11.8.08

retornando à minha sanidade



ela dizia assim gritado, quase que arrancava um pedaço de mim:




"preciso me isolar, me tirar do recreio. acreditar de novo no peso da palavra, na grossura desmedida do tempero que não basta, apenas reconcilia mérito. preciso indagar a sós, retirar as armadilhas, esticar os véus pra que cubram mais quintais, pra que deixem a mostra mais a pele. enfim, nesse reino preciso me deleitar, saborear o gosto da pele quente de quem eu já fui algum dia sabendo ser demais como é demais quem se entrega e não tem medo. se ser mulher é saber de seus defeitos impostos por outros e calar-se, sou. mas não quero. prefiro ser assexuada que ser isso, essa coisa morta que vive no silencio e apodrece escrava. prefiro ser da sorte, sem ser da morte, prefiro ser gente e se isso incomoda quem incomoda, que incomode. sou molde puro e fraco de quem esqueceu de criar mais de um tipo de farinha pra pó dos outros. preciso me isolar."



e saiu quieta, olho seco e dedos fechados como quem quer enfiar as unhas nas palmas das mãos até sangrar.