2.10.06

boleira em crise.

"essa sua cara tá cheia de cópia. resolvi escrever pra desabafar com você, tirar o peso das minhas costas de moça forte que sou. esse chão não é lavado há meses, não é? você esqueceu de entregar com fita azul toda a gentileza às damas da sociedade que deixaram de lado o fato que tudo isso aqui é nosso... você perdeu todo o tesão pelo o que é verdadeiro. pois bem, tudo tem que ser assim, na mesma moeda. de sacanagem como tom e ana falaram, eu vou querer o bem do bem, esperar que você também, do mal, arranque essa cara lavada da minha frente. me dá nos nervos e naqueles nervos já bem nutridos, ver gente que não entende falando pelos cotovelos. perdidos nesses labirintos abissais, nessas latrinas celestiais, regadas a lavanda e a cheiro verde. todos que aqui estão aqui pagarão, já dizia vovó. ah! a vovó que carregava meu nome na sua certidão que me fez acreditar toda minha infância que era má e preconceituosa, mas que no fim me mostrou que era uma mulher brava, muito brava. e toda mulher muito brava bate a mão no peito e grita com vontade pra quem quiser ouvir! ouviu? não ouviu não? tô gritando bem agora, que agora é a hora da raiva contida que abriu um canto de fresta no meu peito pra sair. pois é assim. eu quis escrever essa carta porque nem só de doce vive o boleiro. como bem sabemos a vida é pra ser vivida aos seus próprios moldes, cada um com o seu mas todos querendo o bem. e me cansa não ver o bem. 'atire a primeira, atire a segunda iáiá, até descarregar o tambor...' ai lenine, me salva! o bem que o bem faz, me faz tão bem e eu quero ver só o bem, mas hoje tá tudo assim, bem, muito bem descarregado em cima de mim..."