3.5.07

ela é quieta mas nem tanto...

ela estava sozinha e cansada e precisava de alívio.
o alívio vinha com uma mão quente no peito, sobre os seios, entre os ombros que se afastavam com o calor que percebia que vinha do peso daqueles dedos feitos sobre encomenda. ela sentava no sofá, ouvindo os carros passando e bebendo mais café não porque tinha vontade, mas porque a necessidade de se ter algo nas mãos era mais forte do que ela. entre uma ventania e outra que entrava pelas janelas ela ouvia um sussurro no ouvido. vinha daquele corpo ao lado dela, daquele que não tinha tempo pra nada mas tinha tempo pra ela, daquele que não sentia muito mas pensava em tudo pra ela. ela suspirou enquanto a mão pressionava o seu peito.
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o relógio marcava a hora e a hora marcava o tempo que não chegava.
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ela estava impaciente, ele estava dormindo no seu ombro.
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ela ouvia os passos na rua, as vozes febris da segunda-feira, o cheiro de mato molhado. o sol estava quente mas não tanto e o café havia deixado pequenas gotas no fundo da xícara como rastro de óleo na estrada... a estrada a chamava. o som era alto e ele continuava dormindo ao seu lado, a mão já estava cansada, escorregando pelos seus seios, pela sua barriga e para o seu colo.
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o relógio marcava a hora e a hora marcava o tempo que não chegava.
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ela estava impaciente mas agora estava mais calma, ele estava dormindo no seu ombro com a mão em seu colo. ela o acariciava.
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o telefone não tocava e ela aproveitava pra ver as fotos na parede. as fotos das vidas que ela não viu passar, queria mais café mas não podia sair dali agora, era bom se sentir ausente em um mundo tão presente a sua volta, era bom e queria justamente isso. tudo a irritava porque não conseguia fazer parte do tudo mas todos a queriam por lá. ela não podia querer nada, nada e mais nada...
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o relógio marcava a hora...