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1.10.11

nada se perde (nem se ganha)


~

Pensei que sentiria algo. Qualquer coisa. Um toque de arrependimento ou de raiva ou qualquer negócio semelhante a algum dilema moral, algum carinho pendente, um resto de ego ferido, um tal de desejo mal resolvido... mas não. Não sinto nem senti absolutamente nada.


Nem um sopro de alguma coisa que jamais irei compreender. Um frio qualquer.


Nada.


Enquanto imaginava que conhecia a raiz dessa paixão de ocasião, pensava também ter certeza absoluta dos rumos que tais histórias tomariam. No fim percebi que nem a raiz nem o intuito da questão estavam sob o meu controle, mas nem por isso o mundo perdeu seu tom vermelho, nem minha terra perdeu o gosto de sonho, nem minhas palavras perderam seu volume imperceptível aos mortais com ouvidos destreinados.


A dor poderia ter sido aguda, a brutalidade uma forma de colocar tudo de volta no seu lugar, mas a verdade é que nada do que aconteceu me fez sentir qualquer coisa além de...


Um grande nada.


Tempo perdido? Nunca.


Tempo. Sim.


Tempo mal investido? Não. Tempo. E por coisas dessas como o tempo, baseadas em teorias quase frustradas nós não perdemos o sono. Muito menos a piada. Muito menos o texto hermético, esse tal desse mundo de palavras cruzadas. Não perdemos nada não, nem ganhamos.


Chegamos a alguma conclusão? Não. A algum método mais eficiente de se viver a vida? Definitivamente não. Chegamos ao fim de algo que nunca foi e a esse fato brindamos, porque a vida é cheia deles e nem por isso o vento lá fora para de protestar.


~~


25.9.11

doubt not, I love


doubt thou, the starres are fire,
doubt, that the sunne doth move:
doubt truth to be a lier,
but never doubt, I love.




Suas mãos.

Já serviram como ponto de referência, como memoria repleta de utilidade em momentos custosos. Como certeza de algum tipo de tranquilidade que antes da certeza de você, não poderia jamais existir.

Enquanto um mundo preocupado com aquilo que não parece ser mais do que um mecanismo sem forma nem motivo, eu sou o que sou porque conheço o valor dessa certeza insolente.

Tamanha perfeição irresistível: suas mãos. Sem origem nem final escrito em lugar algum além de uma memória fiel ao seu dever. Elas falam e que sigam falando só para mim, o mundo não liga. O mundo só ouve aquilo que quer ouvir, essa verdade é o que é e por isso repito...

Suas mãos. As mãos que todos decidem não ver e que são minhas por direito. São tudo o que jamais tive e nunca mais precisarei esperar para tocar.

~

Sentido - Cadê? Perdido na mudança.







