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25.9.11

doubt not, I love


doubt thou, the starres are fire,
doubt, that the sunne doth move:
doubt truth to be a lier,
but never doubt, I love.




Suas mãos.

Já serviram como ponto de referência, como memoria repleta de utilidade em momentos custosos. Como certeza de algum tipo de tranquilidade que antes da certeza de você, não poderia jamais existir.

Enquanto um mundo preocupado com aquilo que não parece ser mais do que um mecanismo sem forma nem motivo, eu sou o que sou porque conheço o valor dessa certeza insolente.

Tamanha perfeição irresistível: suas mãos. Sem origem nem final escrito em lugar algum além de uma memória fiel ao seu dever. Elas falam e que sigam falando só para mim, o mundo não liga. O mundo só ouve aquilo que quer ouvir, essa verdade é o que é e por isso repito...

Suas mãos. As mãos que todos decidem não ver e que são minhas por direito. São tudo o que jamais tive e nunca mais precisarei esperar para tocar.

~

Sentido - Cadê? Perdido na mudança.







22.9.11

Scorsese, John Lennon, Jung e eu


Eu. Duas letras que não querem dizer absolutamente nada. A diferença entre o E e o U é responsável pelo conteúdo. É como se tudo começasse com inúmeras oportunidades e terminasse num retorno forçado.
Pois bem, eu.
Tenho mil manias mas não conto, aliás conto tudo. Pessoalmente. Lembro da minha mãe tocando Debussy e choro copiosamente, toda vez. Enquanto chove consigo ver como num filme a mão de pele morena escura cheia de veias, cheia de manchas enormes e dedos fortes, longos e precisos do meu pai segurando a minha mão de criança, olho para baixo e vejo os sapatos impecáveis pisando em poças intermináveis, sinto até o cheiro dele. Toda vez. Tomo café o dia inteiro. Não é por falar não, é verdade.
Precisaria que o mundo entendesse minha necessidade de escrever tudo em forma de carta. Prefiro o John Lennon, mas isso todo mundo sabe. Prefiro também o Keith Richards, isso nem todos sabem. Entre Beatles, Rolling Stones e Pink Floyd, sou Beatles e de vez em quando Rolling Stones, nunca Pink Floyd. Eu curtia a Ginger Spice. Meu primeiro filme favorito foi ‘Garotos de Programa (My Own Private Idaho)’, tinha dez anos. Meu segundo filme favorito foi ‘Basketball Diaries’ (não lembro em português). Doze. Meu terceiro filme favorito foi ‘Clube da Luta’ e minha lista termina por enquanto.
Minha primeira paixão louca foi por um professor – insira a palavra correspondida aqui. Calço trinta e nove. Sou um metro e setenta de pura e total insanidade, agora sei bem. Sou flexível e danço, o tempo inteiro, até quando parece que estou só aqui sentadinha. Não acredito em se ter alguém. Acredito em paixão e no meu caso ela não morre. Não acredito em deus. Não acredito em nada, só sei de coisas variadas. Sei porque sinto que é, não porque a lógica permite. Não sou da lógica mas sou a pessoa mais justa que você jamais irá conhecer.
Sou fisicamente forte. Mesmo. Já me livrei de homens tentando me segurar a força, se é que você me entende, já peitei PM coxinha sendo racista/sexista e sempre ganhei. Já passei por incêndio e acidente de carro. Já servi de segurança pra amiga minha em show lotado. Nunca fico doente. Sou daquelas que causam revoluções por pura convicção romântica, no fim sempre me dão razão. Sou romântica, de verdade – romântico, adj. relativo a romance; poético; fantasioso. Ficou decidido no alto dos meus quinze anos que eu era a reencarnação do Rimbaud até segunda ordem. Me acho linda mas secretamente me acho um horror.
Sou má, mas sou a melhor pessoa do mundo pra quem amo e às vezes amo a pessoa de cara, sem motivo aparente. Vivo em Hollywood num prédio dos anos vinte. Fantasio a respeito das inúmeras meninas platinadas que tentaram a sorte e que por algum tempo aqui viveram. Sei de histórias. Algumas foram embora, outras deram certo. Muitas morreram de forma trágica. Hollywood é filme noir, constantemente.
Adoro dirigir, odeio que o mundo ainda usa petróleo. Amo o oceano de tal maneira que preciso ficar longe por medo de num momento de loucura querer ‘retornar’ pra dentro dele. Golfinhos aparecem pra mim o tempo todo quando estou na praia, mas ninguém nunca parece notar. Tiro foto pelo momento do ‘ah, isso sim vale a pena’. Geralmente odeio gente, principalmente gente muito barulhenta. Odeio quem usa perfume demais e/ou de menos. Gosto de homem com barba, tenho desejos insaciáveis por bocas que nunca irei beijar, rasgo cartas e sempre jogo metade numa lixeira, metade em outra. Mania. Uso muito preto e flanela. Parei nos anos noventa. Compro livros de uma maneira doentia, meus melhores amigos são mulheres mais velhas do que eu ou homens que já me amaram. Uso bota e converse. Só.
Não gosto de esporte nenhum mas secretamente sei regra de tudo. Assistia corrida feliz com o meu pai todo domingo de manhã. Amo muito meu irmão. Se ele morresse não sei mesmo o que seria da minha sanidade mental. Muitos diriam que sou desequilibrada e deveria ser internada mesmo fingindo bem ser uma pessoa sã.
Odeio iPhone, prefiro blackberry. Odeio Steve Jobs mas tenho um Mac. Amo Scorsese, odeio Spielberg. Imaginei o Johnny Depp enquanto lia ‘The Rum Diary’ e deu certo. Sempre me imagino como a moça da história em qualquer livro que leio, mesmo em biografias. Sou tarada por homens que escrevem bem. Julgo todo mundo pelas mãos e nesse caso a exceção não confirma a regra. Suas mãos confirmam tudo o que eu sempre soube, meu caro.
Sou Jung e nunca Freud.
Sou estranha.
Sou fácil e extremamente incompatível. Sou.
Tenho dito. ~~


