8.7.08

If Only - terceira parte

para quem se perdeu aqui está a primeira parte da história e a segunda. logo abaixo está a terceira, quentinha, acabou de sair do forno!

aproveite!

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dois anos haviam se passado e camille se preparava para mudar. enquanto encaixotava livros, revistas onde publicara artigos, fotografias e quadros lembrou-se daquele velho poster dentro do seu armário. abriu a porta e encarou os mesmos olhos que deixou escapar há um certo tempo atrás. por alguns instantes distensionou todos os músculos da face e fechou os olhos pra não ver mais nada... tateando a porta, arrancou o poster deixando rastros da cola na madeira escura e o amassou por completo, assim abrindo os olhos e jogando o poster fora. passou o dia fazendo isso: encaixotando e jogando fora coisa que não prestava. à noite o telefone toca.


-alô?
-camille?
-yep. julie?
-sim!
-meu deus, achei que ce tivesse morta!
-para camis!
-hahaha verdade! nunca mais ouvi notícia...
-a vida aqui tá difícil...
-achei que não tivesse não! na última vez que nos falamos você tava amando e toda feliz!
-ah mas sei lá, a vida não é como era naquele tempo...
-você fala como se tivesse passado uma década!
-pra mim foi!
-louca!
-virada!
-boba, não sabe nem xingar!

no telefone era julianne, amiga de infância de camille. não se falavam desde que julie se mudou para a Irlanda, "pra fazer o que eu não sei!" era o que camille pensava...

-então camis, to aqui em Portland.
-o que!?
-é o que você ouviu tonta.
-ai que maravilha! ainda bem que você chegou agora porque eu to me mudando.
-quando?
-em dois dias!
-pra onde?
-pra NY.
-ah para!
-verdade caramba.
-fazer o que lá?
-fazer tudo! advinha?
-o que? casou?
-não...
-então o que?
-o que eu sempre quis fazer na merda de nova york sua louca?
-hmm, sei lá!

camis girava os olhos enquanto andava pela casa, julia continuava a mesma!

-eu vou ter uma parte no programa do Henry Jones!
-tá zuando!
-não! ele me contratou, pessoalmente, e eu vou lá semanalmente pra falar sobre a política atual e coisinhas do gênero... ce acredita?
-caiu nas graças do homem!
-sim!
-caiu na cama também?
-não!

as duas riam e voltavam a lembrar de como eram próximas há um tempo não tão distante assim...

-quem diria hein, camis?
-é... e você tá aqui pra que?
-voltei a morar aqui.
-sério?
-sim.
-ah! isso é muito bom, você era feliz aqui eu acho.
-também acho, mas agora triste pra burro.
-porque eu to indo embora?
-é claro!
-não fica! vamos nos ver vai, me passa o endereço da onde ce tá, vou te buscar amanhã.

ela anota o endereço e dá boa noite falando que está cansada. ao desligar o telefone, ele toca de novo. ela olha pro relógio que marca 11:29 e pensa "ai não creio que ela tá me ligando de novo! tá tarde", mas ao olhar pra tela percebe que o telefone que aparece ali não é o mesmo. atende mas a pessoa do outro lado não responde, então ela desliga e se prepara para ir dormir.

***

na manhã seguinte, acorda com o seu cachorro bubba lambendo sua orelha...

-tá achando algo interessante aí bubba?

faz tudo que sempre faz, seu café com leite, suas torradas light com cream cheese light com ervas finas, um copo gigante de água, banana amassada com aveia e mel numa bandeja enorme na mesa de centro da sala... televisão ligada no site de notícias e camille murmurando pra si mesma enquanto ia de um lado para o outro "bullshit, bullshit, bullshit"...

até que um nome chamou a sua atenção. da televisão ela ouviu:

"steve everston, líder do grupo de rock baylock baseado em portland fala ou vivo da parte baixa de Manhattan, protestando contra mais uma tentativa do governo de invadir o irã"

camille corre para a sala e aumenta o som pedindo pro seu outro cachorro gipsy, ficar quieto. a notícia continua e mostra cenas ao vivo de steve em um palanque improvisado, atrás dele os prédios de NY, ao seu lado famosos músicos, escritores, atores e gente de grande importância pública apoiando seu discurso. camille logo nota seu novo chefe, henry Jones ao lado de algumas dessas celebridades. não sabe o que fazer mas tenta prestar atenção apenas no que steve fala, a câmera chega bem próxima de seu rosto, seus olhos continuam os mesmos, enfurecidos, sua barba agora muito mais crescida, seu cabelo muito mais bagunçado. o repórter corta a sua voz e diz que muitos "ao redor de todo o país estão simultaneamente protestando contra a nova e não-declarada guerra". o telefone toca assustando-a, e ela não decide atender, fica apenas paralisada a frente da tevê, quieta.

o telefone toca novamente, e certa de que era julie, atende enfurecida:

-caramba Julie, agora não é hora!
-camis?
-eu?

para sua surpresa, não era Julie, era Steve.

-Camis, ce tá me ouvindo?

era muita gritaria e ela mal entendia o que ele falava.

-mais ou menos! acabei de te ver na tevê!

-é! meu discurso acabou de acabar.
-eu não to crendo! eu não fiquei sabendo desse protesto.
-não foi como a mídia anunciou... não pretendíamos fazer nada disso!
-então...
-foi complicado, eu to em NY e o henry me disse que você está vindo pra cá.
-sim! ele me contratou, acredita?
-sim... a gente se fala quando você chegar aqui, está bem?
-ok.

o barulho era intenso, e steve precisava partir.

-viu, eu te quero bem.

a linha caiu antes que ela pudesse falar qualquer coisa. na televisão um comercial qualquer passava e prontamente ela desligou tudo. se vestiu rapidamente e foi tirar seu carro quase nunca usado da garagem, sua amiga a esperava.



***