22.9.11

Scorsese, John Lennon, Jung e eu


Eu. Duas letras que não querem dizer absolutamente nada. A diferença entre o E e o U é responsável pelo conteúdo. É como se tudo começasse com inúmeras oportunidades e terminasse num retorno forçado.
Pois bem, eu.
Tenho mil manias mas não conto, aliás conto tudo. Pessoalmente. Lembro da minha mãe tocando Debussy e choro copiosamente, toda vez. Enquanto chove consigo ver como num filme a mão de pele morena escura cheia de veias, cheia de manchas enormes e dedos fortes, longos e precisos do meu pai segurando a minha mão de criança, olho para baixo e vejo os sapatos impecáveis pisando em poças intermináveis, sinto até o cheiro dele. Toda vez. Tomo café o dia inteiro. Não é por falar não, é verdade.
Precisaria que o mundo entendesse minha necessidade de escrever tudo em forma de carta. Prefiro o John Lennon, mas isso todo mundo sabe. Prefiro também o Keith Richards, isso nem todos sabem. Entre Beatles, Rolling Stones e Pink Floyd, sou Beatles e de vez em quando Rolling Stones, nunca Pink Floyd. Eu curtia a Ginger Spice. Meu primeiro filme favorito foi ‘Garotos de Programa (My Own Private Idaho)’, tinha dez anos. Meu segundo filme favorito foi ‘Basketball Diaries’ (não lembro em português). Doze. Meu terceiro filme favorito foi ‘Clube da Luta’ e minha lista termina por enquanto.
Minha primeira paixão louca foi por um professor – insira a palavra correspondida aqui. Calço trinta e nove. Sou um metro e setenta de pura e total insanidade, agora sei bem. Sou flexível e danço, o tempo inteiro, até quando parece que estou só aqui sentadinha. Não acredito em se ter alguém. Acredito em paixão e no meu caso ela não morre. Não acredito em deus. Não acredito em nada, só sei de coisas variadas. Sei porque sinto que é, não porque a lógica permite. Não sou da lógica mas sou a pessoa mais justa que você jamais irá conhecer.
Sou fisicamente forte. Mesmo. Já me livrei de homens tentando me segurar a força, se é que você me entende, já peitei PM coxinha sendo racista/sexista e sempre ganhei. Já passei por incêndio e acidente de carro. Já servi de segurança pra amiga minha em show lotado. Nunca fico doente. Sou daquelas que causam revoluções por pura convicção romântica, no fim sempre me dão razão. Sou romântica, de verdade – romântico, adj. relativo a romance; poético; fantasioso. Ficou decidido no alto dos meus quinze anos que eu era a reencarnação do Rimbaud até segunda ordem. Me acho linda mas secretamente me acho um horror.
Sou má, mas sou a melhor pessoa do mundo pra quem amo e às vezes amo a pessoa de cara, sem motivo aparente. Vivo em Hollywood num prédio dos anos vinte. Fantasio a respeito das inúmeras meninas platinadas que tentaram a sorte e que por algum tempo aqui viveram. Sei de histórias. Algumas foram embora, outras deram certo. Muitas morreram de forma trágica. Hollywood é filme noir, constantemente.
Adoro dirigir, odeio que o mundo ainda usa petróleo. Amo o oceano de tal maneira que preciso ficar longe por medo de num momento de loucura querer ‘retornar’ pra dentro dele. Golfinhos aparecem pra mim o tempo todo quando estou na praia, mas ninguém nunca parece notar. Tiro foto pelo momento do ‘ah, isso sim vale a pena’. Geralmente odeio gente, principalmente gente muito barulhenta. Odeio quem usa perfume demais e/ou de menos. Gosto de homem com barba, tenho desejos insaciáveis por bocas que nunca irei beijar, rasgo cartas e sempre jogo metade numa lixeira, metade em outra. Mania. Uso muito preto e flanela. Parei nos anos noventa. Compro livros de uma maneira doentia, meus melhores amigos são mulheres mais velhas do que eu ou homens que já me amaram. Uso bota e converse. Só.
Não gosto de esporte nenhum mas secretamente sei regra de tudo. Assistia corrida feliz com o meu pai todo domingo de manhã. Amo muito meu irmão. Se ele morresse não sei mesmo o que seria da minha sanidade mental. Muitos diriam que sou desequilibrada e deveria ser internada mesmo fingindo bem ser uma pessoa sã.
Odeio iPhone, prefiro blackberry. Odeio Steve Jobs mas tenho um Mac. Amo Scorsese, odeio Spielberg. Imaginei o Johnny Depp enquanto lia ‘The Rum Diary’ e deu certo. Sempre me imagino como a moça da história em qualquer livro que leio, mesmo em biografias. Sou tarada por homens que escrevem bem. Julgo todo mundo pelas mãos e nesse caso a exceção não confirma a regra. Suas mãos confirmam tudo o que eu sempre soube, meu caro.
Sou Jung e nunca Freud.
Sou estranha.
Sou fácil e extremamente incompatível. Sou.
Tenho dito. ~~


1.9.11

do caderno.






É isso e mais um pouco disso.

A competência dá lugar ao vazio. Esse tempo é aquele tempo que não volta mais, mas você não consegue fazer com que o outro sinta a mesma urgência.

A mesma exatidão da vontade que você sente.

Não é fácil, mas ninguém algum dia disse que fácil seria o meio.



20.7.11

ultimo dia de brasil, yet again


then you feel small, as tiny as the car down the road; and all the things you so firmly believed yesterday turn into somebody else's words.’ errr... myself.



O eco sempre me pareceu ainda mais insuportável do que o grito.

O pânico causado pela repetição da impressão do sofrimento.

A revolta que sinto quando tudo o que mais espero é que o fim chegue rápido; um fim que tenha gosto de fim na boca, porque o grande problema de tudo aquilo que tem começo é a falta de um ‘the end’ para que os créditos rolem.

-mas os créditos nunca rolam.

Esse é o mal de quem assiste filme porque gosta de chegar ao fim com algum gosto na boca, alguma conclusão emocional no peito, alguma lágrima no canto do olho; esse é o mal de quem se aborrece por não viver aquilo que foi prometido.

-mas a promessa foi ilusão que você criou. alguém te prometeu algo de fato?

A ilusão. A luz que dança diante da tela. O mundo é bonito visto daqui e é ainda mais bonito porque tudo acontece sem a nossa interferência. Bonito e triste.