20.7.11

ultimo dia de brasil, yet again


then you feel small, as tiny as the car down the road; and all the things you so firmly believed yesterday turn into somebody else's words.’ errr... myself.



O eco sempre me pareceu ainda mais insuportável do que o grito.

O pânico causado pela repetição da impressão do sofrimento.

A revolta que sinto quando tudo o que mais espero é que o fim chegue rápido; um fim que tenha gosto de fim na boca, porque o grande problema de tudo aquilo que tem começo é a falta de um ‘the end’ para que os créditos rolem.

-mas os créditos nunca rolam.

Esse é o mal de quem assiste filme porque gosta de chegar ao fim com algum gosto na boca, alguma conclusão emocional no peito, alguma lágrima no canto do olho; esse é o mal de quem se aborrece por não viver aquilo que foi prometido.

-mas a promessa foi ilusão que você criou. alguém te prometeu algo de fato?

A ilusão. A luz que dança diante da tela. O mundo é bonito visto daqui e é ainda mais bonito porque tudo acontece sem a nossa interferência. Bonito e triste.

O tal do eco.

A repetição e a insistência daquilo que te atormenta quando o grito era tudo o que você precisava. A tal da falta de coerência.

Mas a gente segue assistindo o filme da poltrona. Mãos indecisas sobre pernas nervosas. Talvez assim, logo que os créditos começarem a rolar, irei notar que o assento do meu lado tem dono e que, assim como eu, tudo o que ele precisava desde o começo era de um pouco de tempo.

É. Talvez.


8.6.11

amor fora de hora





~ Aposto qualquer coisa que ele gosta de mim. Entre um pensamento e outro de absoluto terror causado por algum maldito prazo, aposto que ele pensa em mim.  Entre um diálogo e outro ele deve descrever alguma personagem como me vê e em pânico se esconde atrás do copão gigantesco de chá gelado.

