11.5.07

ao pai do frio...

tinha um quê de suspense que ficava no ar.
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um certo sombreado diferente em tudo que se costumava ver por ali.
"é o ar frio, deve ser..."
você respirava aquela respiração de perder o fôlego e ele, o fôlego vinha gelado renovando qualquer coisa que estivesse guardada no fundo do peito. "há de ser o frio, não tem como não ser"... os céus tinham todo o espaço do mundo e com as nuvens, dançávamos em círculo nessa fábrica de flores. éramos crianças e não éramos felizes. os pais muitas vezes não sabem muito mas alguns amam o suficiente pra compreender tudo.
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uma das crianças encontrou uma borboleta muito colorida voando em volta das flores. a outra criança resolveu caçar pedrinhas de tamanhos e texturas diferentes, de cores diversas e de pesos variados. a terceira criança resolveu marcar o tempo que levava pra correr dali até o portão e a quarta criança decidiu não brincar. queria ver tudo com seus olhos de águia filhote, com seu coração de mãe ainda por ser. os pais às vezes não sabem muito mas alguns amam o suficiente pra compreender tudo.
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assim o tempo passou, ou melhor o tempo passou assim, baixinho com cores fortes e cheiros de flor de lis e redemoinhos de girassol. o peito ainda transbordava de tanta coisa que renovou por respirar todo aquele ar frio.
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"aquele é um país de sonho... tem que ser!"
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as crianças, ao cair da tarde, ficaram todas juntinhas, em círculo, esperando alguém para buscá-las. os pais muitas vezes não sabem muito mas alguns amam o suficiente pra compreender tudo. quando a primeira estrela apareceu no céu o papai chegou. ele tinha aquele ar de inverno cinza e elegante em volta dele "tem até o chapéu!"... pegou as crianças pelas mãos e nenhuma falou se quer um ai. pareciam estarrecidos com a visão de inverno daquele homem e com o seu sorriso gostoso, com suas mãos grandes e fortes. morenas e cheias de pintinhas. mãos de biscoitos de caramelo com gotas de chocolate. ao saírem do encanto do dia de sol para entrarem no inverno de uma noite de estrelas as crianças aprenderam a ser mais do que gente é, aprenderam a sorrir com as mãos e cuidar do jardim um do outro.