31.8.08

sobre barack obama




"eu precisei usar barry ou algo diferente porque convenhamos, 'barack obama' era de matar"*

eu passei o dia 28 de agosto de 2008 inteiro no maior estádio de Denver, 85 mil pessoas e uma delas era eu, embaixo de um sol que me lembrava algo parecido com o inferno aguentando qualquer macaquice alienada para alcançar os últimos momentos daquela noite que, ainda bem, foi especialmente único. era aniversario do discurso do reverendo Martin Luther King, seu filho que tem o mesmo nome e sua filha Bernice (linda, alias) foram ao palanque prestando homenagem ao pai, mas mais do que tudo a um homem que até ontem era só mais um alguém. um rapaz que aparentemente lutou a vida inteira pelo o que eles chamam de "underdog" e que reergueu uma comunidade destruída pela pobreza e miséria, fazendo com que uma jovem advogada que se esforçava pra pagar as contas da faculdade se apaixonasse perdidamente por um tal de barry obama - porque barack obama era de matar. confesso que, apesar de minhas esperanças anteriores serem fortes, elas acabaram ficando maiores ainda. sei que muitos irao dizer que foi um produto do coletivo, diriam que não é fácil ir contra 85 mil pessoas que estão la com a mesma finalidade: acreditar que aquele que até ontem era um zé ninguém, vire um alguém com poder e com o coração não mão ao contrario de muitos outros presidenciaveis estadunidenses. entendo o asco de muitos em relação a politica norte-americana, e o profundo desprezo pela mentalidade de um tal de tio sam que nem mesmo quem nasceu neste solo conhece bem, mas o buraco é mais embaixo - ou mais em cima? pelo o que eu percebi, não só por quem é próximo a mim mas também por algumas das pessoas que conheci nesse meu tempo vivendo nesse pais, o mundo foi bombardeado por uma cultura americana fora de contexto. uma cultura criada, especificamente para viciar, inutilizar e escravizar uma consciência que antes tinha forma, mas que agora esta quase nula, quase tao primaria quanto a de um primata e sem esperanças de se reerguer. como no Brasil e em muitos outros lugares, se você se aventura pelos interiores desse pais imenso - que tambem é imenso por ter sido imperialista o suficiente para agarinhar terras de outros países na base do terror bélico - percebe que as pessoas que trabalham por puro amor à terra - não ao governo ou quem deveria ser seu representante la fora - não entendem e não tentam entender o que aquele homem de terno, nadando no petróleo e no dinheiro que aparece na caixa colorida da casinha da avo, quer dizer ou fazer com tanta bobagem inútil naquele fim de mundo, sim porque qualquer interior de estado norte americano é o fim do mundo. a cultura, verdadeiramente "norte- americana" é ainda algo estranho. que se divide entre aqueles que não querem fazer parte e que vivem suas vidas quietos, a sombra de seus próprios valores e aqueles que estam ativos, gritando alto para qualquer um ouvir que tem algo de errado aqui e que aos poucos perdem qualquer vontade de continuar lutando... parece familiar? é o que penso. ainda existem aqueles que como aquele homem de terno tem feito há alguns anos, estão se dando financeiramente muito bem com a ignorância ou o desespero de sua própria gente - se é que essa camada da população tem algo a ver com essa gente - e que esta fazendo de tudo para continuar no poder, vendendo sua cultura realmente enlatada e fora da realidade para todos que ainda teimam em compra-la... bem, o que presenciei no inicio daquela noite do dia 28 de agosto de 2008 - que já entrou para a historia - foi um homem que como muitos cresceu fora do olhar do tio sam e sobre o olhar doce de uma mãe que acreditava que o mundo é de todos nos e não do dinheiro ou do poder. filhos de mães como essa são sempre filhos bons e talvez é isso mesmo que uma nação que perdeu a identidade e que se agarrou a um grande truque de marketing precisa nesse momento, um filho bom que volta para a casa pra por ordem no barraco.


*obama contando como conquistou sua mulher, Michelle na video-biografia antes de sua entrada na convenção.


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