24.2.07

você me parece...


...familiar.
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como uma seia de natal. um penduricalho na árvore que você encontra na casa do seu amigo velho de guerra que te lembra dos dias em que seu pai te prometeu uma bicicleta mas não deu
porque teve de usar o dinheiro da pompança pra pagar a comida do mês... ah... familiar! como o revólver que apontaram na sua cara por sua amiga ter uma boca grande e deixar com que a coragem fosse toda sua, ó grande e lúcida mulher que não bebe! porque será assim tão melodramática a sua vida!? sim, muito... familiar! como o rosto desfigurado na janela que tem o cheiro peculiar de pinho, o mesmo pinho que está no desinfetante que você usa pra limpar o chão do banheiro na sua casa que não é o mesmo que a dona holanda usava pra limpar a casa que você morava com o seu pai mas que te fez lembrar daquilo mesmo assim porque é desinfetante de qualquer maneira e assim fica mais fácil de lembrar das coisas, unindo fatos, chegando ao passado, reunindo o futuro e blá blá blá. familiar como a roupa no varal e você correndo pelada pra pegar a única camiseta que você tem pra vestir! ai ai ai... maria do bairro é pouco pra você! dona familiar! amélia é pouco pra você! dona familiar, toda familiar! ju-li-eet é pouco pra você! e tudo me parece tão... familiar. como o tranquilo presentimento do desequilíbrio logo ali na próxima avenida, posto por pouco tempo na sua balança, retirado de cena ao leve som da deselegência. é familiar a tua música, como será em qualquer casa no mundo. é familiar o teu balanço, como será em qualquer esquina do mundo. é familiar teu sorriso como será em qualquer parte do mundo... e eu nem me lembro da última vez que te disse que ser tão familiar assim é bom. novas lembranças não me assustam.
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how familiar!