23.11.09

algum começo



No meio do verso, enquanto o tempo ainda não adquire aquele valoroso ar de cidade pequena, eu rodo a vagar esperando pelo próximo minuto em que estarei viva de fato sem preocupar meus poucos neurônios com qualquer coisa que não seja ser. Gostaria de estar pronta para isso, gostaria de cantar baixinho e chorar feliz, mas a verdade está longe disso e é por essa e outras razões que viver nunca me bastou. O que aprendi com a vida? Nada muito rigorosamente útil. Absolutamente. E enquanto os raivosos e os envolvidos gritam freneticamente, meus olhos observam enquanto o rapaz que me observa do outro lado da rua pensa que sabe o que eu esteja a pensar, mas de fato nem eu mesma sei o que se passa por trás de mim, muito menos por dentro ou até mesmo envolta. A dor é imensa, tão imensa que já não sei qual é sua verdadeira origem – já não sei se é origem ou ramificação – talvez até seja conseqüência, sendo o que for e sendo o que é, não sei ainda nomear qualquer coisa que venha e o que vem aproveita pra se instalar sem dó nem piedade, largando seus cômodos sem hora marcada ou qualquer recado na porta da geladeira. Meu ser teme e esse ser teme por ser, por debaixo do chapéu, por dentro do mundo, as ruelas foram de fato pequenas demais para que qualquer alma tenha tido tempo para se desenvolver. Eu grito e não sei mais como não ficar quieta, o som era demais para mim e talvez seja demais até para você. Tenho uma certa pena que misturada com a piedade que sinto se transforma numa verdade infiltrada e portanto – penso eu calada – vira eu mesma. Nesse momento a redoma é tudo o que tenho e é dela mesmo que morro de medo, enquanto busco o lugar menos confortável para que portanto eu possa revisitar a antiga vontade que tenho de ser qualquer coisa que seja, exceto eu mesma.

(...)