8.5.07

Uma lembrança para Josh - parte final?

Olá minha gente, esse é o fim da minha pequena fábula. O "conto" se chama "Uma lembrança para Josh" e organizei os capítulos pra quem quiser ler tudo junto.

Primeira parte


Segunda parte


Terceira parte


Quarta parte


Essa aqui é a quinta e última parte. Não dá pra prolongar muito certas coisas...


Enjoy it!


***

Uma lembrança para Josh - Parte Final e curta

Você pode não se lembrar, mas eu sim. Era uma manhã que parecia uma manhã de dois dias antes, uma manhã com toque de veludo e cetim, uma manhã nossa. Enquanto tinha você nos meus braços não queria muita coisa, queria tempo, mas se me perdesse para pedir por tempo perderia você. O seu celular tocou e era um toque tão contido que não tive coragem de me mexer, era até bom de ouvir, bom de sentir que você não se importava e o deixaria brilhando e repetindo o mesmo som por um bom tempo até a hora que fosse. Você queria estar ali. Tinha que voltar pra casa e você tinha que voltar para a sua vida. Depois de algum tempo, quando o céu já estava azul, seus olhos se voltaram para os meus e eu tive medo deles, do que eles queriam me dizer, medo do que você queria de mim, medo do que eu queria de você. "Você tem que ir embora hoje? Tem alguém te esperando em casa?" Seu olhar era quente. Um olhar cinza, dois olhos meio longe e perto ao mesmo tempo.

"Tem alguém me esperando sim e eu nunca falo pra onde vou."

Uma vontade invadiu, era imensa e quase maior do que eu. Eu queria ter esquecido toda a história que existiu antes de você e fazer daquele dia uma nova vida para mim, mas nada do que poderia inventar pra minha consciência ficar tranqüila, nenhuma realidade que pudesse imaginar com você sendo ator principal poderia ser levada a sério. O tempo estava passando depressa e nós tínhamos que ir.

“Não sei o que querer de você...”
“Não queira nada, você não pode.”
“Mas e tudo o que aconteceu foi por nada?”
“Foi por lembrança, Josh...”
“Fala meu nome de novo...”
“Josh.”

Enquanto mantínhamos toda a distância necessária para não nos envolvermos, enquanto mantínhamos toda a proximidade necessária pra não nos perdemos no que nunca teríamos de novo, vi o que não era meu na sua voz e no seu nome. Na minha voz pronunciando seu nome. Você sabia da minha vida antes de me ver? Via todas as coisas que estavam escondidas no meu silêncio? Talvez, durante todo esse tempo que vivi e até hoje nunca encontrei alguém que pudesse dizer que tive isso, essa certeza de que sabia absolutamente tudo por causa da minha ânsia por calar. Se passaram dois dias, três no máximo foi o suficiente para saber disso, Josh. E naquele instante em que o ritmo do mundo nos acompanhou eu me joguei a seu favor do jeito que gosto de me jogar, inteira e mulher e te dei tudo o que poderia te dar, uma lembrança. Não era mais do que isso e nem menos do que o mundo. Era o melhor presente de todos, te dei a única pessoa que sei ser, te dei a única realidade que soube acreditar, o único sonho bom que virou algo mais do que letra no papel ou na tela, te dei as mãos e você tomou meu corpo e cuidou de mim enquanto eu chorava no único momento que me senti inteira. Com você.

***


Estávamos com os pés enterrados na neve. Um jovem porteiro do hotel em que passamos a noite abria passagem no gelo para nós. O táxi já estava esperando por nós na rua. Você segurava a minha mão e eu fiquei preocupada com as pessoas em volta, mas queria continuar com sua mão na minha. Nós entramos e você bateu a porta com força.

“Pra onde, Senhores?”
“Para o aeroporto.”

Eu não conseguia falar mais nada, você tinha que fazer pelo menos isso por mim. Quando chegamos lá meu impulso foi sair do carro e pedir pra você não me acompanhar...

“Despedidas são horríveis, não vamos nos despedir, ok?”
“Você vai dar uma de Ethan Hawke em Before Sunrise? Vai me dizer que casaria comigo essa noite?”
“Vou te dizer que a gente não encontra gente especial assim todo dia... é isso que vou fazer.”

Tinha que embarcar às oito da noite, você se sentou comigo no banco de espera da companhia aérea. Que triste foi aquilo, você se lembra? A gente não se falava muito, mas ria um do outro. Você esperou comigo e não quis largar a minha mão. Às oito horas pontualmente entrei naquele avião. Dez minutos antes você tinha me pedido pra ficar e chorou. Eu não derrubei nenhuma lágrima até ver seu rosto imóvel pela janela, enquanto o piloto dava a partida.


THIS IS THE END, BEAUTIFUL FRIEND, THE END.



***


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À ALICE SALLES