21.7.08

if only - quarta parte

para quem se perdeu aqui está a primeira parte da história, a segunda e a terceira. a quarta esta fresquinha e postada aqui:


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"queria tanto poder voltar naquele dia."



camille escrevia com o corpo todo apoiado sobre sua escrivaninha que era a única coisa que ainda não tinha sido desfeita para que pudesse mudar sem muito o que carregar. a mão que segurava a caneta suava, e por muitas vezes tinha que interromper para poder secar as palmas em suas calças jeans.

"foi exatamente uma hora que eu esperei lá fora, querendo te ver dar meia-volta, andando em minha direção e conversando comigo de novo, e desde então eu acho que não tive dúvida, algo muito importante nasceu dentro de mim naquela tarde,mas morreu naquela noite. algo que nem eu mesma sei da existência e nem sei de seu paradeiro... só sei que se foi. eu sei que tudo é muito complicado pra você, mais do que isso, eu acho que tudo é muito complicado pra nós, mas agora que eu vou te ver, não queria que nos víssemos sem que antes você saiba disso..."

a campainha tocou, fazendo camille pular da cadeira com o susto do barulho. largou a caneta e o papel sobre a mesa e abriu a porta pedindo para bubba se sentar.

era o rapaz que estava levando os móveis pra caridade para ela.
ele perguntou se havia mais algo que precisava carregar no caminhão e ela o disse que só mais aquela mesa. queria voltar à carta mas estava ficando tarde e precisava ir.

andou pela casa a procura de alguma outra coisa que talvez tivesse esquecido, mas não encontrou nada. dobrou a carta, colocou na bolsa e ajeitou as coleiras em seus cachorros, pela última vez foi até o quarto e abriu a porta do armário onde o que apenas restava de seu poster era a cola na madeira.


gipsy e bubba a seguiam. dentro do carro ela respirava fundo e sabia que era a vida nova chegando que a deixava mais assustada do que feliz. "a carta..." pensava, "preciso terminar a carta".



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a viagem era longa.

portland até nova york, "no mínimo uns quatro dias!", camille conversava com sua mãe no telefone.

-não mãe, nova york não vai me deixar caduca.
...
-hahahaha pra que né! já sou, não tem como ficar pior.
...
-sei...
...
-eu sei, já sei.
...
-viu, avisa don juan pra aparecer por lá. diz que a irmã feiinha dele tá com saudade.
...
-tá bem mama, ja vou ok? um beijo.


quando já era quase oito da noite, camille começava a ficar muito cansada. parou em um hotel no meio de Idaho em uma cidade chamada Nampa. ao fazer o check-in em um dos únicos lugares que aceitavam cachorros, ela notou o bar do hotel completamente vazio... seria o lugar ideal pra ela terminar aquela carta e a colocar no correio, antes de desistir de fazer isso, também!

se sentou no balcão e pediu uma taça de vinho. o bartender a mostrou uma carta de vinhos e ela só disse:

-ai senhor, escolhe pra mim!

entre um gole e um "obrigada" ao bartender, ela escrevia rápido e agora com outra caneta porque havia perdido a dela.

"antes de mais nada, desculpe minha falta de organização, eu sei, eu sei. comecei a escrever com a caneta azul e to terminando com a caneta preta. nada demais, é a mesma mensagem... enfim, quero que você entenda que o que aconteceu aquele dia foi estranho, muito estranho. mas naqueles segundos eu não pensava em mais nada a não ser o que eu tava fazendo com você. você não é um homem que eu conheci e pronto, você foi minha inspiração pra eu ser gente! ouvia você cantar desde quando era pequena e carreguei camisetas com sua cara estampada nelas durante todos os meus anos tristes e vazios no colegial. você foi minha razão pra ter um motivo pra inventar tanta moda e querer ir atrás de verdades que eu nunca vi antes de ver você. eu não sei o que poderia ter acontecido, e não quero saber. não sei se você tivesse voltado aquela noite eu mudaria de ideia, só sei que... eu estou cansada de deixar isso tudo me perturbar."

- a senhorita quer mais uma taça?
- ai, aceito sim. obrigada.


"não quero que você também me entenda mal, eu não estou dizendo que prefiro você ídolo do que você amigo, só prefiro você, não você e eu..."


assim que escreveu a última linha, camille congelou. não sabia mais o que estava dizendo, não sabia se ele não
estava mesmo nem aí e receberia essa carta dela chegando à conclusão de que ela sim tinha guardado esperanças esse tempo todo. ficou com medo, dobrou a carta, tomou toda a última taça e foi de volta pro quarto. amanhã seria um dia longo.


***