Aposto qualquer coisa que ele é quieto, doce, descabeçado. Que coloca meias de pares diferentes e que usa gravata com aquele moletom com capuz porque nunca percebeu que os dois não combinam. Aposto um mundo que ele morre de vergonha de mim e que para tudo pra prestar atenção no que eu faço até o momento que ele percebe que horas se passaram e nenhuma linha foi escrita. Aposto que nada parece certo. Nunca. Aposto que nada seja fácil. Aposto um milhão que ele gosta de mim.

Aposto que vou perder a vontade de ficar nessa espera. Aposto que ele nunca vai me perguntar nada portanto aposto que nunca irei responder. Nunca vou me atrever a contar que quero, mas não posso. Não agora, não assim, não tão rápido mas que quero.

Aposto que ele não sabe que eu quero.

Aposto que querer, na cabeça dele, seria o suficiente e num mundo perfeito também. Aposto que ele também não sabe que o mundo é perfeito e imagina que, como no seu roteiro, o rapaz vai entender logo qual é a solução para todos os seus problemas: amor. Aposto que comédia ele não escreve, aposto que drama também não seja seu forte. Aposto meu carinho por ele que nada é o que parece ser e no entanto é... porque quero que seja.

Aposto que ele me quer porque eu o quero, não sei como nem onde nem quando nem se isso tem cabimento, mas aposto que todas as respostas cairiam no esquecimento se em determinado momento ele simplesmente dissesse que sim, ‘apostas todas ganhas, Miss Awesome Alice’. O mundo é meu e um milhão de dinheiros também.

Mas tempo com ele é o que quero.

Aposto que logo todo o tempo dele seria também meu. ~


15.5.11

pai.


***

Eu não entendia o porquê, depois da siesta uma meia hora sentado ao lado do equipamento de som antigo sintonizado na estação de música clássica. Jornal lido da manhã sobre a mesa de centro, sapatos impecáveis, restinho do cabelo que sobrava na cabeça bem escovado, ombros largos, tão largos que era difícil de alcançar com os meus braços ainda curtos.
 
Contestava. Eu contestava o porquê da música clássica, do sapato impecável, da roupa sempre bem passada. Contestava o porquê da posição politica tão bruscamente removida do que antes era o seu bem maior.


‘É diferente por causa daquilo que ainda é meu bem maior'.


Centenas de pessoas que ajudou durante a vida, advogado de causas nobres, perdeu a vontade de cobrar, aceitou ser tomado conta calado, esperou por milagres infindáveis, se orgulhou inúmeras vezes da minha personalidade independente, mas quando a independência mostrou a tendência subversiva (pelo menos dentro de casa) de se jogar a favor de uma cultura que era sinônimo de inferno, o mundo caiu. 


Não entendia o inglês, não conseguia falar o nome do rapaz de cabelo comprido no poster do quarto. Perguntava pela razão da minha depressão, pedia pela minha ajuda sem me explicar o que sentia, calava com um tipo de dignidade única que nunca mais encontrei em ninguém. Não mostrava dor, só mostrava carinho, o tempo todo, com todo o mundo.


Com todo um mundo.


Quem pode dizer isso? 'Meu pai só tinha carinho por tudo no mundo?' Eu posso.


Eu posso.


Feliz aniversário para alguém que fez da expectativa um estilo de vida. ~~


25.1.11

saudade paulistana



Dá um beijo nas criança, tio Mi, um beijo na tia Eduarda, muitos beijos dessa terra etérea. Mande um abraço pra todo mundo por mim, muitos apertões nas bochechas, muitas cheiradas nos cangotes alheios, muitas noitadas nos cafés da vida, muitas manhãs de pão com manteiga na chapa, pingado e suco de laranja tirado na hora... tio, vê duzentos gramas de pão de queijo 

'pra nóis?', 

não, só pra mim. 

Tá tocando O Barquinho, maysa ou elis? Elis. Mas essa eu gosto Maysa.

