25.12.06

depois do natal, o primeiro dia de vida

logo aprendi que basta negligenciar o que se sente pra que o fogo se apague. e no meu caso, basta negligenciar para que o fogo se transforme em dor, e no fim a dor maldita se transforma em casca dura e grossa. santíssima protetora do meu bem querer: meu desejo. não é só inconcebível a minha raiva, é dolorosa. não é só minha essa dor. não é só bem entendido que no mundo há uma camada de seres confundidas por humanos, mas dignas de masmorras pelo mal impregnado em seus corações. às vezes olho em volta e me sinto em épocas medievais. e o som no meu rádio já não é tão diferente das cornetas e dos bumbos estrondosos dos campos de batalha. batalha corpo a corpo, alma contra alma. mas será que só assim algo é construído? ao som de motins e espasmos musculares, dentes fervorosos em colapso por medo do fim. será que é só assim? ao fim o medo toma conta?
há um certo tempo as vozes que me falam de coisas do mundo deixaram de serem vozes. descobri por acaso que era tudo meu. por ser meu, há algum mérito em se entregar à sensação de que nem neve nem fogo pode por fim a isso? há algum mérito em simplesmente saber que o único botão que há de salvar algo que ainda resta de bom será pressionado apenas e em conclusão por algum irmão meu, algum ser que é ao fim, humano?