19.6.09

cartas que não foram... - série antiga que ressuscito







"15 de maio de 1975




Querido Frank,


Devo escrever-lhe para contar o que tem passado, o que não tem passado, o que tem ficado a padecer sob o morno olhar do sol intimidado pela incrível força da neve que cai lá fora. Meus dias tem sido vazios - como tem sido vazios os sonhos de outrora. Momentos inesperados que nunca haviam de ser, se tudo tivesse sido assim como nós planejamos.

Saudades daquele mar.

Saudades das inteiras noites que passei a esperar por ti, inteiras pois eram durante elas que me sentia enfim inteira, talvez por saber bem o que ouviria de você. Sempre te amei, pelo menos sabia que amava a ideia de ti. A ideia daquilo que, agora sei, nunca vi por inteiro.

Você me pergunta, como andam as caminhadas no território tão extenso como morto desse fim de mundo, pois eu digo, não acontecem. Trancaram-me terrivelmente cedo e nunca mais cederam, pedidos e preces ficam a mornar e os olhares de todos são de terror ao encararem esse fantasma que me tornei pela pequena janela de vidro inquebrável da porta do meu quarto...

Quarto!

Quarto era ali onde aquela espuma batia e fazia da areia colchão sagrado, lua de nós dois.

Por onde andas, por que ombros tem passado tuas mãos?

Pois as minhas apenas conseguem escrever para ti.

Escreva-me, sim? Tudo morre como morre tudo enterrado sob o imenso branco lá fora...



Rose
Whitby Mental Health Centre, Ontario Canada"