27.11.08

talk about the passion

"Empty prayer, empty mouths, talk about the passion,
Not everyone can carry the weight of the world."
R.E.M.

Ele rangia os dentes, algo como que uma ideia passava por sua cabeça. Era um frio vazio que o alimentava. Ela pairava à sua sombra, penando para não ser apenas mais uma.

Era um dia escuro lá fora e seria de um tom infernal se essa história fosse sobre qualquer outro que vivesse por ali, não para os dois. Ele permeava em sons quase primitivos qualquer fosse pensamentos em tons variantes de verde, ela os
pinçava e os adornava com terríveis realces de cores incríveis. Eles se entendiam num silêncio que também pareceria infernal, mas nesse caso apenas preparavam o território. Algo sairia dali. No peito, uma paixão e apenas ela era o antídoto de si própria, nas mãos as sementes do todo que as rodeava, era de se esperar nascer um quê de tédio de frente de tamanha e árdua vontade, eles fingiam bem.

Enquanto o disco rodava, sem som, ele parou para respirar.

"Suas anotações parecem que saíram do meu lápis"
"Suas palavras parecem que saíram dos meus lábios..."
"Acho bem correto isso..."
"Penso em perfeição"
"Penso em dois... talvez..."
"Um?"
"Um."

Ela o rendia. Era de incrível encanto, quase surreal, mas ele era de se espantar. Era de uma terrível certeza que a diminuía e com isso a prescindia. Toda essa vontade era viva bem antes dela a agarrar com todas as suas forças. Era apavorante e ao mesmo tempo, inteira.

***

Num pulo, um vento que forçou papéis e idéias rasgadas a se desencontrarem pela sala também desavisadamente escancarou a porta que muda mantinha-se imune até então, os passos dele cobriram o piso - e as folhas - de marcas. O tapete era grosso. Ao fechar tudo novamente e passar o cadeado em tudo, se espantou ao perceber que revivia aquela cena novamente. Parou por um segundo e se perguntou, quase que verbalmente se havia vivido aquilo antes. Ela, que se mantinha a distância catando as folhas abandonadas, respondeu num fôlego só que sim.

Ajoelhada parecia que o fazia remeter a alguma cena estridente que convivia com todos os outros pensamentos na base do seu cérebro, era algo profundo de fato. Ele caminhou até aquela quase desconhecida e colocou sua mão direita sobre seu ombro contrário, algo como uma frase se descolou de seus lábios.

"Eu já sabia..."

Espantada voltou seu rosto para o único dos mortais que restava sobre aquele mesmo tapete. Ele se ajoelhava.

"Eu também já sabia..."

Nós também já sabíamos.

***