Que ce quer? Pode me ver um baurú, óquei... proce porque num como carne. Manhê, eu pedi pro moço encher isso aqui de catupiry, me vê mais dois café faz favô, que carioca o quê! Café com leite.

Eu sou a verdadeira café com leite, o leite do seu café. A azeitona do teu requeijão.

Pois esse ônibus tá lotado, 'pega o próximo', não! Preciso estar lá agora! O bilhete tá pra vencer... pula a catraca!

Alice, que bicho do mato você, vai aparecer hoje? Não. Amanhã? Não. Mas quando vamos nos ver? Quando você aprender a gostar de sentar na calçada e beber... café. Breja? Nunca. Cheira e fede à xixi de gato.

Perdi Nietzsche no metrô ontem...

Te encontro no Santa Cruz, a gente pega a sessão das quatro e para pra comer no Bertioga, logo que o cidadão ali resolver se vem ou não vem... por sinal encontrei com u Zé no Tortula, ele tá gordo e bobão como sempre, você viu a Isabel? Continua com aquele quilombo no queixo... para! Vamos parar rapidinho no Rei do Mate?

Copão de pão de queijo!

Cinema...

Cafeera?

Johnny, não tire o dia por nós, a Si não vai aparecer...

E o Mafra? Sumiu, ninguém encontra!

Nóis já vai, e antes vamos pagar de rico no Morumbi?

Vamos, depois de parar no Rei do Mate...

Tarde assim só o Fran's, Nathy 'mas eu ainda to esperando o Chico, Li!'

ai ai, 'Alice vai, continua que eu te espero aqui', porque? Vem comigo! 'ce tá rapida demais pra mim...', eu preciso parar no Brachesquento, vê se tenho fundos...

'vai que eu te espero aqui...' mas meu amor!

Deixa rodar a maquininha, a barraquinha, minha bonitinha... pagou o estacionamento? 'não, não tenho dinheiro...' caráleo...

amor à la Paulistana...


***

20.12.10

baby, think ya used enough dynamite there?


'boy, I got vision, and the rest of the world wears bifocals....'


Butch Cassidy, personagem vivido por Paul Newman 
(os olhos azuis mais amados da minha mamãe)



Uma das minhas atividades favoritas é ficar quieta. Prestar atenção no que geralmente não recebe nada da mesma, regular em mim o desejo de se desejar: um tormento, para aqueles que me conhecem. Mas sim, gosto de fazer com que isso seja rotina mesmo que a rotina em si não permita; o truque é manter o truque vivo.

Seguindo...

Numa 'conversa' entre Martin Scorsese e um bando de louco (eu tava la) ao vivo num teatro das antigas aqui em Hollywood (eu moro na área, para aqueles que não sabem que eu não to mais em Gotham), alguém o perguntou sobre como ele se sentia em fazer 'filmes de época', e é claro que o Mr. Director respondeu qualquer coisa de estonteante sobre tais películas (você não ama o som de um Argentino falando essa palavra com gosto?). O que ele disse?Com aquele olhar de nerd debaixo de óculos maiores do que a própria cara, Marty sorriu nervoso e disse 'não existe isso, filme de época? o tempo é agora, o ontem é o que vivemos hoje, o que viveremos amanhã, nunca vi um filme sob esse ponto de vista, a época não vai necessariamente fazer da história algo mais ou menos importante pros tempos atuais' e seguiu com o seu discurso tímido mas no ponto: o tempo é agora.

Hoje, enquanto ficava quieta como é de costume, pensei nisso. O rabisco de chuva lá fora que já dura três dias, coisa atípica em Los Angeles, manteve o ar do aqui de dentro ainda mais acolhedor e na TV (monitor grandão extra ligado no meu notebook, não tenho televisão) passava um filme 'velho' mostrando imagens de certos rapazes lindos e familiares, deixando algumas frases tão comuns reverberar na minha caixola enquanto o pouco do que fazia sentido se mantinha adormecido...

