4.10.11

Brando, Hardy e Warrior e o que todos eles tem em comum


Tom Hardy. Why so foda?

O ‘Brando Britânico’, é como chamam esse rapaz de torso bem desenvolvido, dentes esquecidos e olhar pouco convidativo.

Homem desses que nos força a esquecer o que era mesmo que estávamos assistindo, mesmo que por poucos segundos. Vira e mexe odiamos sua presença pouco confortável. Entre uma lágrima e um suspiro bobo, uma vontade de se retirar do cinema. Moços como o Hardy possuem esse estranho charme seco que por pouco não cancela o que é prazeroso de se examinar.

Homens sentem-se compelidos a acreditar no que ele esconde. Mulheres sentem-se atraídas pela forma como ele permanece longe de qualquer atenção especial.

Aquilo tudo é ele mesmo.

Um monumento de carne e osso todo rabiscado presente ali, inteiro na tela. Relutante e brilhante em uma só sentada, sem dó de quem nunca poderá chegar perto. Sem pena alguma por quem não pode sequer encontrar alguma saída para essa ilusão de homem criada durante uma hora e meia de... filme bonito.

Ah... suspiros.

O Brando fazia isso, do jeito todo grosseiro dele. Hardy faz o mesmo, com um cinismo tão calculado que beira a autonegligência. A impressão que fica é o que a realidade teima em esconder: ele é perfeito.

Como Brando era perfeito.

Por uma hora e pouco, esse homem de sonho inferniza nossas cismas. Bruto e sem arte, real e hábil como todo homem em sua essência deveria ser. Ah Tom Hardy, porque tão homem? Tão sem brilho e tão cruel.

Minha vida e muitas outras por aquilo que tormenta suas ideias. 

(Isso tudo pra dizer que o filme ‘Warrior’ vale muito a pena. Tenho dito.)



1.10.11

nada se perde (nem se ganha)


~

Pensei que sentiria algo. Qualquer coisa. Um toque de arrependimento ou de raiva ou qualquer negócio semelhante a algum dilema moral, algum carinho pendente, um resto de ego ferido, um tal de desejo mal resolvido... mas não. Não sinto nem senti absolutamente nada.


Nem um sopro de alguma coisa que jamais irei compreender. Um frio qualquer.


Nada.


Enquanto imaginava que conhecia a raiz dessa paixão de ocasião, pensava também ter certeza absoluta dos rumos que tais histórias tomariam. No fim percebi que nem a raiz nem o intuito da questão estavam sob o meu controle, mas nem por isso o mundo perdeu seu tom vermelho, nem minha terra perdeu o gosto de sonho, nem minhas palavras perderam seu volume imperceptível aos mortais com ouvidos destreinados.


A dor poderia ter sido aguda, a brutalidade uma forma de colocar tudo de volta no seu lugar, mas a verdade é que nada do que aconteceu me fez sentir qualquer coisa além de...


Um grande nada.


Tempo perdido? Nunca.


Tempo. Sim.


Tempo mal investido? Não. Tempo. E por coisas dessas como o tempo, baseadas em teorias quase frustradas nós não perdemos o sono. Muito menos a piada. Muito menos o texto hermético, esse tal desse mundo de palavras cruzadas. Não perdemos nada não, nem ganhamos.


Chegamos a alguma conclusão? Não. A algum método mais eficiente de se viver a vida? Definitivamente não. Chegamos ao fim de algo que nunca foi e a esse fato brindamos, porque a vida é cheia deles e nem por isso o vento lá fora para de protestar.


~~


25.9.11

doubt not, I love


doubt thou, the starres are fire,
doubt, that the sunne doth move:
doubt truth to be a lier,
but never doubt, I love.




Suas mãos.

Já serviram como ponto de referência, como memoria repleta de utilidade em momentos custosos. Como certeza de algum tipo de tranquilidade que antes da certeza de você, não poderia jamais existir.

Enquanto um mundo preocupado com aquilo que não parece ser mais do que um mecanismo sem forma nem motivo, eu sou o que sou porque conheço o valor dessa certeza insolente.

Tamanha perfeição irresistível: suas mãos. Sem origem nem final escrito em lugar algum além de uma memória fiel ao seu dever. Elas falam e que sigam falando só para mim, o mundo não liga. O mundo só ouve aquilo que quer ouvir, essa verdade é o que é e por isso repito...