O tal do eco.

A repetição e a insistência daquilo que te atormenta quando o grito era tudo o que você precisava. A tal da falta de coerência.

Mas a gente segue assistindo o filme da poltrona. Mãos indecisas sobre pernas nervosas. Talvez assim, logo que os créditos começarem a rolar, irei notar que o assento do meu lado tem dono e que, assim como eu, tudo o que ele precisava desde o começo era de um pouco de tempo.

É. Talvez.


30.6.11

das cartas que não foram: dallas, tx.





Will,

Aqui os dias são eternos.

A luz parece que corre sem medo por detrás da terra enrugada que, sem descanso, responde preguiçosa, fique mais, fique pelo tempo que for... Você tem tanto o que fazer por aqui.

Sim, o sol tem tanto o que fazer por aqui, mas eu não tenho não e não terei até a hora de você chegar. Nesses dias em que os dias são eternos, as noites são curtas e respondem rápido. A reação é sempre a mesma: recolha-se. Ele já vem.

Pois eu nunca ouvi isso dos teus lábios, meu amor

Você já vem, acredito. Com o vir trará qualquer coisa parecida com culpa, creio eu em minha infinita bondade quanto à sua pessoa. Trará também uma indecisão digna de alguém frágil escondido num corpo cheio de peso de homem do tamanho certo. Trará fome e carne, tudo no mesmo pacote. Trará o que sobrou de mim de volta para o berço. O começo de tudo. O seu começo.

Eu aqui vivo por você e espero diante de uma janela generosa demais. O sol dessa terra ri de mim enquanto a lua espia com pouca vontade. Enquanto o tapete estiver torto e o quadro um pouco manchado, as velas mal arranjadas e as flores levemente murchas, essa terra continuará a esbanjar dias eternos.

E, devo perguntar, como viver dias eternos sem a dedicação abandonada ao momento em que te sacar será como presenciar a grande diferença entre o dia e a noite? Será essa a única realidade que conhecerei? Viver à espera de uma promessa silenciosa.

Eis o peso e o prazer de cuidar de viver mais dias desses dias eternos.

Até que essa o encontre com saúde suficiente para que a resposta seja a sua presença pronta para a minha fome.

E lembre-se, dias de sol são só dias de céus de um azul intenso.

É.


Laura A.,

27 de setembro de 1992,
Hospital Psiquiátrico de Timberlawn - Dallas, TX.



foto daqui.

8.6.11

amor fora de hora





~ Aposto qualquer coisa que ele gosta de mim. Entre um pensamento e outro de absoluto terror causado por algum maldito prazo, aposto que ele pensa em mim.  Entre um diálogo e outro ele deve descrever alguma personagem como me vê e em pânico se esconde atrás do copão gigantesco de chá gelado.

Aposto qualquer coisa que ele é quieto, doce, descabeçado. Que coloca meias de pares diferentes e que usa gravata com aquele moletom com capuz porque nunca percebeu que os dois não combinam. Aposto um mundo que ele morre de vergonha de mim e que para tudo pra prestar atenção no que eu faço até o momento que ele percebe que horas se passaram e nenhuma linha foi escrita. Aposto que nada parece certo. Nunca. Aposto que nada seja fácil. Aposto um milhão que ele gosta de mim.

Aposto que vou perder a vontade de ficar nessa espera. Aposto que ele nunca vai me perguntar nada portanto aposto que nunca irei responder. Nunca vou me atrever a contar que quero, mas não posso. Não agora, não assim, não tão rápido mas que quero.

Aposto que ele não sabe que eu quero.

Aposto que querer, na cabeça dele, seria o suficiente e num mundo perfeito também. Aposto que ele também não sabe que o mundo é perfeito e imagina que, como no seu roteiro, o rapaz vai entender logo qual é a solução para todos os seus problemas: amor. Aposto que comédia ele não escreve, aposto que drama também não seja seu forte. Aposto meu carinho por ele que nada é o que parece ser e no entanto é... porque quero que seja.

Aposto que ele me quer porque eu o quero, não sei como nem onde nem quando nem se isso tem cabimento, mas aposto que todas as respostas cairiam no esquecimento se em determinado momento ele simplesmente dissesse que sim, ‘apostas todas ganhas, Miss Awesome Alice’. O mundo é meu e um milhão de dinheiros também.

Mas tempo com ele é o que quero.

