30.5.07

Une Saison en Enfer...



"Love must be reinvented."


Eu era uma menina e meus desejos eram tão imensos quanto de um adulto que tinha desejado tudo nessa vida e na outra. Sempre tive a impressão de ser maior do que as outras pessoas, não por me achar demais da conta, mas porque tinha a sensação de não caber em mim. Meu corpo se esticava além dos limites da minha pele, dos meus músculos e dos ossos que pesavam ainda mais a cada novo passo, ao me levantar da cama para começar mais um dia. Eu era uma menina e eu conheci certas coisas que até hoje, nunca mudaram pra mim - tenho certeza de que nunca mudarão.

Existem certas memórias que não são memórias. São histórias que eu contei pra mim mesma pra que o sono chegasse. Nunca consegui cair na cama e dormir profundamente logo de cara... Minhas visões e sonhos eram minhas certezas de que a vida chegaria algum dia, galopando e me tirando dali, me levando pra bem longe. Estou enrolando tanto pra falar de um acontecimento – ímpar -, que mudou tudo e que chegou de tal jeito que é difícil até de entender. Eu tinha uns doze anos quando ouvi falar de um filme que ninguém tinha dado muita bola. Tinha uma melhor amiga que agora está bem longe de mim - mas que estará próxima em breve - que também tinha sonhos pesados, como os meus, de fácil combustão e cheios de detalhes. Nós duas nos sentamos para assistir ao filme tão desajustado e mal falado.... Nós duas ouvimos essa frase: o amor tem que ser reinventado.

Lembre... Tenho memórias que não são memórias, são histórias. Essa é uma memória e está catalogada como tal, mas também é história que me colocou pra dormir muitas noites frias.

Também nesse filme, ouvimos:

Olhe! Encontrei...
-O que?
A eternidade. É o sol, misturado ao mar.

Essa memória se transformou em paixão e em poucas semanas já tinha toda a obra completa daquele que tinha inspirado o filme. Já havia lido, relido e me perguntado algumas vezes se valia à pena muita coisa que eu sentia a toa, muita coisa que com aquela idade toda parecia não fazer sentido – e que não faz até hoje -, muita coisa que me fez chegar a muitas conclusões que ainda são válidas hoje.
Essa manhã eu acordei com as memórias vividas tão presentes em mim que até dói. Dói a ossatura do rosto, a musculatura que sustenta o tronco. Faz marcas na cintura, nos pés e nos ombros. Dói a ponta dos dedos, os traços finos nos lábios expostos ao frio... Doem os olhos que ardem de tão secos, dói tudo porque a memória existe. Quando é inventada, a dor é maior, mas quieta. Hoje a dor grita e no fundo ouço uma voz que diz que o amor deve ser reinventado. Reinventado como única maneira de sobrevivência. Como negação de tudo e como resposta pra tudo. Quando todos escolhem pelo ceticismo altruísta, escolho a entrega reticente... Até porque saber o que sinto é fácil, entender aquelas palavras que me transformaram e que reinventaram todas as moléculas do meu ser é ainda a grande tarefa a ser concluída...

Hoje sim, queria uma máquina do tempo para poder brincar com ele...
Talvez assim ele para de brincar comigo.