Suas mãos. As mãos que todos decidem não ver e que são minhas por direito. São tudo o que jamais tive e nunca mais precisarei esperar para tocar.

~

Sentido - Cadê? Perdido na mudança.







22.9.11

Scorsese, John Lennon, Jung e eu


Eu. Duas letras que não querem dizer absolutamente nada. A diferença entre o E e o U é responsável pelo conteúdo. É como se tudo começasse com inúmeras oportunidades e terminasse num retorno forçado.
Pois bem, eu.
Tenho mil manias mas não conto, aliás conto tudo. Pessoalmente. Lembro da minha mãe tocando Debussy e choro copiosamente, toda vez. Enquanto chove consigo ver como num filme a mão de pele morena escura cheia de veias, cheia de manchas enormes e dedos fortes, longos e precisos do meu pai segurando a minha mão de criança, olho para baixo e vejo os sapatos impecáveis pisando em poças intermináveis, sinto até o cheiro dele. Toda vez. Tomo café o dia inteiro. Não é por falar não, é verdade.
Precisaria que o mundo entendesse minha necessidade de escrever tudo em forma de carta. Prefiro o John Lennon, mas isso todo mundo sabe. Prefiro também o Keith Richards, isso nem todos sabem. Entre Beatles, Rolling Stones e Pink Floyd, sou Beatles e de vez em quando Rolling Stones, nunca Pink Floyd. Eu curtia a Ginger Spice. Meu primeiro filme favorito foi ‘Garotos de Programa (My Own Private Idaho)’, tinha dez anos. Meu segundo filme favorito foi ‘Basketball Diaries’ (não lembro em português). Doze. Meu terceiro filme favorito foi ‘Clube da Luta’ e minha lista termina por enquanto.
Minha primeira paixão louca foi por um professor – insira a palavra correspondida aqui. Calço trinta e nove. Sou um metro e setenta de pura e total insanidade, agora sei bem. Sou flexível e danço, o tempo inteiro, até quando parece que estou só aqui sentadinha. Não acredito em se ter alguém. Acredito em paixão e no meu caso ela não morre. Não acredito em deus. Não acredito em nada, só sei de coisas variadas. Sei porque sinto que é, não porque a lógica permite. Não sou da lógica mas sou a pessoa mais justa que você jamais irá conhecer.
Sou fisicamente forte. Mesmo. Já me livrei de homens tentando me segurar a força, se é que você me entende, já peitei PM coxinha sendo racista/sexista e sempre ganhei. Já passei por incêndio e acidente de carro. Já servi de segurança pra amiga minha em show lotado. Nunca fico doente. Sou daquelas que causam revoluções por pura convicção romântica, no fim sempre me dão razão. Sou romântica, de verdade – romântico, adj. relativo a romance; poético; fantasioso. Ficou decidido no alto dos meus quinze anos que eu era a reencarnação do Rimbaud até segunda ordem. Me acho linda mas secretamente me acho um horror.
Sou má, mas sou a melhor pessoa do mundo pra quem amo e às vezes amo a pessoa de cara, sem motivo aparente. Vivo em Hollywood num prédio dos anos vinte. Fantasio a respeito das inúmeras meninas platinadas que tentaram a sorte e que por algum tempo aqui viveram. Sei de histórias. Algumas foram embora, outras deram certo. Muitas morreram de forma trágica. Hollywood é filme noir, constantemente.
Adoro dirigir, odeio que o mundo ainda usa petróleo. Amo o oceano de tal maneira que preciso ficar longe por medo de num momento de loucura querer ‘retornar’ pra dentro dele. Golfinhos aparecem pra mim o tempo todo quando estou na praia, mas ninguém nunca parece notar. Tiro foto pelo momento do ‘ah, isso sim vale a pena’. Geralmente odeio gente, principalmente gente muito barulhenta. Odeio quem usa perfume demais e/ou de menos. Gosto de homem com barba, tenho desejos insaciáveis por bocas que nunca irei beijar, rasgo cartas e sempre jogo metade numa lixeira, metade em outra. Mania. Uso muito preto e flanela. Parei nos anos noventa. Compro livros de uma maneira doentia, meus melhores amigos são mulheres mais velhas do que eu ou homens que já me amaram. Uso bota e converse. Só.
Não gosto de esporte nenhum mas secretamente sei regra de tudo. Assistia corrida feliz com o meu pai todo domingo de manhã. Amo muito meu irmão. Se ele morresse não sei mesmo o que seria da minha sanidade mental. Muitos diriam que sou desequilibrada e deveria ser internada mesmo fingindo bem ser uma pessoa sã.
Odeio iPhone, prefiro blackberry. Odeio Steve Jobs mas tenho um Mac. Amo Scorsese, odeio Spielberg. Imaginei o Johnny Depp enquanto lia ‘The Rum Diary’ e deu certo. Sempre me imagino como a moça da história em qualquer livro que leio, mesmo em biografias. Sou tarada por homens que escrevem bem. Julgo todo mundo pelas mãos e nesse caso a exceção não confirma a regra. Suas mãos confirmam tudo o que eu sempre soube, meu caro.
Sou Jung e nunca Freud.
Sou estranha.
Sou fácil e extremamente incompatível. Sou.
Tenho dito. ~~