Aposto que logo todo o tempo dele seria também meu. ~


23.3.11

o fim do mundo chegou, diz a opinião geral




É fácil prestar atenção na desgraça alheia, emprestar alguns curtos momentos do dia para que a sensação de compaixão supere o conforto claramente assumido como norma. É fácil conversar em volta da mesa do café sobre o que acontece do outro lado da terra, do outro lado do oceano. É simples e bonito tuitar alguma coisa sensível em relação à dor de outro alguém que você não conhece. É incrível ver revoluções tardias, ditadores arredios arremessados aos leões, humanos ou não ajudando uns aos outros em momentos de desastres naturais não tão naturais assim, é tudo muito... é.

De um lado assistimos a tudo como os telespectadores esfomeados que somos e apontamos os dedinhos na direção de quem - ouvimos dizer - ser o culpado. Adoramos emitir opinião, adoramos transmitir essas chamadas opiniões por todos os canais possíveis.

Mas para mim, bom mesmo seria descobrir como se faz pra encontrar aquele botão do 'não senhor, o senhor não tem a mínima razão, deixe sua opinião do lado de fora porque obviamente, ninguém pediu por nada do gênero no recinto', e partir calmo para a próxima desgraça mundial, a próxima praga, o próximo escândalo.

Opinião parece que todo mundo tem, a verdade é que não, não tem não. Opinião é um negócio raro, difícil de ser conquistado, dolorido. Opinião é algo que não se pode ser entregue nem presenteado, não se vem à tona com leveza nem à boca com ar de 'fica-a-dica', opinião se forma. Tudo o que se forma precisa de base, conceito, conhecimento.

Conhecimento, como já sabemos, é uma coisa. Informação superficial e em massa é outra. 

Conhecimento é experiência e informação combinados num esforço sem fim de se alcançar a raiz de qualquer assunto. Opinião é trabalho duro e o que me deixa louca é ouvir merda conhecida como preguiça e mediocridade pintada como consideração, ideia ou até mesmo... opinião.

Buscar por respostas nas cabeças falantes da TV é tão fraco, tão particularmente vazio quanto não buscar por resposta nenhuma e inventar todas como se o conhecimento fosse algo exclusivo dessa fonte infinita de palavras que nascem nesse viveiro de piolhos que todos nós possuímos. É isso.



***


foto daqui.

23.2.11

constância




- enquanto os pássaros ainda sobrevoam minha estância, resisto a tudo aquilo que resiste aos meus segredos. o ar está denso, o céu escuro e triste... o mar permanece sereno. eu espero, atenciosamente.

o tempo pode ser brutal e venenoso mas não me espanta, o que me espanta é a visão da cor clara dos seus olhos me esperando de longe, pensando o mesmo que penso agora e agora e agora e... - 


***

foto daqui.

17.1.11

rambling

que prazer, o da alegria extraordinária. o fruto de um grande choque entre o prazer físico de se banhar em um rio daquilo que se deseja e o gozo emocional de se encontrar seguro daquilo que você sempre soube durante tanto tempo: que esse dia viria ao seu encontro, mais cedo ou mais tarde.

alegria extrema. o culto ao sentir, que seja intenso em conexões nervosas, rico em excessos deliberados de gostos e faíscas, real em cor, cheiro, toque. real em vida.

porque o que nos faz feliz é feliz por nos fazer feliz.

porque o que nos enche de dor e prazer reutiliza nossa vontade e ação de sentir para que o sentir nunca morra, para que ele continue real em cor, cheiro, toque.

que prazer, o da alegria extraordinária. do compreender que o amor não vai além do que você é, o amor se reinventa em formas invisíveis mas evidentes. ele toma a forma dos seus lábios e das lágrimas dos seus olhos, ele permanece vibrante nos seus nervos, ele não é de aço nem de músculo, ele é de eletricidade.

você é condutor.

a alegria extrema do permitir.

permitir que o todo permaneça inutilizável, entender que a pequena revolução transforma universos, entender que o gosto do prazer é o mesmo gosto que sua boca carrega, que seus olhos corrompem, que suas mãos desatam.

Tom Waits lendo poesia do Bukowski.

***

20.12.10

baby, think ya used enough dynamite there?


'boy, I got vision, and the rest of the world wears bifocals....'


Butch Cassidy, personagem vivido por Paul Newman 
(os olhos azuis mais amados da minha mamãe)



Uma das minhas atividades favoritas é ficar quieta. Prestar atenção no que geralmente não recebe nada da mesma, regular em mim o desejo de se desejar: um tormento, para aqueles que me conhecem. Mas sim, gosto de fazer com que isso seja rotina mesmo que a rotina em si não permita; o truque é manter o truque vivo.

Seguindo...

