2.7.07

Dolores

Elas todas dizem aquelas coisas tristes.
Coisas de se pensar duas vezes antes de pensar mais três.
Elas tocam a gente naquele ponto, naquele meio ponto que dói e que faz bem, dependendo apenas do lado que o vento sopra.

Elas tem garras afiadas, sorrisos que enganam, abraços que apertam até seu último sopro de vida. O último é sempre bom, você o rosto delas, quadriculadas, espancadas, servidas com pressa nas ruas. Tontas boquiabertas e ainda tão lindas em sua eterna e longa vida em seus quadrados de plástico, pendurados nas paredes dos hotéis.
Elas penam por você
Se acumulam por você

Pregam peças em você

Elas tateiam no escuro um buraco pra você.

Dormimos quietinhos dentro da sua escolha silenciosa.

Elas escolhem sem você saber.

Em potes vazios, em calçadas imundas e em pés viajantes elas moram escondidas.

Tem cortes nos lábios

Tem feridas nos ombros

Dedos longos como a morte

Vozes de veludo e rasgadas
Elas aprendem a passar desapercebidas, exceto quando você crê.
Enquanto cantam essas músicas tristes, elas embalam corações partidos e todas as metáforas do planeta, transformando samba em cultura de berço, metal em opções para os desacompanhados. O sopro decola, as asas cortadas não funcionam, mas a queda é linda e livre, constante e eterna enquanto dura.
O vento bate forte no rosto - como é forte o vento no rosto! - e elas continuam a prender o choro no olho do furacão.

Quando não prendem dói tanto que faz o mundo ficar cinza.


Como é cinza, como é cinza esse mundo do cão, que cheira os restos delas nos becos e nas salas mais aconchegantes dessa ala...