1.9.11

do caderno.






É isso e mais um pouco disso.

A competência dá lugar ao vazio. Esse tempo é aquele tempo que não volta mais, mas você não consegue fazer com que o outro sinta a mesma urgência.

A mesma exatidão da vontade que você sente.

Não é fácil, mas ninguém algum dia disse que fácil seria o meio.



23.7.11

diálogo - e daí?



- Oi. 
- E aí?
-Que foi?
-Que foi o que? 
-Que foi?
-Num foi nada.
-Mas…
-O que?
-Tem cert…
-Você perguntou o que foi 
-Isso
-E eu falei que num foi nada.
-Pois…  sim, claro, eu sei.
-Então.
-Mas eu não..
-Não to entendendo.
-Deixa.
-Deixa o que, putaqueopariu
-Deixa que eu não quero mais saber.
-Mas saber o que?
-O que foi.
-Mas num foi nada, paputamerda!
-Tem certeza?
-Tenho.
-E como eu sei?
-Você me ouve, não consegue ouvir?
-Para de ser assim, não precisa dessa grosseria!
-Precisa do que? Você ta ficando um chato, velho
-Eu?

-Eu que to chato?
-Isso.
-Mas eu te conheço…
-Sim, e?
-E sei que você tem coisa aí…
-Coisa aí? Tipo…
-Tipo coisa que você quer falar.
-Ah sim.
-PORRA!
-O que?
-Mas porque falou que não tinha?
-Mas não foi isso que você me perguntou, criatura!
-Eu preciso ser óbvio?
-É o mínimo, ou num é?
-É?
-Claro!
-A deixa pra lá.
-Não quer mais saber?
-Não, cansei.
-Beleza.
-Tchau.
-Até…
 

-Hei
-O que foi?
-Pergunta denovo?
-…
-Por favor.
-…O que foi? 
-Sei lá, to triste.
-Eu sei que você tá.
-Ajuda eu?
-Não sei como.
-Mas… por quê?
-Porque eu não to bem também ué
-A gente tá tudo fodido, é isso?
-Tamo
-Foda.
-Uma merda.
-É.

~~ 


20.7.11

ultimo dia de brasil, yet again


then you feel small, as tiny as the car down the road; and all the things you so firmly believed yesterday turn into somebody else's words.’ errr... myself.



O eco sempre me pareceu ainda mais insuportável do que o grito.

O pânico causado pela repetição da impressão do sofrimento.

A revolta que sinto quando tudo o que mais espero é que o fim chegue rápido; um fim que tenha gosto de fim na boca, porque o grande problema de tudo aquilo que tem começo é a falta de um ‘the end’ para que os créditos rolem.

-mas os créditos nunca rolam.

Esse é o mal de quem assiste filme porque gosta de chegar ao fim com algum gosto na boca, alguma conclusão emocional no peito, alguma lágrima no canto do olho; esse é o mal de quem se aborrece por não viver aquilo que foi prometido.

-mas a promessa foi ilusão que você criou. alguém te prometeu algo de fato?

A ilusão. A luz que dança diante da tela. O mundo é bonito visto daqui e é ainda mais bonito porque tudo acontece sem a nossa interferência. Bonito e triste.

O tal do eco.

A repetição e a insistência daquilo que te atormenta quando o grito era tudo o que você precisava. A tal da falta de coerência.