Numa 'conversa' entre Martin Scorsese e um bando de louco (eu tava la) ao vivo num teatro das antigas aqui em Hollywood (eu moro na área, para aqueles que não sabem que eu não to mais em Gotham), alguém o perguntou sobre como ele se sentia em fazer 'filmes de época', e é claro que o Mr. Director respondeu qualquer coisa de estonteante sobre tais películas (você não ama o som de um Argentino falando essa palavra com gosto?). O que ele disse?Com aquele olhar de nerd debaixo de óculos maiores do que a própria cara, Marty sorriu nervoso e disse 'não existe isso, filme de época? o tempo é agora, o ontem é o que vivemos hoje, o que viveremos amanhã, nunca vi um filme sob esse ponto de vista, a época não vai necessariamente fazer da história algo mais ou menos importante pros tempos atuais' e seguiu com o seu discurso tímido mas no ponto: o tempo é agora.

Hoje, enquanto ficava quieta como é de costume, pensei nisso. O rabisco de chuva lá fora que já dura três dias, coisa atípica em Los Angeles, manteve o ar do aqui de dentro ainda mais acolhedor e na TV (monitor grandão extra ligado no meu notebook, não tenho televisão) passava um filme 'velho' mostrando imagens de certos rapazes lindos e familiares, deixando algumas frases tão comuns reverberar na minha caixola enquanto o pouco do que fazia sentido se mantinha adormecido...

Um daqueles rapazes já morreu: Paul Newman. O outro continua vivo e enrugado, cheio de projetos que geralmente são recebidos com alguma resistência e narizes tortos por meia indústria (Hollywood) ou são aplaudidos com louvor pela outra metade. Eu nunca fui muito com a cara do segundo mas ando mudando de opinião. Antes ele representava coisas chatas e sem criatividade, hoje já vejo tudo o que ele faz com outros olhos. Já com o Paul Newman as coisas sempre foram diferentes, sempre amei my cool Luke e seu sorriso gostosão e olhar que sempre derreteram o coração da minha santa mãe, a Lucinha... 


A questão é que, tudo o que se passava na história diante de mim, o conteúdo do olhar de um, a carga emocional na voz do outro, as palavras e cenas repetidas sem cansaço pelo projetor (gosto da palavra, não que eu tenha um 'projetor' sobrando) me lembraram que nada, absolutamente nada mudou e que o tio Scorsese tinha plena razão, o tempo é agora.

O filme, feito em 1969 mostra uma época completamente diferente da minha - também diferente da época em que o filme foi feito, já que a história se passa no começo do século 19 - com valores e formalidades que hoje não existem, com uma tecnologia boçal e proto-histórica mas com qualidades humanas imutáveis. Com detalhes que talvez não se repitam na história com as mesmas personagens mas com outros... que vão sempre manter a qualidade bruta que tanto amo em nós, membros dessa raça imbecil: a resistência contra tudo aquilo que não é realmente simples que no fim sempre ganha.

Ou será que eu claramente sou cheia de esperança estúpida demais? 

Quem sabe... 'it's a small price to pay for beauty' he says.




***


6.10.10

'The Town', Ben Affleck, Rebecca Hall e o amor disso tudo


'it's gonna be like one of my sunny days...'
claire no filme 'the town'


Fazia um bom tempo que eu não conversava com vocês a respeito de absolutamente nada tangível, muito menos a respeito de um filme (nada tangível também, por sinal). Pois hoje eu preciso. É praticamente uma questão de honra mas muito além da honra, é uma questão de respeito. Respeito por aqueles que eu tive a paciência e a sensibilidade de ver sob outra luz, uma luz um pouco mais aguda do que uso continuamente. Pelo menos hoje, pelo menos nos últimos tempos, eu tenho deixado certas portas (e janelas) absolutamente escancaradas. 

Pois, vamos nessa. 

Ben Affleck foi sempre carinhosamente (talvez nem tanto) chamado de Bunda Affleck por moi. Seu grande pecado? Ter namorado a bem grande bunda 'en route' e errada da Jennifer Lopez. O problema com isso? Todos. Quem pode em sã consciência pensar que fazer parte da febre popular norte-americana conhecida como 'Bennifer' vai fazer com que sua imagem ganhe qualquer coisa parecida com integridade? Só um louco pra pensar isso... Só um louco pra não se importar... Só um louco pra reconhecer o outro...