Um daqueles rapazes já morreu: Paul Newman. O outro continua vivo e enrugado, cheio de projetos que geralmente são recebidos com alguma resistência e narizes tortos por meia indústria (Hollywood) ou são aplaudidos com louvor pela outra metade. Eu nunca fui muito com a cara do segundo mas ando mudando de opinião. Antes ele representava coisas chatas e sem criatividade, hoje já vejo tudo o que ele faz com outros olhos. Já com o Paul Newman as coisas sempre foram diferentes, sempre amei my cool Luke e seu sorriso gostosão e olhar que sempre derreteram o coração da minha santa mãe, a Lucinha... 


A questão é que, tudo o que se passava na história diante de mim, o conteúdo do olhar de um, a carga emocional na voz do outro, as palavras e cenas repetidas sem cansaço pelo projetor (gosto da palavra, não que eu tenha um 'projetor' sobrando) me lembraram que nada, absolutamente nada mudou e que o tio Scorsese tinha plena razão, o tempo é agora.

O filme, feito em 1969 mostra uma época completamente diferente da minha - também diferente da época em que o filme foi feito, já que a história se passa no começo do século 19 - com valores e formalidades que hoje não existem, com uma tecnologia boçal e proto-histórica mas com qualidades humanas imutáveis. Com detalhes que talvez não se repitam na história com as mesmas personagens mas com outros... que vão sempre manter a qualidade bruta que tanto amo em nós, membros dessa raça imbecil: a resistência contra tudo aquilo que não é realmente simples que no fim sempre ganha.

Ou será que eu claramente sou cheia de esperança estúpida demais? 

Quem sabe... 'it's a small price to pay for beauty' he says.




***


17.12.10

o agora.


---porque a gente lava a louça ouvindo Chico e presta atenção na chuva lá fora com a Elis. as memórias tão vivas como filme fresco rodando num projetor na parede branca do prédio do outro lado da rua, a mãe que tinha mãos tão fortes e precisas como as minhas que por algum truque da vida aprenderam a se cortar constantemente. o cheiro... o cheiro de café, canela, sabão e forno aceso tudojunto, tudopronto. o pão, o verde e as ervas sobre o queijo... o azeite. o beijo molhado que não se espera, o aperto no peito...

e o meu amor que não vem.

***

20.11.10

amor só é amor quando...



'love ain't love until you give it up'
eddie vedder





Ah... Eu conheço bem o cheiro, a mistura de cigarro queimando e um leve odor de algum tipo de bebida alcoólica (geralmente vinho tinto chileno), o peso da lã fina usada na confecção da flanela que deve ser a de estimação, afinal ele sempre é visto com ela... o pisar firme das botas sujas de lama, remendadas, reutilizadas, reabilitadas over and over and over again... sim, eu conheço bem. O cabelo emaranhado, tão parecido com o meu. Eu conheço bem.

Quantas vezes repeti que o que me bastava na vida era um Eddie Vedder e uma janela pra chamar de minha? Milhões. Quantas vezes conquistei toda essa simplicidade que preciso? Nenhuma. Quantas vezes decorei alguma música que de cara se enfiava na minha intimidade de tal maneira que a dor não passava de lembrança esquecível? Quantas vezes a melodia, a letra e tudo aquilo que vive e respira nas entrelinhas, revirava com um mundo que ainda não conhecia, pronto para me engolir?

Muitas. Milhares. Tantas que não sei se existe número que conte.

Paro e penso se devo dizer o que vou dizer... mas digo mesmo assim, sempre estive pronta. Todas as vezes, por todo esse tempo, do começo ao fim e do fim até o próximo começo... 

Não que eu espere que de fato esse cara vá caminhar até minha porta, dar um hello e me chamar pra dançar na chuva, mas que o tempo que a música dura, os instantes logo após os primeiros acordes, os segundos entre uma palavra e outra - o tempo de uma inspiração ofegante ou não - são no fim tudo o que preciso. Os segundos necessários para que um sonho qualquer ou uma visão, revitalizem todo um corpo e mente de uma menina pouco sã, feliz demais por amar desse jeito único dela.


Até a próxima canção.