Mas a gente segue assistindo o filme da poltrona. Mãos indecisas sobre pernas nervosas. Talvez assim, logo que os créditos começarem a rolar, irei notar que o assento do meu lado tem dono e que, assim como eu, tudo o que ele precisava desde o começo era de um pouco de tempo.

É. Talvez.


30.6.11

das cartas que não foram: dallas, tx.





Will,

Aqui os dias são eternos.

A luz parece que corre sem medo por detrás da terra enrugada que, sem descanso, responde preguiçosa, fique mais, fique pelo tempo que for... Você tem tanto o que fazer por aqui.

Sim, o sol tem tanto o que fazer por aqui, mas eu não tenho não e não terei até a hora de você chegar. Nesses dias em que os dias são eternos, as noites são curtas e respondem rápido. A reação é sempre a mesma: recolha-se. Ele já vem.

Pois eu nunca ouvi isso dos teus lábios, meu amor

Você já vem, acredito. Com o vir trará qualquer coisa parecida com culpa, creio eu em minha infinita bondade quanto à sua pessoa. Trará também uma indecisão digna de alguém frágil escondido num corpo cheio de peso de homem do tamanho certo. Trará fome e carne, tudo no mesmo pacote. Trará o que sobrou de mim de volta para o berço. O começo de tudo. O seu começo.

Eu aqui vivo por você e espero diante de uma janela generosa demais. O sol dessa terra ri de mim enquanto a lua espia com pouca vontade. Enquanto o tapete estiver torto e o quadro um pouco manchado, as velas mal arranjadas e as flores levemente murchas, essa terra continuará a esbanjar dias eternos.

E, devo perguntar, como viver dias eternos sem a dedicação abandonada ao momento em que te sacar será como presenciar a grande diferença entre o dia e a noite? Será essa a única realidade que conhecerei? Viver à espera de uma promessa silenciosa.

Eis o peso e o prazer de cuidar de viver mais dias desses dias eternos.

Até que essa o encontre com saúde suficiente para que a resposta seja a sua presença pronta para a minha fome.

E lembre-se, dias de sol são só dias de céus de um azul intenso.

É.


Laura A.,

27 de setembro de 1992,
Hospital Psiquiátrico de Timberlawn - Dallas, TX.



foto daqui.

8.6.11

amor fora de hora





~ Aposto qualquer coisa que ele gosta de mim. Entre um pensamento e outro de absoluto terror causado por algum maldito prazo, aposto que ele pensa em mim.  Entre um diálogo e outro ele deve descrever alguma personagem como me vê e em pânico se esconde atrás do copão gigantesco de chá gelado.

Aposto qualquer coisa que ele é quieto, doce, descabeçado. Que coloca meias de pares diferentes e que usa gravata com aquele moletom com capuz porque nunca percebeu que os dois não combinam. Aposto um mundo que ele morre de vergonha de mim e que para tudo pra prestar atenção no que eu faço até o momento que ele percebe que horas se passaram e nenhuma linha foi escrita. Aposto que nada parece certo. Nunca. Aposto que nada seja fácil. Aposto um milhão que ele gosta de mim.

Aposto que vou perder a vontade de ficar nessa espera. Aposto que ele nunca vai me perguntar nada portanto aposto que nunca irei responder. Nunca vou me atrever a contar que quero, mas não posso. Não agora, não assim, não tão rápido mas que quero.

Aposto que ele não sabe que eu quero.

Aposto que querer, na cabeça dele, seria o suficiente e num mundo perfeito também. Aposto que ele também não sabe que o mundo é perfeito e imagina que, como no seu roteiro, o rapaz vai entender logo qual é a solução para todos os seus problemas: amor. Aposto que comédia ele não escreve, aposto que drama também não seja seu forte. Aposto meu carinho por ele que nada é o que parece ser e no entanto é... porque quero que seja.

Aposto que ele me quer porque eu o quero, não sei como nem onde nem quando nem se isso tem cabimento, mas aposto que todas as respostas cairiam no esquecimento se em determinado momento ele simplesmente dissesse que sim, ‘apostas todas ganhas, Miss Awesome Alice’. O mundo é meu e um milhão de dinheiros também.

Mas tempo com ele é o que quero.

Aposto que logo todo o tempo dele seria também meu. ~


15.5.11

pai.