Enfim. 'The Town' é um filme dirigido por Ben Affleck, estrelado por Ben Affleck, roteiro de Peter Craig, Aaron Stockard e... Ben Affleck (!) baseado no livro 'The Prince of Thieves' de Chuck Hogan. A história é conhecida para aqueles que sacam que a maior população Irlandesa fora da Irlanda está em Boston, Massachusetts nos Estados Unidos e errados da América. Como tudo de certo do mundo está caído moribundo e quase respirando em alguma parte da terra do Tio Sam, com essa história não poderia ser diferente...

Um rapaz (Ben Affleck a.k.a. Bunda-Man-Que-Tem-A-Cara-Do-Meu-Pai) todo machucado por um passado no mínimo brutal, com um corpão tipo 'papai-esqueci-de-ler-mas-lembrei-de-carregar-esses-sacos-de-pedra-pra-pagar-as-contas-do-mês' cheios de olhares doloridos para cima dos seus amigos que infelizmente são mais cheios de testosterona do que de qualquer massa cinzenta entre as orelhas (Jeremy Renner, Owen Burke, Slaine) acaba se apaixonando por quem não deve: a moça gerente do banco que ele acabou de roubar (Rebecca Hall, a mulher da tela de prata que é como mulher de verdade é). Também pudera. Ela não é só linda (e não é mais 'linda' tipicamente falando do que a vaca loira que dá em cima do nosso herói o filme todo interpretada pela super-duper popular Blake Lively), ela é também... simplesmente simples. Porque não existe coisa mais linda do que notar que alguém é excessivamente real, tão real que deixa a ferida à mostra...

Rebecca Hall e Ben Affleck

Eles se apaixonam o suficiente para que todo o resto pareça inútil mesmo sem nada disso ficar óbvio... sim, caros amigos, viver vale a pena quando amar é o seu único objetivo. O problema no entanto, fica mais embaixo... Ele precisa enfrentar muitos obstáculos: a máfia irlandesa de Boston (leia com sotaque), o FBI e o fato de que a linda da moça não sabe a verdade a respeito do seu grande amado...

O que fazer?

O que fazer é simples, veja o filme. Ou leia o livro. No Brasil-de-meu-Deus, eu não sei como o chamam, acho que ainda não tem em Português de qualquer forma... então esperem o filme e vejam porque, no fim das contas, um cara que era conhecido como a piada bunda de um PAÍS virou um cara grandalhão, com uma mente feita de mercúrio, preparada para se adaptar o suficiente, preparada para não ser mais nada do que a voz simples de um amor maior do que a vida e uma verdade ainda maior do que isso.

Afinal de contas, certas vezes tudo o que precisamos é ir à beira do ridículo da popularidade para que a voz seja entregue a quem nunca conseguiu se expressar porque nunca soube como.


Poster original do filme


***


27.9.10

sobre o calor



- Cansada. Seus lábios pesavam irreverentemente, a pele transpirava como se a dor de se carregar todo o desejo do mundo não fosse incrível o suficiente. Como se tudo o que se deseja não fosse nunca o suficiente.

Ele notava o coração palpitante no pescoço, a pele ainda eriçada. Percebia a respiração aparentemente calma que com angústia revertia o pequeno nariz dispendioso em templo temporário. Gostava do olhar pesado que ela sempre teve, um peso de tudo aquilo que encharca sem deixar derramar.

Ela não deixaria derramar, não para qualquer um.

Duas pernas de fora e um calor de se rasgar a roupa por alívio. Suas duas pernas que andariam o que fosse por ele. Ela de fato nunca admitiria... duas pernas prontas para largar tudo por ele e pelo suor do seu corpo. Ela, toda pronta para confundir-se com a química do suor dele...

As mãos nervosamente procuram pela página perdida no devaneio.

(Sonhar tão grande e grave deveria ser coisa para algum quarto escuro...) -



12.9.10

escrevi não faz tanto tempo...