***

16.11.10

vinte e seis, dezoito, dezesseis anos... é tudo a mesma coisa.


Eu? Eu gosto de livros na estante, de cores infinitamente mais delicadas do que as minhas cores naturais por todos os cantos, da música alta chorando baixo entre quatro paredes e prefiro os perfumes úteis. Sim, é o que você ouviu. 

Pois no dia treze de novembro de dois mil e dez fiz vinte e seis anos, se isso ainda importa? Não sei. Desde quando completei dezoito anos parei de perceber... aliás, tudo mudou quando fiz dezesseis e por ali parou. Acabei sempre sendo uma continuação das mudanças que propus para mim mesma naquele ano e a partir dali, a vida surgiu de maneiras (quase) óbvias e ao mesmo tempo tomou rumos indistintos. O centro, o miolo, a raiz continuam as mesmas... por sinal: a mesma. Uma cumplicidade do mesmo inteira, cheia de ramos que unidos engrossam, encontram força e buscam pela superfície... do que? De mim mesma.

O desejo, o intuito, a razão sempre foram um. O resultado, o fim do túnel, o pote de ouro no final do arco-íris sempre teve um nome e o nome sempre foi o mesmo, nunca mudou a cor, o jeito, o cheiro como o tempo insiste em querer que eu acredite... o tempo não mudou desde os meus dezesseis anos, os olhos observando num canto da minha janela, as mãos prontas para me apoiarem assim que a queda fosse iminente... ah, dez anos se passaram e por mais que tenham passado, os meus dezesseis anos vivem confortáveis dentro das minhas veias...

Meus dias nunca mudaram apesar de terem mudado radicalmente. Meus prazeres, minhas vontades, minha beleza que toma formas diferentes, sempre, continuam as mesmas e a geografia por mais que grite 'alice doesn't live here anymore!' está brutalmente enganada. Sempre vivi onde vivo, desde os meus dezesseis anos...

Pois, vinte e seis. Vinte e seis em um treze de novembro de dois mil e dez é algo para ser marcado, não porque qualquer coisa tenha mudado.... mas precisamente porque nada, nada realmente mudou - e isso é bom.



***



23.10.10

je te raconterai l'histoire de ce roi...


***


Jacques Romain Georges Brel era um garoto franzino com mãos grandes e orelhas maiores ainda. Sua capacidade de demonstrar qualquer tipo de dor enquanto homem diante de um microfone era tão grande, que a mera menção de seu nome causava desconforto entre os ianques reis do palco... 

Sua voz nunca se fez popular no mundo azul e vermelho da América deles, mas se fez popular o bastante na sala de estar de outra América, uma mais verde e amarela, uma mais simples que a deles. Ne me quitte pas, ne me quitte pas... implorava o rapaz das orelhas grandes num sistema de som adquirido no Texas, Estados Unidos da América no apartamento da mamãe sobre uma farmácia qualquer da grande capital do Estado de São Paulo... ne me quitte pas... moi je te t'offrirai des perles de pluie venues de pays où il ne pleut pas...

Mamãe cantava junto com olhos distantes e emocionados.

Ele tinha meu coraçao apertado entre os seus dedos grosseiros bem antes, enquanto pronunciava 'le coeur du bonheur'...


***

6.10.10

'The Town', Ben Affleck, Rebecca Hall e o amor disso tudo


'it's gonna be like one of my sunny days...'
claire no filme 'the town'


Fazia um bom tempo que eu não conversava com vocês a respeito de absolutamente nada tangível, muito menos a respeito de um filme (nada tangível também, por sinal). Pois hoje eu preciso. É praticamente uma questão de honra mas muito além da honra, é uma questão de respeito. Respeito por aqueles que eu tive a paciência e a sensibilidade de ver sob outra luz, uma luz um pouco mais aguda do que uso continuamente. Pelo menos hoje, pelo menos nos últimos tempos, eu tenho deixado certas portas (e janelas) absolutamente escancaradas. 

Pois, vamos nessa. 