***

Eu não entendia o porquê, depois da siesta uma meia hora sentado ao lado do equipamento de som antigo sintonizado na estação de música clássica. Jornal lido da manhã sobre a mesa de centro, sapatos impecáveis, restinho do cabelo que sobrava na cabeça bem escovado, ombros largos, tão largos que era difícil de alcançar com os meus braços ainda curtos.
 
Contestava. Eu contestava o porquê da música clássica, do sapato impecável, da roupa sempre bem passada. Contestava o porquê da posição politica tão bruscamente removida do que antes era o seu bem maior.


‘É diferente por causa daquilo que ainda é meu bem maior'.


Centenas de pessoas que ajudou durante a vida, advogado de causas nobres, perdeu a vontade de cobrar, aceitou ser tomado conta calado, esperou por milagres infindáveis, se orgulhou inúmeras vezes da minha personalidade independente, mas quando a independência mostrou a tendência subversiva (pelo menos dentro de casa) de se jogar a favor de uma cultura que era sinônimo de inferno, o mundo caiu. 


Não entendia o inglês, não conseguia falar o nome do rapaz de cabelo comprido no poster do quarto. Perguntava pela razão da minha depressão, pedia pela minha ajuda sem me explicar o que sentia, calava com um tipo de dignidade única que nunca mais encontrei em ninguém. Não mostrava dor, só mostrava carinho, o tempo todo, com todo o mundo.


Com todo um mundo.


Quem pode dizer isso? 'Meu pai só tinha carinho por tudo no mundo?' Eu posso.


Eu posso.


Feliz aniversário para alguém que fez da expectativa um estilo de vida. ~~


18.4.11

dúvida


-- às vezes eu não tenho certeza se sou muito lúcida ou muito estúpida....


'repaginando o tempo, o espaço, reformulando as idéias, os pensamentos que na realidade fina e cruel em que vivemos, nunca de fato mudaram. a mutação, antes de mais nada deve ser aceita como uma forma alternativa do mesmo e sendo o mesmo algo semelhante ao que o sinônimo representa, a mudança deve ser no fim um sinônimo do idêntico.'  --


23.3.11

o fim do mundo chegou, diz a opinião geral




É fácil prestar atenção na desgraça alheia, emprestar alguns curtos momentos do dia para que a sensação de compaixão supere o conforto claramente assumido como norma. É fácil conversar em volta da mesa do café sobre o que acontece do outro lado da terra, do outro lado do oceano. É simples e bonito tuitar alguma coisa sensível em relação à dor de outro alguém que você não conhece. É incrível ver revoluções tardias, ditadores arredios arremessados aos leões, humanos ou não ajudando uns aos outros em momentos de desastres naturais não tão naturais assim, é tudo muito... é.

De um lado assistimos a tudo como os telespectadores esfomeados que somos e apontamos os dedinhos na direção de quem - ouvimos dizer - ser o culpado. Adoramos emitir opinião, adoramos transmitir essas chamadas opiniões por todos os canais possíveis.

Mas para mim, bom mesmo seria descobrir como se faz pra encontrar aquele botão do 'não senhor, o senhor não tem a mínima razão, deixe sua opinião do lado de fora porque obviamente, ninguém pediu por nada do gênero no recinto', e partir calmo para a próxima desgraça mundial, a próxima praga, o próximo escândalo.

Opinião parece que todo mundo tem, a verdade é que não, não tem não. Opinião é um negócio raro, difícil de ser conquistado, dolorido. Opinião é algo que não se pode ser entregue nem presenteado, não se vem à tona com leveza nem à boca com ar de 'fica-a-dica', opinião se forma. Tudo o que se forma precisa de base, conceito, conhecimento.

Conhecimento, como já sabemos, é uma coisa. Informação superficial e em massa é outra. 

Conhecimento é experiência e informação combinados num esforço sem fim de se alcançar a raiz de qualquer assunto. Opinião é trabalho duro e o que me deixa louca é ouvir merda conhecida como preguiça e mediocridade pintada como consideração, ideia ou até mesmo... opinião.

Buscar por respostas nas cabeças falantes da TV é tão fraco, tão particularmente vazio quanto não buscar por resposta nenhuma e inventar todas como se o conhecimento fosse algo exclusivo dessa fonte infinita de palavras que nascem nesse viveiro de piolhos que todos nós possuímos. É isso.



***


foto daqui.

