20.3.07

dezesseis e vinte e cinco

Odeio tudo isso que me faz voltar a qualquer coisa que me lembre que vivo em sociedade e que fui cobrada por ela, toda a minha vida. Já sei muito bem, tudo isso que eu vivo, sei muito bem. Mas a vergonha de se ser exatamente como sou é perigosa. Ela foi enterrada, entenda. Está morta e enterrada mas volta de vez em quando como a lembrança de algum desgraçado morto que retorna em momentos oportunos para reviver em você o terror que ele algum dia fez você sentir. Entendeu? É essa a sensação da vergonha de ser, de respirar, de vestir, de vislumbrar, sonhar, educar, escrever, pensar, sentir, amar, ser, ser, ser qualquer coisa que eu sou e que me revolta quando esse morto reaparece. É uma frase que provoca. Um olhor torto mas direto. Uma porcaria duma lanterna acesa nos seus olhos. São seus olhos. E a vergonha de se ser retorna, de capa preta, foice nas mãos geladas e olhar esquivo. Tudo acontece quando estava finalmente aprendendo a deixar viver e então a vergonha embaraça a nova oportunidade jogada no lixo.