23.5.07

uma canção de amor...

Peguei o filme porque uma linda amiga minha que tem trinta e cinco anos a mais de vida do que eu, disse que eu o entenderia. Disse mais coisas também. Uma delas que a atriz principal era a Scarlett Johansson. Outra delas que era um filme sobre viver... Viver no sentido mais casto da palavra. Viver porque te encurralaram ou viver porque você se encurralou. Viver? É... ela só disse pra eu ver o filme e mais uma vez a obediente Alice que às vezes é em correntes, às vezes é cooper e às vezes é quase Silverstone foi até a locadora pegar o tal do filme... O nome já é gostoso. Uma canção para Bobby Long. Em inglês é ainda melhor, A Love song for Bobby Long. Até rima e rima bonito. O filme começa mais colorido que Frida Kahlo só que de um jeito estranho. É blue, porque é blues. Porque é New Orleans com cara de Old New Orleans. Tem cheiro de mato no filme inteiro, mas no começo eu senti forte, logo nos primeiros segundos. Dona Scarlett, com aqueles lábios escarlates, não imaginava que o filme seria tão gostoso de ver. Ela tem cheiro de cereja. Em pouco tempo dou de cara com o Travolta - sim, ele mesmo dos embalos - completamente caquético sem estar velho e com cheiro de álcool da mesma forma que o filme tem cheiro de mato. Tem também um tal de Gabriel Macht que tem cara de alguém que eu conheço. Cara, jeito, tom de pele, voz e cheiro - que eu também senti o seu cheiro assistindo o filme - e amor por literatura como aquele alguém que eu conheço. Em alguns momentos a história até chega a me fazer acreditar naquela máxima ridícula de tão mínima que diz, "em terra de cego quem tem um olho é rei" e deixo minha caixola entender aquele mundo onde ninguém tem nada de mais e de menos e só está vivo sentindo o gostinho amargo da terra, sem esquecer das cores das flores que vivem no mato mal cuidado desse pedaço de planeta largado há tanto tempo, por tantas pessoas, tantas vezes. A música vai tocando e os diálogos vão se completando e então tá na cara que foi uma mulher que dirigiu essa tropa toda. Uma mulher que sentiu que aquela história deveria ser contada, e mais do que isso deveria ser sentida por gente que entende. Quando tudo parece ter um fim é porque o momento de escolha chegou e esses momentos nunca são glamurosos na vida real. Nunca são cheios de estardalhaço, muito menos de carinho. Ás vezes a gente tem que tirar essas coisas do nosso umbigo e fazer brotar dali o amor que a gente precisa, plantar em terreno fértil é difícil quando se tem uma única mula, dois apêndices e milhares de quilômetros pra percorrer antes de chegar na terra roxa mais próxima...
.

Só escrevi isso aqui pra encorajar quem não viu Uma canção para Bobby Long a ver... É pra gente que gosta de cheiro de mato e cereja com cores de Frida Kahlo ao fundo.

Algum voluntário?