23.2.11

constância




- enquanto os pássaros ainda sobrevoam minha estância, resisto a tudo aquilo que resiste aos meus segredos. o ar está denso, o céu escuro e triste... o mar permanece sereno. eu espero, atenciosamente.

o tempo pode ser brutal e venenoso mas não me espanta, o que me espanta é a visão da cor clara dos seus olhos me esperando de longe, pensando o mesmo que penso agora e agora e agora e... - 


***

foto daqui.

25.1.11

saudade paulistana



Dá um beijo nas criança, tio Mi, um beijo na tia Eduarda, muitos beijos dessa terra etérea. Mande um abraço pra todo mundo por mim, muitos apertões nas bochechas, muitas cheiradas nos cangotes alheios, muitas noitadas nos cafés da vida, muitas manhãs de pão com manteiga na chapa, pingado e suco de laranja tirado na hora... tio, vê duzentos gramas de pão de queijo 

'pra nóis?', 

não, só pra mim. 

Tá tocando O Barquinho, maysa ou elis? Elis. Mas essa eu gosto Maysa.

Que ce quer? Pode me ver um baurú, óquei... proce porque num como carne. Manhê, eu pedi pro moço encher isso aqui de catupiry, me vê mais dois café faz favô, que carioca o quê! Café com leite.

Eu sou a verdadeira café com leite, o leite do seu café. A azeitona do teu requeijão.

Pois esse ônibus tá lotado, 'pega o próximo', não! Preciso estar lá agora! O bilhete tá pra vencer... pula a catraca!

Alice, que bicho do mato você, vai aparecer hoje? Não. Amanhã? Não. Mas quando vamos nos ver? Quando você aprender a gostar de sentar na calçada e beber... café. Breja? Nunca. Cheira e fede à xixi de gato.

Perdi Nietzsche no metrô ontem...

Te encontro no Santa Cruz, a gente pega a sessão das quatro e para pra comer no Bertioga, logo que o cidadão ali resolver se vem ou não vem... por sinal encontrei com u Zé no Tortula, ele tá gordo e bobão como sempre, você viu a Isabel? Continua com aquele quilombo no queixo... para! Vamos parar rapidinho no Rei do Mate?

Copão de pão de queijo!

Cinema...

Cafeera?

Johnny, não tire o dia por nós, a Si não vai aparecer...

E o Mafra? Sumiu, ninguém encontra!

Nóis já vai, e antes vamos pagar de rico no Morumbi?

Vamos, depois de parar no Rei do Mate...

Tarde assim só o Fran's, Nathy 'mas eu ainda to esperando o Chico, Li!'

ai ai, 'Alice vai, continua que eu te espero aqui', porque? Vem comigo! 'ce tá rapida demais pra mim...', eu preciso parar no Brachesquento, vê se tenho fundos...

'vai que eu te espero aqui...' mas meu amor!

Deixa rodar a maquininha, a barraquinha, minha bonitinha... pagou o estacionamento? 'não, não tenho dinheiro...' caráleo...

amor à la Paulistana...


***

17.1.11

rambling

que prazer, o da alegria extraordinária. o fruto de um grande choque entre o prazer físico de se banhar em um rio daquilo que se deseja e o gozo emocional de se encontrar seguro daquilo que você sempre soube durante tanto tempo: que esse dia viria ao seu encontro, mais cedo ou mais tarde.

alegria extrema. o culto ao sentir, que seja intenso em conexões nervosas, rico em excessos deliberados de gostos e faíscas, real em cor, cheiro, toque. real em vida.

porque o que nos faz feliz é feliz por nos fazer feliz.

porque o que nos enche de dor e prazer reutiliza nossa vontade e ação de sentir para que o sentir nunca morra, para que ele continue real em cor, cheiro, toque.

que prazer, o da alegria extraordinária. do compreender que o amor não vai além do que você é, o amor se reinventa em formas invisíveis mas evidentes. ele toma a forma dos seus lábios e das lágrimas dos seus olhos, ele permanece vibrante nos seus nervos, ele não é de aço nem de músculo, ele é de eletricidade.

você é condutor.

a alegria extrema do permitir.

permitir que o todo permaneça inutilizável, entender que a pequena revolução transforma universos, entender que o gosto do prazer é o mesmo gosto que sua boca carrega, que seus olhos corrompem, que suas mãos desatam.

Tom Waits lendo poesia do Bukowski.

***