2.9.10

o homem da razão





'o que é isso então?' foi a pergunta que estraçalhou todas as incertezas que ele carregava nos ombros naquela tarde fria.

'um nada. para que algo tem que ser qualquer coisa?'

mesmo sem querer ele queria não querer e isso sem dúvida alguma era a dúvida que ela representava. 

a dúvida. porque ela sempre perguntava e respondia com a negação em mente? 

porque era mulher, uma mulher de pele tão feminina que todas as flores da estação revidavam com o mesmo vigor quando ela passava... as cores desavisadas revidavam em tons mais quentes, as dobras e cantos das pétalas se rebuscavam incandescentes num ato de pleno desespero e medo de perder suas posses, as folhas envergonhadas rejeitavam o vento e as árvores... bem, as árvores observavam quietas mais uma rival móvel, enfeitiçante e enfeitiçada como o vento que não fazia mais do que passar e partir... para nunca mais ou para talvez amanhã cedinho.

era mulher. a mulher que era a dúvida.

'e porque tamanha dúvida? por que não acreditar no que não se tem razão?'

'porque de falta de razão quem entende sou eu, e tudo o que eu quero saber de entender agora é de você... razão aparte de mim que quero ter... para mim.'

o vento soprava quase infértil...

'porque o vento é homem da razão..'


***



*imagem Alice & Jo do filme 'dans paris'.