2.10.05

sou toda blue. e estou feliz.

blues. tristeza. tudo azul. felicidade.



no início eu nem parava pra pensar. mas agora eu só faço isso: pensar.
odeio descrever minha vida, meus dias, meus amores. só gosto de falar ao vento, como se estivesse cantando sozinha em meu quarto, então aqui deixo meu canto...
éramos vida, todos nós. éramos sonhos e utopias. eu andava a pé até esfolar meus sapatos, corria e suava. dormia três horas por noite, dava risada sem ter motivo e engolia sapos como ninguém, tudo pelo objetivo comum.
éramos pó. vivíamos comendo pó, vivendo de ar, amando sem parar. eu via amor no ônibus na avenida. no cinza que saía dos escapamentos. como essa cidade cinza é linda. eu era sol num dia de chuva. respirava com os pulmões mais adolescentes do planeta, afinal eu era uma.
bom, acordei. sou uma perfeita adulta, cheia de responsabilidades, cheia de loucuras frescas (que nunca vi alguém cometer). sou prosa agora. sou coisa de véio. sou gepeto e amo cantar. redescobri esse prazer que há poucos anos atrás era o motivo da minha existência. e ainda amo essa cidade do pó. do sol sem luz. dos motoristas escancaradamente mal-educados, das porra-louquices e dos preços abusivos. o lugar da vulnerabilidade instantânea, aquela que você compra no supermercado lotadérrimo. esse point onde tento me organizar, onde faço do meu corpo elástico brilhante, barbante e ninho de amor. amo essa cidade suja, que queima meu rosto, que arde meus olhos e que me dá uma rinite desgramada. a-mor. acima de tudo. por cima de mim.
sou toda blue. e estou feliz.