Ben Affleck foi sempre carinhosamente (talvez nem tanto) chamado de Bunda Affleck por moi. Seu grande pecado? Ter namorado a bem grande bunda 'en route' e errada da Jennifer Lopez. O problema com isso? Todos. Quem pode em sã consciência pensar que fazer parte da febre popular norte-americana conhecida como 'Bennifer' vai fazer com que sua imagem ganhe qualquer coisa parecida com integridade? Só um louco pra pensar isso... Só um louco pra não se importar... Só um louco pra reconhecer o outro...

Enfim. 'The Town' é um filme dirigido por Ben Affleck, estrelado por Ben Affleck, roteiro de Peter Craig, Aaron Stockard e... Ben Affleck (!) baseado no livro 'The Prince of Thieves' de Chuck Hogan. A história é conhecida para aqueles que sacam que a maior população Irlandesa fora da Irlanda está em Boston, Massachusetts nos Estados Unidos e errados da América. Como tudo de certo do mundo está caído moribundo e quase respirando em alguma parte da terra do Tio Sam, com essa história não poderia ser diferente...

Um rapaz (Ben Affleck a.k.a. Bunda-Man-Que-Tem-A-Cara-Do-Meu-Pai) todo machucado por um passado no mínimo brutal, com um corpão tipo 'papai-esqueci-de-ler-mas-lembrei-de-carregar-esses-sacos-de-pedra-pra-pagar-as-contas-do-mês' cheios de olhares doloridos para cima dos seus amigos que infelizmente são mais cheios de testosterona do que de qualquer massa cinzenta entre as orelhas (Jeremy Renner, Owen Burke, Slaine) acaba se apaixonando por quem não deve: a moça gerente do banco que ele acabou de roubar (Rebecca Hall, a mulher da tela de prata que é como mulher de verdade é). Também pudera. Ela não é só linda (e não é mais 'linda' tipicamente falando do que a vaca loira que dá em cima do nosso herói o filme todo interpretada pela super-duper popular Blake Lively), ela é também... simplesmente simples. Porque não existe coisa mais linda do que notar que alguém é excessivamente real, tão real que deixa a ferida à mostra...

Rebecca Hall e Ben Affleck

Eles se apaixonam o suficiente para que todo o resto pareça inútil mesmo sem nada disso ficar óbvio... sim, caros amigos, viver vale a pena quando amar é o seu único objetivo. O problema no entanto, fica mais embaixo... Ele precisa enfrentar muitos obstáculos: a máfia irlandesa de Boston (leia com sotaque), o FBI e o fato de que a linda da moça não sabe a verdade a respeito do seu grande amado...

O que fazer?

O que fazer é simples, veja o filme. Ou leia o livro. No Brasil-de-meu-Deus, eu não sei como o chamam, acho que ainda não tem em Português de qualquer forma... então esperem o filme e vejam porque, no fim das contas, um cara que era conhecido como a piada bunda de um PAÍS virou um cara grandalhão, com uma mente feita de mercúrio, preparada para se adaptar o suficiente, preparada para não ser mais nada do que a voz simples de um amor maior do que a vida e uma verdade ainda maior do que isso.

Afinal de contas, certas vezes tudo o que precisamos é ir à beira do ridículo da popularidade para que a voz seja entregue a quem nunca conseguiu se expressar porque nunca soube como.


Poster original do filme


***


21.9.10

delirar é


-- gosto do toque dos dedos contra o vidro da taça que é liso, que me lembra de tudo aquilo que desliza, de tudo aquilo que manipula o espaço para que a forma seja o único conteúdo que prenda um corpo... ao outro. --



2.9.10

o homem da razão





'o que é isso então?' foi a pergunta que estraçalhou todas as incertezas que ele carregava nos ombros naquela tarde fria.

