5.12.08

O grande Vazio perante a Grande Verdade inexistente, tenho dito




Eu não quero críticas. Não as aceito agora. Não quero simpatia, gente concordando ou não comigo agora, por mais que eu ame alguns e não me incomode com outros. Não existe fundamento nenhum em nada do que eu vou dizer justamente porque é sobre ele que vou dissertar. Justamente porque pela verdade que eu toco e que mora num estado invisível para os nossos olhos imundos, não se chega a lugar nenhum. Não preciso nem que leiam o que eu tenho a dizer, eu nunca pedi pela piedade de ninguém que fosse, sei que sempre serei esse ser sem pátria, sem vergonha e sem realidade assumida, não preciso ser aceita ou resumida, sou. E por tanto ser de qualquer jeito que seja, vou dizer tudo isso que tenho a dizer.


Cansei de chorar seca, sem ter mais de onde tirar lágrima. Cansei de olhar para uma caixa de luz na sala, ou para um lençol pendurado num salão cheirando a mofo soluçando, sem nem ao menos ter a certeza de que aquilo que estava fazendo parte da minha vida nos últimos sessenta e poucos minutos era uma mera ilusão e uma imagem fictícia baseada na imaginação fértil de algo que se assemelhava a um humano como eu. Não tive - e não tenho - esse tempo para perder, porque o tempo é meu amigo.

Cada vez que era ensinada - e vou usar essa palavra sem te-la sendo levada pela sua conotação real - por alguns filmes e outras imagens pouco "reais" a entender que o mundo gira sobre uma mentira bem sucedida, minha lição era maior do que minha pena. Uma pena que entrou em colapso há um bom tempo atrás quando descobri que estava formando uma mente um pouco doentia, um pouco pessimista, um pouco ilusionista e muito intrigada - eu disse
intriGADA e não intrigante - além de alimentar fantasmas que correriam atrás de mim, sem ao menos qualquer pedido de permissão nem nada. Eles simplesmente se alimentavam de minha ingenuidade, e assim ela partiu a cavalo, pra longe daqui - mas não muito longe, às vezes ainda vem me visitar, mas não vem ao caso.


Aprendi logo a me desligar, aprendi a tentar correr o mais rápido que conseguisse, mas toda vez que corria mais, mais próxima da verdade eu chegava. É, eu sei... é o que você ouviu.
Ela se apressava e me alcançava, onde eu ia lá estava ela, logo atrás de mim.

Um belo dia que eu caminhava por algumas ruas longe de onde eu vim originalmente, ela me chamava com uma aguda preocupação. A rua - que estava logo ali, sob os meus pés - gritava meu nome. Achando que era algo inocente, fui. Entrei pela porta onde via aquela luz meio apagada, mas - agora sim - intrigante. Me deixei passar de louca e fui. Nos primeiros segundos lá dentro achei que fosse mentira, claro que achei! Comprei o bilhete, entrei na sala fedida, sentei na poltrona vazia como estavam vazias as outras duzentas daquela mesma sala e esperei.


O tudo se desenterrou e se perdeu, em mim.


Confesso, nunca mais achei o fio que me levasse a bela e delinquente
desrealidade que vivia ou, melhor ainda: que fingia, desesperadamente, viver.

Eu, sinceramente cansei de tentar descrever o que vi ou qualquer coisa que aprendi, desisti de tentar e quis permanecer por algum tempo quieta. Tentei calar. Tentei de todas maneiras me negar esse direito que foi imposto a mim por alguma força estranha do destino ou de qualquer coisa que alguém queira chamar de... whatever, mas não consegui e falhei. Falhei em ser mais - ou menos, ou até nada e tudo - e falhei por simplesmente aceitar o que ouvia e que não era percebido já que palavras não eram quem explicavam a nota, era algo além disso, qualquer brilho fraco que só eu vi, que só eu - e talvez mais um ou dois - presenciou como alguma visão de um inferno particular esquisito, quase céu, quase um conforto do nada, um fundo num vazio tremendo.

Eu ainda penso que, sem nexo, chego num um. Um? Um o que? Qualquer coisa que eu sei que é, mas que não sei como e nem onde ou quando. É. E será, ou não, eterno, ou foi, só ontem.


É... É e é.


***