8.3.07

"parabéns pelo seu show!"... hein!?

"... a dor que não será apagada pelo ato de escrever e sim acentuada, mas que será redimida..."
Jack Kerouac - Os Subterrâneos
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Não me sinto confortável nem para falar. Nem para escrever. Para nada. Queria um tempo longe, mas dentro, queria tempo de sobra, mas sem ter tempo, queria deixar ele passar, você me entende? Eu não me entendo porque me compreendo demais e isso me transforma em uma vagabunda iluminada, uma espécie de Jesus Cristo com saias. Eu entendo da minha loucura mas ela não me persegue, entende? Não entenda, não quero mais ninguém sabendo de mim. As coisas fluem mas as gentes entram no lugar das gentes que eu quero encontrar e o lugar vira pesadelo. A pele dói de tanto coçar, já não agüento mais os pernilongos, os cheiros tão fortes das pessoas, não agüento o sol quente pedindo abrigo embaixo das minhas asas, não me conformo mais em ter nada. Quero o vazio da fome alheia. Quero sentir o que sinto, não quero sentir o que o outro sente porque é só disso que eu vivo. Você me entende? Não me entenda, já falei. Estou serena e preciso de irritação pertinente de mim mesma, preciso de pouca luz mas preciso da luz que está quietinha em mim criando coragem pra se espalhar por todos os cantos. Quero paz? Quero fugir? Quero viver? Porque tudo é uma questão de querer? Certas coisas são feitas do que exatamente é feito nosso pensamento. Voltando ao passado é a mesma baboseira quadrada do que voltar ao futuro, o tempo é a gente pra que a gente aprenda que ele não faz nada é tudo culpa da gente. A CULPA É NOSSA. Não é só de dádivas que se faz o homem, não é só de desejo que se faz a oportunidade. As coisas correm por aí como imãs procurando por afilhados e a gente às vezes fica na frente desses imãs, desses prismas de sabedoria. A gente não aprende a acolher, a gente só mete a mãozona na frente deles e manda parar, enquanto isso os anjos que ouvem nossa prece pensam encolhidos nos seus cantos que era melhor mesmo nunca terem aparecido, a gente não dá valor, é o que eles pensam bem pensado para falar a verdade. Os dedos, deus, os dedos! Estão secos! Descascando! Eles batem muito rápido cheios de dúvidas mas muito, muito, muito concentrados em suas maneiras com os outros por aí. Sinto que não falo coisa com coisa mas sim coisa com outra coisa. Entende? Não precisa. Eu devo me entender e assim já está bom demais. Faltam quinze minutos. Pra que? Pro fim do tempo. Quando os quinze minutos passarem quero liberdade das asas dessa águia que me comprime. QUERO VOAR! Um serzinho grita lá de dentro, quero voar, voar, voar. Mas não quero, não curto muito alturas... quero mesmo é experimentar uma coisa linda, plena e inteira. Não quero nada que seja além de mim mas sim dentro de mim com outro alguém dentro de mim, com outro querer dentro de mim, OPA! Não é outro querer, é outro poder dentro de mim junto com o meu poder dentro de mim fazendo uma festa de arromba em meio ao desinteressante pedido de casamento que o sol me propôs. Sou uma desvirginada de nascença. Sou de nascença óbvia fadiga, clara e perdida entre as mortais. Soy... Minha alma perambula, meu corpo dança. Meus olhos vêem nada mais do que lembrança. ODEIO RIMA. Se um dia os poços do mundo se abrirem quero que me cavem bem fundo junto com aquele outro alguém dentro de mim para serem dois e não um a vagar pela eternidade desse eterno sem fim. QUERO SER MINHA. E de mais alguém.