'um nada. para que algo tem que ser qualquer coisa?'

mesmo sem querer ele queria não querer e isso sem dúvida alguma era a dúvida que ela representava. 

a dúvida. porque ela sempre perguntava e respondia com a negação em mente? 

porque era mulher, uma mulher de pele tão feminina que todas as flores da estação revidavam com o mesmo vigor quando ela passava... as cores desavisadas revidavam em tons mais quentes, as dobras e cantos das pétalas se rebuscavam incandescentes num ato de pleno desespero e medo de perder suas posses, as folhas envergonhadas rejeitavam o vento e as árvores... bem, as árvores observavam quietas mais uma rival móvel, enfeitiçante e enfeitiçada como o vento que não fazia mais do que passar e partir... para nunca mais ou para talvez amanhã cedinho.

era mulher. a mulher que era a dúvida.

'e porque tamanha dúvida? por que não acreditar no que não se tem razão?'

'porque de falta de razão quem entende sou eu, e tudo o que eu quero saber de entender agora é de você... razão aparte de mim que quero ter... para mim.'

o vento soprava quase infértil...

'porque o vento é homem da razão..'


***



*imagem Alice & Jo do filme 'dans paris'.









20.8.10

can't buy a thrill




"oh... I ride on a mailtrain, baby... 
can't buy a thrill..."
dylan, bob dylan


e que a noite chegue para que nada se apague, para que algo puro dure, para que o nome que alguém no futuro der a isso tudo seja o mais parecido possível com amor.

amor, por isso vivo. viver nos cantos sujos de um mundo ditado por poucos, responsável por muitos, renegando aqueles que seriam os novos guardiões de um tesouro maior que não chegou a ser nada além de um sonho bom de domingo cedo... 

debaixo de um sol calmo... que seja amor.

que a noite chegue abençoando a cegueira absoluta e todos aqueles que se alimentam dela... 


que a lua nunca nos deixe descansar.


***


foto por mim mesma.


19.8.10





I put it in a... song.


***


18.8.10




i... confess.


***






it is... believing.


***


17.8.10






então que eu... amo.


***


despreparo...




então que me deixe ser. 

que os dedos fiquem presos aos meus cabelos já que nunca tive medo da imagem turva que a memória teima em não apagar.

o gosto dos dentes contra a carne ainda fresca depois de um banho qualquer... ela estava preparada para que aquilo que estava pronto para acontecer a seguir não fosse apenas mais uma noite em suas vidas. eles eram como feridas abertas que resistiam e resistem e lutam contra aquilo por trás desse sistema ruim. sistema esse eternamente usado como único mecanismo de apego a essa inútil sobrevivência subserviente. sim, corpos prontos para quebrar tal mecanismo, por uma hora ou duas, três ou talvez cinco. eles nunca se preocupavam em contar o tempo como quem conta hora ruim... no fim das contas, a dívida seria imensa.

o banho não tinha sido um qualquer, foi o previsto. por tanto  esperado e minuciosamente desejado.

a água que corria e escorria pela sua pele teria pouco o que contar em relação ao que ele teria preso no peito, para guardar como seu para um todo sempre quase sempre demais. um embaraço magistral de amor que ele nunca havia conhecido, pelo menos até se conhecer com ela.

como se vive assim?

não sei.

se vive?

acho que não. se espera.

pelo viver?

pelo você perto de mim, novamente.

e isso, é viver? e se estar é viver, o que é o esperar?

é o não ter, temporariamente.

não ter, não ser. o verbo que é o mesmo em tantas línguas teima em ser dois nesse português bem gasto... e nos empurra a voltar ao que é necessário para a sobrevivência. o desejo é muito, cobiçar é querer em dose tripla tudo o que se espera do mundo. afinal os frutos são o que são, nascidos da mesma terra que nos deu a vida...

o fruto é um e se não fosse um, seria todos. o que eu quero eu quero em um, inteiro. e só pode ser inteiro quando é comigo.

o que é isso que eu quero? esse gosto de um...

um gosto que a gente não esquece, um cheiro que não larga, uma textura fina demais que foi feita para ser entregue a farta falta de escrúpulos da nossa sede...

ah, essa sede.


ninguém aprende a passar por isso...




***