23.1.09

poesia emprestada, alma enganada



Meu amigo (eterno aluno) Gabriel Salomão publicou uma de suas poesias em seu blog que me deixou com a garganta seca. Pedi permissão para publicar aqui as palavras que me deixaram assim para poder dividir com quem me lê. Prestem muita atenção...


Esperei o meu homem sair,

Tomei banho, arrumei-me bem.

Retoquei maquiagem, troquei os brincos.

Penteei meu cabelo com mais cuidado.

*

Botei blusa nova, sapato novo,

Passei batom, hidratante e perfume.

Liguei pràs amigas, combinei cinema,

Jantar, danceteria e asilo.

*

Arrumei a cama, arrumei os vasos,

Ele sempre gostou muito do jeito

Como eu sempre arrumei os vasos.

*

Limpei a sala, os quartos e seus livros.

Passei pano nas estantes, nos móveis,

Escova no sofá, nas poltronas

E escovei os dentes.

*

Deixei três camisas passadas no armário,

Duas calças nos cabides e cinco gravatas.

Abri dois pacotes novos de meias,

Deixei roupas discretas limpas e guardadas.

*

O tênis do fim de semana, das caminhadas,

Deixei tomando um pouco do sol do dia.

Também deixei dois lençóis, brancos, macios.

Dois lençóis dos que ele mais gosta, um na cama,

Um no armário, cheiroso como se fosse novo.

*

Deixei sopa na geladeira, um pouco de arroz,

Dois bilhetes na porta branca, bilhetes brancos

Com instruções, telefones de faxineira,

Rotssérries e pizzarias.

*

Ajoelhei na frente do fogão, para ver uma torta,

Se estava pronta para o meu marido.

Tirei a torta, mas deixei o fogão aberto, respirava.

Desliguei o fogo sem desligar o gás.

*

Ouvia seu carro à frente de casa, as palavras,

Avisando como sempre, que chegava e queria comida.

Sobre meus sapatos altos e pretos, com meu vestido,

De renda e decote, que mostrava o que devia.

*

E com a mala nas costas

Virei pro meu homem e disse:

Amor, nosso gás acabou.



***