20.4.07

Maria sem história...

Maria,a Louca ajoelhou de frente para a sua cama de papelão no beco sem saída naquela noite fria de agosto e rezou.
Pensou duas, três e quatro vezes antes de fazer o que estava prestes a fazer.
Beijou o chão que "viveu" por tanto tempo.
Maria costumava rezar e pedir por uma vida mais digna para seus filhos, que estavam em algum lugar muito longe dali. Mas no fundo, Maria não se importava.
Ela queria um pedaço de coberta, pra morrer quentinha.
Ela queria uma mão grande de homem bonito e forte pra fechar os olhos dela, mas não tinha.
Ela queria um teto bem largo e forte pra amparar a chuva mas tudo que a cobria era um papelão molhado que já pingava sem parar desde o fim da tarde.
Maria queria lutar mas já tinha desistido e a fuga foi mais forte do que ela, foi quase um doce que ela sonhava em comer... uma torta de limão da padaria da esquina.
Maria pensava alto enquanto rezava, ela costumava fazer duas coisas ao mesmo tempo, desde o tempo que trabalhou como secretária em um escritório de advocacia.
Maria, a Louca.
Perdida nesse beco sem batom.
O batom ficou na bolsa
no passado
não nessa vida.
Maria queria ter um último fôlego, mas não deu tempo.
Maria queria um remédio que a colocasse pra dormir, mas não teve dinheiro.
Maria não morreu porque simplesmente sumiu, engolida pela terra, como acontece com qualquer um que abandona tudo pra virar pó e gente sem história.