23.6.09

num dia desses




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Hoje.

No meio do dia sentia frio.

Frio que era portanto palavra furada, esvaziada e quase translúcida.

Ele não percebia porque percebia outra coisa. Olhar de homem é sempre como num monólogo, precisa expressar-se em um, porque dois já é demais. Ela continuava ali a se debater de frio, a procurar com os olhos, boca e ouvidos qualquer coisa que a esquentasse, palavras porém não funcionariam.

Qualquer manifestação seria, absolutamente doentia. Já sabia disso logo de início, mas aceitara aparecer nesta tão trivial - para ele - ocasião. Agora, ela hesitava. Ele não. Queria tê-la ao seu lado e não sabia bem porque. Gostava do peso do corpo dela logo ali, ao seu lado na arquibancada lotada.

Era dia de jogo importante e mesmo assim ela sentia frio.


Frio por não ver mais do que ele e por não querer mais do que tudo.


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