-A Página Em Branco. Escrevo Assim Porque Assim Enche Mais O Branco. o assim que sem ter muito a ver com o branco o preenche. EntendE? Com a mesma violência com que Jamie toca qualquer coisa que toca, o meio fio fica a mercê de qualquer coisa que seja. Eu estou a espera, qualquer coisa em primeiro lugar, em segundo vem eu. Terceiro é quem vem em primeiro, e o grande e imenso véu que cobre os olhares secos também esperam por água, ÁGUA, gritam, esperneiam. A areia cobre até os mais miseráveis dos milionários. Todos comem da mesma terra. Todos Comem Da Mesma Terra. Assim encho mais o branco que já não é mais tão branCO assIM. Pois a mulher que me é vive quieta no retrato. Ela está a espreita de qualquer coisa e eu aceito. Aceito alegre pois feliz seria impossível de se aceitar qualquer coisa. Teimo em sair enquanto a neve cai e cobre quase tudo descoberta, é a verdadeira descoberta do ser pequeno. Do ser indiferente. Eu sou indiferente a mim mesma e no entanto ainda prezo pela minha frequente vontade de me criar, criar? Me criar mais. Me regar até que as raízes possam facilmente criar mais e mais filhas até que alguém desprovido de intento arranque-as da onde for que tenham mantido moradia. Assim fico feliz. A música tocA. Toca oca e toca redonda. Porque todo oco é redondo? Minto. Você mente. O oco não é redondO. É ocO. É o osso dentro de um tal osso que responde ao chamarem pelo nome oco. Alguém arrancou meu sorriso, pregou na parede seca, tão seca quanto a minha garganta oca. Nessa parede não existem palavras que expressem a falta do meu sorriso na área mais frágil do meu corpo, é oco. O tal do osso... ele ressona íntimo, quase meu e aceito, alegre porque feliz não se aceita viver. Feliz não é, nem nunca foi. Feliz sempre será. O dia não sorri porque quem quer que disse pela primeira vez que ser sol é ser inteiro estava equivocado, as flores não cantam, choram e a noite tão contida e intensa se derrama por si. A Lua É Inteira Como É InteirA A noitE quE A cobrE poR fiM.-



10.9.10

por fim, enfim



enquanto cor e enquanto força, a marca do peso quase leve demais perdia a pureza e o resultado era a fome. a fome para que o gosto não se perdesse por completo. para que as marcas na sua história não fossem tão passageiras quanto as que já se apagavam do corpo.

enquanto tempo, ela não o dominava e nem pedia por mais. 

ela queria menos. 

menos espera nessa sala cinzenta e com cheiro de incerteza que tão bem conhecia.

mas enquanto esperava, rabiscava qualquer coisa num pedaço de papel. seria o rosto dele? ou um nome quase esquecido que ainda vagava pelos seus sonhos diários, um tipo com um ar de problema e recompensa maior do que a espera, mais aguardado e menos impossível de se obter do que a paz mundial, mais relevante ao seu mundo de cubículo em romance clássico do que qualquer outro mundo infantilizado ou estilizado de suas companheiras de sala de espera...

era. era ele por fim.

um nome. ela tinha algum nome escrito num papel, enfim.



***


*foto: aubrey no fígaro, por moi.

2.9.10

o homem da razão





'o que é isso então?' foi a pergunta que estraçalhou todas as incertezas que ele carregava nos ombros naquela tarde fria.

'um nada. para que algo tem que ser qualquer coisa?'

mesmo sem querer ele queria não querer e isso sem dúvida alguma era a dúvida que ela representava. 

a dúvida. porque ela sempre perguntava e respondia com a negação em mente? 

porque era mulher, uma mulher de pele tão feminina que todas as flores da estação revidavam com o mesmo vigor quando ela passava... as cores desavisadas revidavam em tons mais quentes, as dobras e cantos das pétalas se rebuscavam incandescentes num ato de pleno desespero e medo de perder suas posses, as folhas envergonhadas rejeitavam o vento e as árvores... bem, as árvores observavam quietas mais uma rival móvel, enfeitiçante e enfeitiçada como o vento que não fazia mais do que passar e partir... para nunca mais ou para talvez amanhã cedinho.

era mulher. a mulher que era a dúvida.

'e porque tamanha dúvida? por que não acreditar no que não se tem razão?'

'porque de falta de razão quem entende sou eu, e tudo o que eu quero saber de entender agora é de você... razão aparte de mim que quero ter... para mim.'

o vento soprava quase infértil...

'porque o vento é homem da razão..'


***



*imagem Alice & Jo do filme 'dans paris'.









21.8.10

because the evening i've always longed for...


*** eu. eu que gasto horas da minha noite, do meu dia, do meu sono, do meu sonho com tudo aquilo que me faça chorar.

não, o chorar não é o que me preocupa nesse exato momento, o chorar não é o importante. o sentir é. sentir-se inteiro de alguma forma que seja, mesmo que seja chorando já que todas as outras opções simplesmente se transformaram em leves visões de um mundo além do meu.

tudo o que eu quero, eu quero inteiro, mas deixo passar por inteiro. por amor a liberdade do outro, por amor a uma vida que não seja a minha mas que seja repleta, eu deixo tudo aquilo que amo ir. como se asas fossem tudo aquilo que eu pudesse dar a alguém. a todos.

