21.4.07

"Uma lembrança para Josh" - mais partes, mais partes...

Você se lembra do caminho? Se lembra do taxi? Eu não conseguia parar nenhum então agarrou minha mão e se colocou na frente de um deles enquanto o vento frio e a noite começavam a me lembrar de quem eu era, de onde eu estava e porque estava ali, segurando a sua mão. Foram alguns minutos dentro do carro, olhando pela janela tentando me entender. Sempre tive aquela sensação de quando chegasse o momento eu saberia, mas eu não sabia de nada! Respirava aquele ar gelado e me doía o peito, olhava pra você e você não olhava pra mim, era uma aflição, um receio que cresceu, que me tomou, que me enjôou e eu cheguei mais perto da porta, pra longe de você que percebeu o que tinha acontecido. Não tentou me puxar pra perto e nem tentou falar comigo, durante aqueles longos e poucos minutos que pesaram em meus ombros. Ao chegar no hotel você pagou o motorista e me seguiu entrando pelo saguão, foi próximo de mim como uma sombra, um vulto sereno, todos olhavam para você e logo em seguida para mim, com aquele ar de incompreensão. Esse hotel era bem diferente do anterior. Era todo de vidro, panorâmico isso, panorâmico aquilo... tinha muitos andares e muitas pessoas passando, indo e vindo, subindo e descendo e eu não tinha paciência, não hoje, não depois daquela sensação ruim do carro. Ao chegar no meu andar você continuou me seguindo, na frente da porta do quarto eu coloquei a chave no seu lugar e parei, fechei os olhos e senti você atrás de mim, senti seu calor. Você puxou o meu cabelo passando os dedos no couro cabeludo me arrepiando completamente, você tem idéia do que aquilo fez comigo? Você pousou - digo pousou porque foi quase um toque, quase uma brisa passando por mim - os lábios na minha nuca e então a porta se abriu. E dentro daquele quarto ficamos até o dia seguinte.
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Era cedo e a janela do quarto era imensa, o vidro era espesso e você estava sentado nos pés da cama olhando o sol nascer e estava lindo do seu jeito, esperando eu acordar. Enquanto o sol nascia, enquanto o calor o acompanhava e seus olhos se irritavam com a luminosidade, enquanto eu observava seu tronco imóvel, sua respiração curta e seus lábios levemente entreabertos... enquanto tudo parecia um sonho eu senti que a miragem era nítida mas só óbvia para mim. Se existia qualquer coisa entre essas duas pessoas que não se conheciam essa coisa era um vazio inexplicável e uma vontade maior do que o vazio. Você continuou ali, imóvel.
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Eu me sentei enrolada no lençol e fiquei ali olhando o céu enquanto você olhava para mim. Continuamos ali um bom tempo até a primeira palavra que eu quase sussurrei, quase porque estava tão silencioso que qualquer ruido parecia um rufar de tambores.
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"Não parece o dia em que nos conhecemos..."
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Naquele momento sim, você se lembrou do dia que nos vimos pela primeira vez. Havia sido há alguns anos atrás, numa tarde ensolarada como todas as tardes do sul da Califórnia, onde todos so sonhos se realizam e se entrelaçam como um corredor de luz, um espetáculo de nuances de azul. Onde todos são blue. Eu estava há alguns metros do mar e não estava sozinha. Você caminhava com os pés na água sem ligar muito pra tudo em volta, seu pensamento estava longe e eu o reconheci mas não quis admitir a ninguém. Você estava tão quieto e triste que doeu em mim e o alcancei mais a frente depois de te ver caminhar por alguns minutos. Você sentiu alguém chegando e parou. Eu congelei com o acontecido e você se virou de frente para mim. Deu um sorriso lindo, meio sem graça com os olhos molhados e voltou pro seu caminho. Aquilo marcou minha memória e eu me mantive quieta pra não me perder em você. Para não querer gritar seu nome, que sabia, que havia decorado com prazer depois de te ver tantas outras vezes...

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Você havia aparecido e sumido, tudo num período de dez minutos que agora voltavam à sua memória. Você olhava para mim e não acreditava que havia me abandonado ali na praia sem nem saber quem eu era. Respirando fundo e ainda com o olhar fixo em mim ou em qualquer pessoa que eu havia me tornado para você, sua voz saiu com um peso de recomeço, com um ar de reticências...
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"Não parece... mas também não parece qualquer coisa que já vivi antes..."
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Foi quando tirei meus olhos da paisagem e os pousei sobre você. Puxei você pra perto de mim e você se deitou sobre meu corpo, se encaixou embaixo do lençol, entre minhas pernas com o rosto descansado sobre meu peito me abraçando forte como se nada mais importasse. E eu queria te dar naquele momento tudo o que eu tinha, toda a minha vida mas o sol estava tão forte, já não dava mais tempo.

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