são pequenos os suicídios diários
os poucos momentos de plena consciência de ser
porque quando se é e sabe o que é, a simples tarefa de existir se transforma em dor.
em nenhum momento alguém disse que seria fácil, só esqueceram de dizer que seria difícil. ou não. só não mencionaram uma coisa: de que valeria a pena, cada erro valeria a pena. como se um contador gigante desses de jogos de basquete estivesse calculando nossas tentativas frustradas e amargas. e enquanto tocava "somália" da patti smith eu pensava em silêncio no meu canto que não bastava compreender, preciva ser levado à todos a um só tempo. precisava deixar tudo e todos no mundo serem afetados por essa onda, por esse amor. e foi nesse momento, que ouvia a música, quieta em meu canto que tive consciência do meu ser - que sou eu, é claro-. tive plena certeza da dor que rondava o mundo e ainda assisti a mim mesma percebendo tudo isso. entre uma inspiração profunda e expiração prolongada assisti a terra cair e deixei com que o espaço se abrisse para que o nosso deixasse de ser e voltasse a existir apenas. deus, aquele momento durou alguns segundos mas reconheci tantas pessoas, tantos "ser"s (e não seres) que agora faziam parte de mim, que estavam perto e longe e que estavam na minha pele, no meu sangue, na minha saliva. a dor já não era mais sentimento. como pode ser sentimento algo tão consciente? não pode... e nem razão, por isso a dificuldade de transmitir aqui o que senti...vi...percebi... realizei.
foi por pouco que não deixei com que o que alcancei tomasse conta mas lembrei racionalmente que precisava voltar, à matrix dentro dessa mega revolução, ao mundo perdido entre essa respiração e a inspiração que me fizessem olhar pra trás e não ver nada, só enxergar à frente e ao agora que foi há duas horas atrás ou que será duas horas adiante... foi por pouco que não quis ceder e cedi pois a verdade que não passa de ponto de vista ainda está crua e nua, despida de razões a frente dos meus olhos. porque a certeza de qualquer coisa se perdeu com a falta de qualquer coisa, qualquer matéria prima, qualquer teia que ligue o “ser” do ser-humano.
não é fácil
não é óbvio
vive em uma dimensão ainda se preparando para se libertar
não se liberta
é
e não se espanta
inspira
se retira de cena para que alguém aprenda
nem todos, veja bem, estarão lá para contar a história em algum tempo perdido entre o futuro passado e o passado futuro
a energia é a mesma...
enquanto toca somália eu percebi, a energia é a mesma
mas as mãos são sempre sábias em seus mundinhos perfeitos
elas medem pela sua forma de medida
elas bebem em seu próprio copo, o quanto querem desse licor
e só se transformam em ser quando se rendem à liberdade eterna, que às vezes dura dois segundos...