19.6.07

não experimentalista

cansada de puxar o fio sozinha.

desenrolando cordas de amarrar seus pés, passeando por estilos, trombas, bicos, mudos e surdos. cansada de puxar conversa. a rua é vazia quando estão todos com tanta pressa. essa pressa é para sempre para o tempo passar, ele pede asas, pede trégua para o verão passar, pede rédeas, pede água para o sertão molhar, pede eu sinto, pede eu reflito, pede dias pra a saudade matar.

cansada de rasgar com o estilete sozinha, as gotas caem sobre o tapete persa que a sua mãe sempre sonhou em botar na sala, sempre precisou de sol pra queimar as tralhas e agora o sangue mancha e mancha tão bonito que disso eu tirei uma foto, uma foto colorida que depois eu recortei, recortei e colei naquela carta que te enviei.

cansada de puxar as amarras sozinha, de vestir a blusa sozinha, de beijar o ar sozinha, enganar a minha solidão cheia de mais alguém. cansada de render os pulsos de entender das coisas de conhecer as gentes de entender as línguas. sou tão boa com todos, sou tão boa para mim, são todos bolos os tolos, tão cheios de regras os dos outros, tão lindos tão longe tão perto enfim...


cansada de frear sozinha.
botar os dois pés de uma vez no acelerador.

cansada de trocar de marcha sozinha.

de olhar pro lado e ver mar azul em boa companhia.

cansada de refrescar a sorte.

dar pano pra intuição, azar pra morte.

de molhar no molhado essa barra de calça velha, sentir o vento frio pelo calçado anabela.
cansada de fritar no escuro
de beirar o precipício

de esperar pela ponte.

cansada desse sacrifício
de não sacrificar nada de se perder encontrada de se repetir e se estar errada.
cansada.

cansada e ainda forte.