28.2.08



E se me achar esquisita, respeite também!
Até eu fui obrigada a me respeitar...

Clarice Lispector



Clarice & Alice


Hoje, peguei em um livro que mudou minha vida e que simplesmente fez com que tudo o que eu esperava do mundo virar tudo o que eu espero de mim. A primeira vez que li Aprendendo a Viver da Clarice Lispector foi quando o peguei emprestado de uma grande e linda amiga minha, Don'Ana que de tão especial me arranca suspiros sempre que penso nela...

Tenho mania de rabiscar em livros que leio, mas nesse não podia porque era dela. Hoje, rabisquei um monte. Escrevi nos cantos, coloquei observações e estrelinhas nos textos que mexiam mais comigo. Sublinhei o que falava à minha alma e imprimi na primeira página que esse era um presente de minha mãe linda, recebido no dia 27 de fevereiro de 2008.


Porque esse livro é tão especial?
Porque eram textos soltos, que Clarice Lispector escreveu quando não tinha que escrever, quando tudo que falava fluia e ela mesma já afirmou em entrevistas que era assim que ela obtinha os melhores textos, quando não precisava escrever.

Não sou muito fã de longos romances e novelas, mas sou fã de tudo que é livre, dos pequenos contos e liberdades que ela admitia como parte dela mesma e é nisso que me espelho. Encontrei no que ela sentia coisas que sinto também e nesse sentir me perco no que me faz única e tão igual a todos...
Deixo aqui mais do que uma dica, um toque de irmã: Leia Aprendendo a Viver da Clarice Lispector e você nunca mais terá que pensar duas vezes pra coisa nenhuma.



***

24.2.08

for us.


Para a versão em inglês, clique aqui.




Sou metade mulher se não sou você.
E se me deito me lembro quem você é quando carrega o eu que o tempo se esqueceu de levar.
Acho que não é só o cheiro, é o peso do corpo, a mão no pescoço, a respiração fazendo o cabelo se movimentar, os copos encaixados como um grande emaranhado de calor... acho que é o TEU calor.
São as dezenas de formas que você tem de chamar minha atenção.
São os sonhos que se casam,
a vontade que se exercita,
o peso que se esvai,
o cheio que nunca esvazia,
é você.

E alguém me diz que devo ser mais eu antes de ser nós dois,
mas eu sei
mais do que ninguém
que já era nois dois antes de te conhecer.
E que o que resta enfim é vida construida diferentemente de qualquer outra vida, é nossa argila, nosso pão, nossa tela em branco, nossa partitura ávida, nosso espaço e tempo de sermos mais do que jamais alguém poderia ser com alguém.

É literalmente dois que se entendem - que se querem - por serem únicos em uma grande multidão de exatidão.


***

23.2.08

e eu também....

17.2.08

uma anormal.

eu acho que sou anormal.
esperar que te olhem no olho e vejam gente
não animal.

esperar que agarrem o cigarro
e o atirem apagado
e que não deixem a cinza ecura marcar a pele crua
já cansada de descaso.

eu acho que sou anormal
acreditar em conto de humanos
livres por serem livres
arredios por serem mundanos
por serem do mundo
mais do que um tanto.

eu acho que sou anormal.
eu peço um café pra mim
e um pra você
abraço a jaqueta com o sol a pino lá fora
e o frio de quem encosta aqui dentro
eu sou anormal.

eu espero que me olhem na boca
e leiam um foda-se profundo.
que larguem a guerra de feridas abertas
de milhares de lanternas entrépidas
que entendam de ser junto
e não me ameacem por ser lépida
assim colorida
assim feminina
assim anormal.

eu acho que estou cansada
abrir os olhos e ver sangue
não me conforta
empinar os ouvidos
gritos, ameaças de assassinos
bombas, descaso de maníacos
vestindo suas melhores roupas
em uma manhã ensolarada de domingo.


eu sou anormal porque dói.

11.2.08

li muita coisa da adélia...

uma menina
ao cair da tarde
parada em cisma, cisma em si, acolhida como santa mãe, a mão fiél que acaricia a testa suada.

seu olhar é distante como é distante sua ausência.


é toda em si. não há tempo que a navegue.



10.2.08

8:28


eu mal assisto televisão, amo ficar pelo menos uma hora por dia na internet e adoro cozinhar e engordar meus amados. o resto do tempo divido entre trabalho, fotografia e letras cozinhadas e escolhidas tanto a la carte como por quilo. em um mundo magro de ruim eu me sinto cheia de esperança e com alguns tantos resíduos do que algum dia foi minha dor... não faço propaganda, não queimo nomes em sítios públicos, não ironizo e não idealizo, não me repito e algumas vezes me enterneço, mas a maior parte do tempo me consumo. pessoas acham que sou muda, calada e cheia de dedos, que observo demais, falo de menos, que pareço boneca, criança, menina e que amo a vida. mal sabem todos que eu falo mais do que deveria, esbarro em tudo que vejo, percebo menos do que realizo, tenho cara de borracha em frente do espelho e que sou mulher velha que não entende da vida. em termos, sou espontânea. em realidade sou característica. em meados sou estantânea, no fim, artista. o passo apressado geralmente é pra ir pra lugar nenhum e meu dinheiro não compra roupa, maquiagem ou esmalte. não paga cabelereiro nem cheiro, nem batom, nem nada que se deva pagar e sim o que deve ter pra se existir. gosto de tudo que faz existir. sento no chão da livraria e procuro em tudo palavras de apego, porque não sei estar sem me apegar porque é fácil demais desistir e alçar vôo. difícil é manter os pés firmes, o olhar atento e os pensamentos ambulantes. dificíl é ser e estar em uma combinação perfeita que não precisa de verbos pra se explicar. difícil é não se explicar. eu não gosto de terminar...


