9.11.08

Motivos para se deixar ser - Parte II

Afiado ele respondeu a altura. Tinha pressa. E quando a chuva não da trégua? A quem eu devo correr? E era a chuva quem respondia com mais urgência sem meias palavras. Ele era urgente e gostava de quem o era junto dele. Enquanto esperava pregava a fina pele que recobria a fronte na camada grossa, quase a prova de balas do vidro de uma janela que por pouco era completamente ignorada até então. Ele observava as lágrimas na janela escorrendo, como um bom cliché. Ele era um cliché que respirava e que pedia por mais do que jamais teve: ela. Um cliché quase que sem lugar na historia, um cliché mal empenhado. O sono, ele esperava, viria mais cedo ou mais tarde mesmo que se precisasse tirar um dia para se jogar na inércia de um repouso profundo, mas viria. Ele aguardava e em silencio se perguntava se deveria se manter assim por mais tempo.

***

A manha chegou. Os pés ainda calcados sobre a mesa de centro, a TV ligada sem qualquer som, pessoas alegres e saltitantes na tela. Os olhos dele pregados ao teto como se houvesse alguma solução naquele fundo branco inteiro, uma tela pronta para ser preenchida, e ele a preenchia com imagens de qualquer coisa que poderia estar a viver agora, mas se estivesse não seria tão bom, e mesmo se o fosse não seria tão atraente...

Ele aceitava. Compreendia com um conhecimento fora de série, era um modo de se olhar a si próprio que calado caia por terra desarmando o seu próprio ser, ele se desarmava por se entender e pedia quieto por dois trechos de insanidade para se perder no que queria ter. Queria ser livre do seu discernimento. Queria ser. E ao sorrir percebendo o quanto se expunha a si mesmo fechou os olhos, sereno.

Dormia em paz pela primeira vez em dias...



...CONTINUA...