram teu corpo meio moido, meio levado por corvos, debaixo de uma árvore seca no caminho pra Mojave e que mal te reconheceram, porque seu corpo apodrecia ali fazia mais de meses... mas eu não acreditei, Jim. você sempre foi mais forte do que eu. não acreditei e por isso te escrevo, veja se me responde!mesmo que com um grito porque a gente se entende e preciso contar a Mary que o mundo é dos justos! ou ela me interna de vez.

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sabe, Papa Hoover me trouxe pra essa casa aqui no sul da California pra ver se eu me interesso nos pássaros que cantam na janela. ele me contou umas histórias estranhas, algo sobre doce de leite pingando das cascas das árvores, sobre um mundo diferente aqui nesse lugar, mas eu não vi nada disso, Jim. você acha que ele mente? você dizia que ele costumava mentir pra gente, mas eu nunca dei bola, afinal ele me adotou né? quem adota alguém e mente pra ela? não sei Jim, mas tudo isso é esquisito... talvez o Papa Hoover esteja velho e vendo coisas...

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Jim, você ainda usa aquela bandana presa no tornozelo? eu me lembro daquele dia, todos os dias. você se cortou querendo correr atrás de mim no meio do mato, mas mal conhecia o lugar! pisou bem onde não devia e eu vim te curar com a bandana que a minha falecida mãe me deu fazia tempo... você sorriu e me beijou a testa, Jim... você se lembra? espero que sim porque me lembro todos os dias.
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Jim! estão me chamando porque a hora de escrever carta acabou, eu olhei agorinha pela janela e tinha mais dois pássaros cantando pra mim, mas eles me irrtam Jim, não tem pássaros onde você está então não os quero voando por cima de mim... talvez corvos. a espera de que eu também vá te fazer companhia, onde quer que sua lata velha esteja estacionada... Jim, eu tenho que ir, não se esqueça de mim.

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de tua mulher sempre, mesmo que eterna menina
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Lindsey
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Carpinteria Mental Health Clinic
Santa Barbara County, 22 de julho de 1975.

1.1.08

meus votos

que o momento seja eterno, porque a gente é mais a gente quando tem esperança em qualquer coisa. mesmo que seja a esperança em um ano no papel, melhor, mais vivido, mais colorido e menos sofrido... temos que escolher muito bem os "idos" que colocamos em nossa lista. que seja de cor e que seja da alma aquela alegria nostálgica, os fogos de artifício abrindo caminho, os caminhos com cores e cheiros de todos os tipos, aquele angelical e florido grupo, a multidão jogando flores, pulando ondas, amarrando fitas, ouvindo a banda mais brega tocar na paulista, abraçando a mãe, o pai, o filho, pulando com o cachorro pra lá e pra cá ou que seja quieto, sentado na cama, chorando baixinho olhando a foto de alguém e pedindo um pouco mais de paciência, mas que seja! o ano que vem, é sim, só no papel. aquele papel na parede, calendário, o papel dentro da carteira, o cheque, o papel do médico, do dentista, o papel na rua marcando a data e o lugar do show, é só no papel, mas vontade, o amor e o DESEJO que temos ao pensarmos em tudo que um ano novo pode trazer, tem de ser tangível, tem de ser REAL.



acredite e faça um dois mil e oito real...