23.7.11

diálogo - e daí?



- Oi. 
- E aí?
-Que foi?
-Que foi o que? 
-Que foi?
-Num foi nada.
-Mas…
-O que?
-Tem cert…
-Você perguntou o que foi 
-Isso
-E eu falei que num foi nada.
-Pois…  sim, claro, eu sei.
-Então.
-Mas eu não..
-Não to entendendo.
-Deixa.
-Deixa o que, putaqueopariu
-Deixa que eu não quero mais saber.
-Mas saber o que?
-O que foi.
-Mas num foi nada, paputamerda!
-Tem certeza?
-Tenho.
-E como eu sei?
-Você me ouve, não consegue ouvir?
-Para de ser assim, não precisa dessa grosseria!
-Precisa do que? Você ta ficando um chato, velho
-Eu?

-Eu que to chato?
-Isso.
-Mas eu te conheço…
-Sim, e?
-E sei que você tem coisa aí…
-Coisa aí? Tipo…
-Tipo coisa que você quer falar.
-Ah sim.
-PORRA!
-O que?
-Mas porque falou que não tinha?
-Mas não foi isso que você me perguntou, criatura!
-Eu preciso ser óbvio?
-É o mínimo, ou num é?
-É?
-Claro!
-A deixa pra lá.
-Não quer mais saber?
-Não, cansei.
-Beleza.
-Tchau.
-Até…
 

-Hei
-O que foi?
-Pergunta denovo?
-…
-Por favor.
-…O que foi? 
-Sei lá, to triste.
-Eu sei que você tá.
-Ajuda eu?
-Não sei como.
-Mas… por quê?
-Porque eu não to bem também ué
-A gente tá tudo fodido, é isso?
-Tamo
-Foda.
-Uma merda.
-É.

~~ 


20.7.11

ultimo dia de brasil, yet again


then you feel small, as tiny as the car down the road; and all the things you so firmly believed yesterday turn into somebody else's words.’ errr... myself.



O eco sempre me pareceu ainda mais insuportável do que o grito.

O pânico causado pela repetição da impressão do sofrimento.

A revolta que sinto quando tudo o que mais espero é que o fim chegue rápido; um fim que tenha gosto de fim na boca, porque o grande problema de tudo aquilo que tem começo é a falta de um ‘the end’ para que os créditos rolem.

-mas os créditos nunca rolam.

Esse é o mal de quem assiste filme porque gosta de chegar ao fim com algum gosto na boca, alguma conclusão emocional no peito, alguma lágrima no canto do olho; esse é o mal de quem se aborrece por não viver aquilo que foi prometido.

-mas a promessa foi ilusão que você criou. alguém te prometeu algo de fato?

A ilusão. A luz que dança diante da tela. O mundo é bonito visto daqui e é ainda mais bonito porque tudo acontece sem a nossa interferência. Bonito e triste.

O tal do eco.

A repetição e a insistência daquilo que te atormenta quando o grito era tudo o que você precisava. A tal da falta de coerência.

Mas a gente segue assistindo o filme da poltrona. Mãos indecisas sobre pernas nervosas. Talvez assim, logo que os créditos começarem a rolar, irei notar que o assento do meu lado tem dono e que, assim como eu, tudo o que ele precisava desde o começo era de um pouco de tempo.

É. Talvez.