1.7.09


"A dor persistia. E em cada passo sobre cada nova etapa dessa calçada sempre entapetada por milhares de cacos de vidro, uma nova certeza: a dor de cabeça era aquele lugar. O ar enfarpado, encrostado nas poças de sangue ainda vermelhas e cheirando a morte fresca sobre as cabeças gordas dos grandes babacas que por ali viviam. Grandes babacas, ela repetia, grandes babacas com caras redondas e sorrisos ofegantes. Olhos de vidro, vidro in vitro nos cacos sobre o cinza constante olhando por todos os lados e o sol queimando inexplicavelmente como um grande jorro de ácido só encontrado internamente. Ácido interno e quimicamente irreversível, tudo o que tocava não era ouro, era ácido. Seus pés que queimavam sem deixar rastros reais e sim apenas idéias visuais do que seria um mundo como aquele em que ela ali vivia. A dor persistia."


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