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***
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Era cedo e a janela do quarto era imensa, o vidro era espesso e você estava sentado nos pés da cama olhando o sol nascer e estava lindo do seu jeito, esperando eu acordar. Enquanto o sol nascia, enquanto o calor o acompanhava e seus olhos se irritavam com a luminosidade, enquanto eu observava seu tronco imóvel, sua respiração curta e seus lábios levemente entreabertos... enquanto tudo parecia um sonho eu senti que a miragem era nítida mas só óbvia para mim. Se existia qualquer coisa entre essas duas pessoas que não se conheciam essa coisa era um vazio inexplicável e uma vontade maior do que o vazio. Você continuou ali, imóvel.
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Eu me sentei enrolada no lençol e fiquei ali olhando o céu enquanto você olhava para mim. Continuamos ali um bom tempo até a primeira palavra que eu quase sussurrei, quase porque estava tão silencioso que qualquer ruido parecia um rufar de tambores.
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"Não parece o dia em que nos conhecemos..."
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Naquele momento sim, você se lembrou do dia que nos vimos pela primeira vez. Havia sido há alguns anos atrás, numa tarde ensolarada como todas as tardes do sul da Califórnia, onde todos so sonhos se realizam e se entrelaçam como um corredor de luz, um espetáculo de nuances de azul. Onde todos são blue. Eu estava há alguns metros do mar e não estava sozinha. Você caminhava com os pés na água sem ligar muito pra tudo em volta, seu pensamento estava longe e eu o reconheci mas não quis admitir a ninguém. Você estava tão quieto e triste que doeu em mim e o alcancei mais a frente depois de te ver caminhar por alguns minutos. Você sentiu alguém chegando e parou. Eu congelei com o acontecido e você se virou de frente para mim. Deu um sorriso lindo, meio sem graça com os olhos molhados e voltou pro seu caminho. Aquilo marcou minha memória e eu me mantive quieta pra não me perder em você. Para não querer gritar seu nome, que sabia, que havia decorado com prazer depois de te ver tantas outras vezes...
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Você havia aparecido e sumido, tudo num período de dez minutos que agora voltavam à sua memória. Você olhava para mim e não acreditava que havia me abandonado ali na praia sem nem saber quem eu era. Respirando fundo e ainda com o olhar fixo em mim ou em qualquer pessoa que eu havia me tornado para você, sua voz saiu com um peso de recomeço, com um ar de reticências...
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"Não parece... mas também não parece qualquer coisa que já vivi antes..."
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Foi quando tirei meus olhos da paisagem e os pousei sobre você. Puxei você pra perto de mim e você se deitou sobre meu corpo, se encaixou embaixo do lençol, entre minhas pernas com o rosto descansado sobre meu peito me abraçando forte como se nada mais importasse. E eu queria te dar naquele momento tudo o que eu tinha, toda a minha vida mas o sol estava tão forte, já não dava mais tempo.
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Era cedo e a janela do quarto era imensa, o vidro era espesso e você estava sentado nos pés da cama olhando o sol nascer e estava lindo do seu jeito, esperando eu acordar. Enquanto o sol nascia, enquanto o calor o acompanhava e seus olhos se irritavam com a luminosidade, enquanto eu observava seu tronco imóvel, sua respiração curta e seus lábios levemente entreabertos... enquanto tudo parecia um sonho eu senti que a miragem era nítida mas só óbvia para mim. Se existia qualquer coisa entre essas duas pessoas que não se conheciam essa coisa era um vazio inexplicável e uma vontade maior do que o vazio. Você continuou ali, imóvel.
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Eu me sentei enrolada no lençol e fiquei ali olhando o céu enquanto você olhava para mim. Continuamos ali um bom tempo até a primeira palavra que eu quase sussurrei, quase porque estava tão silencioso que qualquer ruido parecia um rufar de tambores.
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"Não parece o dia em que nos conhecemos..."
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Naquele momento sim, você se lembrou do dia que nos vimos pela primeira vez. Havia sido há alguns anos atrás, numa tarde ensolarada como todas as tardes do sul da Califórnia, onde todos so sonhos se realizam e se entrelaçam como um corredor de luz, um espetáculo de nuances de azul. Onde todos são blue. Eu estava há alguns metros do mar e não estava sozinha. Você caminhava com os pés na água sem ligar muito pra tudo em volta, seu pensamento estava longe e eu o reconheci mas não quis admitir a ninguém. Você estava tão quieto e triste que doeu em mim e o alcancei mais a frente depois de te ver caminhar por alguns minutos. Você sentiu alguém chegando e parou. Eu congelei com o acontecido e você se virou de frente para mim. Deu um sorriso lindo, meio sem graça com os olhos molhados e voltou pro seu caminho. Aquilo marcou minha memória e eu me mantive quieta pra não me perder em você. Para não querer gritar seu nome, que sabia, que havia decorado com prazer depois de te ver tantas outras vezes...
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Você havia aparecido e sumido, tudo num período de dez minutos que agora voltavam à sua memória. Você olhava para mim e não acreditava que havia me abandonado ali na praia sem nem saber quem eu era. Respirando fundo e ainda com o olhar fixo em mim ou em qualquer pessoa que eu havia me tornado para você, sua voz saiu com um peso de recomeço, com um ar de reticências...
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"Não parece... mas também não parece qualquer coisa que já vivi antes..."
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Foi quando tirei meus olhos da paisagem e os pousei sobre você. Puxei você pra perto de mim e você se deitou sobre meu corpo, se encaixou embaixo do lençol, entre minhas pernas com o rosto descansado sobre meu peito me abraçando forte como se nada mais importasse. E eu queria te dar naquele momento tudo o que eu tinha, toda a minha vida mas o sol estava tão forte, já não dava mais tempo.
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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À ALICE SALLES
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