o teclado. ele é o único que permanece quieto, a espera. a espera é seca e bruta e quase entorpecente, eu a conheço tão bem... e é quando a espera aperta os punhos, retruca em voz mais alta do que a sua e te joga contra o chão que o choro é o único abandono seguro, a única voz que acalma mesmo que silenciosa.

o choro é tudo o que no fim, tenho.

mas então que eu desejo não dar asas a ninguém. não reverter amor inteiro em amor de lembrança, fazer com que o agora se transforme num amor de hoje, amanhã e até que a morte nos separe.

mas a morte vem, e a separação é irreal. a dor é mais real do que tudo. o choro. não que eu saiba do que estou falando afinal saber e acreditar são todas facetas removíveis desse boneco que somos nós. esses bonecos bestiais. bestas. esses pedaços de pano, mal formados que de repente tomaram conta do mundo.

eu quero um tempo. um tempo para me distanciar de tudo o que eu deixei livre pois por deixar livre acabei me agarrando a qualquer coisa que havia sobrado: um pouco do cheiro, uma peça de roupa, uma carta, um beijo.

quero que tudo o que tenha sobrado vire o resplandecer de um por-do-sol contra um oceano azul esverdeado de um sonho bom. quero que o que eu tenha e o que eu seja, seja de fato inteiro e por inteiro como eu, que tudo o que seja, seja meu.

na verdade, é só isso o que eu quero e por querer o que quero sei da grande possibilidade de tudo isso não passar de um projeto bobo, infantil, ingrato... mas não. o querer é o que sou. o querer é o próprio núcleo do que eu sou e por conseqüência tudo o que importa.

(entenda, se a dor não investigar todos os cantos do que sou e não responder por mim, o meu buraco e o meu vazio nunca chegarão ao fim. a luz. eu só quero alguma luz.) ***


20.8.10

can't buy a thrill




"oh... I ride on a mailtrain, baby... 
can't buy a thrill..."
dylan, bob dylan


e que a noite chegue para que nada se apague, para que algo puro dure, para que o nome que alguém no futuro der a isso tudo seja o mais parecido possível com amor.

amor, por isso vivo. viver nos cantos sujos de um mundo ditado por poucos, responsável por muitos, renegando aqueles que seriam os novos guardiões de um tesouro maior que não chegou a ser nada além de um sonho bom de domingo cedo... 

debaixo de um sol calmo... que seja amor.

que a noite chegue abençoando a cegueira absoluta e todos aqueles que se alimentam dela... 


que a lua nunca nos deixe descansar.


***


foto por mim mesma.


17.8.10

despreparo...




então que me deixe ser. 

que os dedos fiquem presos aos meus cabelos já que nunca tive medo da imagem turva que a memória teima em não apagar.

o gosto dos dentes contra a carne ainda fresca depois de um banho qualquer... ela estava preparada para que aquilo que estava pronto para acontecer a seguir não fosse apenas mais uma noite em suas vidas. eles eram como feridas abertas que resistiam e resistem e lutam contra aquilo por trás desse sistema ruim. sistema esse eternamente usado como único mecanismo de apego a essa inútil sobrevivência subserviente. sim, corpos prontos para quebrar tal mecanismo, por uma hora ou duas, três ou talvez cinco. eles nunca se preocupavam em contar o tempo como quem conta hora ruim... no fim das contas, a dívida seria imensa.

o banho não tinha sido um qualquer, foi o previsto. por tanto  esperado e minuciosamente desejado.

a água que corria e escorria pela sua pele teria pouco o que contar em relação ao que ele teria preso no peito, para guardar como seu para um todo sempre quase sempre demais. um embaraço magistral de amor que ele nunca havia conhecido, pelo menos até se conhecer com ela.

como se vive assim?

não sei.

se vive?

acho que não. se espera.

pelo viver?

pelo você perto de mim, novamente.

e isso, é viver? e se estar é viver, o que é o esperar?

é o não ter, temporariamente.

não ter, não ser. o verbo que é o mesmo em tantas línguas teima em ser dois nesse português bem gasto... e nos empurra a voltar ao que é necessário para a sobrevivência. o desejo é muito, cobiçar é querer em dose tripla tudo o que se espera do mundo. afinal os frutos são o que são, nascidos da mesma terra que nos deu a vida...

o fruto é um e se não fosse um, seria todos. o que eu quero eu quero em um, inteiro. e só pode ser inteiro quando é comigo.

o que é isso que eu quero? esse gosto de um...

um gosto que a gente não esquece, um cheiro que não larga, uma textura fina demais que foi feita para ser entregue a farta falta de escrúpulos da nossa sede...

ah, essa sede.


ninguém aprende a passar por isso...




***