***

6.2.08

po-ética-mór-bida

você pode sair na chuva
e pode se molhar no óbvio.
pode se separar no meio
ou se juntar no começo,
de qualquer maneira

você sempre pode sair na chuva
e se jogar no fogo
e se queimar em praça pública
e se sentir rainha da bateria
da pracinha
ou da ruazinha
você sempre pode dançar...


você pode reinar em paz.
prender o nariz,
amarrar cordas num cais
que de qualquer tem mais
de mil entradas e saidas
mais de cem fracassos e recaidas
que fará de você canto
ou melodia,
que o fará paródia
ou dramaturgia.

é, você pode sentar e chorar...
cair no mato, se esbaldar
não pensar em nada,
não pensar,
não falar, não comer, não trepar,
não andar na corda bamba
não assobiar....
você pode tanto ir como vir
e mesmo assim
ninguém irá notar,
você pode se sabotar.

(gastar o dinheiro de alguém que não te faz ninguém)

na corrente do mundo
você pode nadar

ou pregar um prego no dedo
e namorar

você pode descansar em paz
ou revelar

beijar a mão de deus
ou se negar

pode pagar pra sair
e receber pra entrar

pode dizer que sim pro não
e aguentar


o que virá, misturado ao que não foi e ao que nunca será.



3.2.08

sorry!


to muito dramática! eu sei...


as cartas que escreveram... parte II

"Cara e amada Cecília,



Te escrevo de longe, observando os barcos no cais, o encosto de um casco cansado e gasto pelo tempo e pela vida no mar me enerva, quero-te ao meu lado antes de sempre, para sempre mais do que quero minha vida toda por viver.


Sou jovem, eu sei. Não tão jovem quanto já fui, mas vivo há tanto tempo longe da minha terra, do meu sol e do meu mundo que para mim é como se tivesse passado vidas, séculos.... porém, o tempo não passa por aqui. As pessoas são as mesmas, mesmo quando são novas, não há gente nascendo e todo o calor da Espanha não ata fogo nos meus pés, no meu peito, em minhas costas curvadas... estou um velho! Não o sou, ESTOU!


Cecília, teus cílios ainda dançam piscando por onde vai?


Tuas curvas ainda se mostram belas aos rapazes que por Ipanema passeiam?


Não ligo de tuas curvas estarem mais cheias, de teus cílios mais escaços, teus olhos ainda brilham por debaixo das leves pálpebras?


Te amo com tanto gosto que não sei se amo qualquer outra coisa ou pessoa como amo a ti... hoje o vento deu trégua, ventava muito desde o início da semana e não pude sair para pescar. Não tenho dinheiro como sabes, vivo no apêndice da casa de Dona Holanda, seu marido também é pescador e eu sou seu assistente, "O melhor de todos os tempos!" é como ele se refere a mim! Mas não me encho de orgulho porque não há razão para isso. Só faço o que faço para sobreviver e sonhar contigo. Tu sonhas comigo?


Meu amor, você se lembra de quano queríamos um mundo novo juntos? Quantas passeatas passaram por nós, quantos jovens, como nós, foram separados por um governo corrupto, cego, unilateral e desumano! Quantos? Já não me importa, só te quero apenas, só te espero porque não anseio por mais nada apenas isso, quero dar a ti tudo que foi tirado de nós: nossos sonhos.


Amor meu, Dona Holanda me chama pois já é hora do jantar, a cada garfada vou lembrar da comida que cozinhava para mim...


Espere por mim, logo voltarei e estarei contigo.



De teu eterno amante,


Júlio.
Janeiro de 1968

Andalucía, Espanha"




***


Caro Júlio


Essa quem escreve não é Cecília e sim sua irmã Dulce. Sinto informa-lo que Cecília se casou com Pedro Paulo de Coroña, filho do barão de Coroña e não está mais morando conosco.



Passar bem,


Dulce
São Paulo, Brasil
Março de 1968




***


2.2.08

usando a alicia keys pra uma prova de amor brega.





















Some people want it all...

but I don't want nothing at all
if it ain't you baby

if I ain't got you baby,

Some people want diamond rings,

some just want everything,

But everything means nothing...
If I ain't got you...



we're living our dreams...



"he ain't no different from YoU, she ain't no different from ME, so we have to live out our dreams, like the people on tv..."

***