19.6.08

as cartas que não foram

querido John,


eu já te disse que não vou começar as frases com maiúscula, já mencionei na outra carta que isso está fora de mim! apreciei muito sua visita o outro dia e é incrível como seus olhos não mudaram nada e como na verdade você não envelheceu, da maneira que pressupus e que imaginei quando assisti aquele filme, os filhos da esperança, sabe? aquele que eu ainda acho que você deveria ver!

ha! já ouço sua voz lendo esta e respondendo bem alto entre um trago do cigarro e outro:

-tenho coisas mais importantes pra fazer!

também quero dizer que não concordo com metade do que você falou pra mim. acho com certeza que isso também é maravilhoso, eu poder ouvir, de um jeito ou de outro, você me dando esses conselhos todos quando nunca os seguiu! não quero conselhos, john. quero você sendo, sabe como é? só estar já está bom e eu não estou preocupada com o futuro agora, quero ser. e assim, ouvindo de você tantas coisas que me deixaram chocada, fico me perguntando se ficarei da mesma forma, dura e com os braços pesados, completamente sem reação e cansada como você. acredito que sei que você cansou e sei que depois de um certo tempo a gente cansa mesmo... mas, porque?

isso me enerva john, e me enerva sabe o que? ter que chorar dessa dor! porque não posso chorar da dor do mundo? sim, sim, já ouvi você aí do outro lado lendo e falando alto esfumaçando esse cigarro:

-mas você já chora demais! tem que parar!

e eu no entanto continuo querendo mais! como se fosse eu a sarda do mundo! serei eu, a sarda do mundo?

-ha!

você dá risada com essas coisas né? e de uma certa forma amo teu cinismo porque não é forçado e é infeliz. se é que existe isso. um dia nos entenderemos melhor...


até lá, meu amigo morto, invejado e destruído, temos muito o que pensar!


sua, eternamente,


Johanne