17.8.10

despreparo...




então que me deixe ser. 

que os dedos fiquem presos aos meus cabelos já que nunca tive medo da imagem turva que a memória teima em não apagar.

o gosto dos dentes contra a carne ainda fresca depois de um banho qualquer... ela estava preparada para que aquilo que estava pronto para acontecer a seguir não fosse apenas mais uma noite em suas vidas. eles eram como feridas abertas que resistiam e resistem e lutam contra aquilo por trás desse sistema ruim. sistema esse eternamente usado como único mecanismo de apego a essa inútil sobrevivência subserviente. sim, corpos prontos para quebrar tal mecanismo, por uma hora ou duas, três ou talvez cinco. eles nunca se preocupavam em contar o tempo como quem conta hora ruim... no fim das contas, a dívida seria imensa.

o banho não tinha sido um qualquer, foi o previsto. por tanto  esperado e minuciosamente desejado.

a água que corria e escorria pela sua pele teria pouco o que contar em relação ao que ele teria preso no peito, para guardar como seu para um todo sempre quase sempre demais. um embaraço magistral de amor que ele nunca havia conhecido, pelo menos até se conhecer com ela.

como se vive assim?

não sei.

se vive?

acho que não. se espera.

pelo viver?

pelo você perto de mim, novamente.

e isso, é viver? e se estar é viver, o que é o esperar?

é o não ter, temporariamente.

não ter, não ser. o verbo que é o mesmo em tantas línguas teima em ser dois nesse português bem gasto... e nos empurra a voltar ao que é necessário para a sobrevivência. o desejo é muito, cobiçar é querer em dose tripla tudo o que se espera do mundo. afinal os frutos são o que são, nascidos da mesma terra que nos deu a vida...

o fruto é um e se não fosse um, seria todos. o que eu quero eu quero em um, inteiro. e só pode ser inteiro quando é comigo.

o que é isso que eu quero? esse gosto de um...

um gosto que a gente não esquece, um cheiro que não larga, uma textura fina demais que foi feita para ser entregue a farta falta de escrúpulos da nossa sede...

ah, essa sede.


ninguém aprende a passar por isso...




***