3.1.07

eu acho que não há nada mais vago do que a lembrança.

de tanto enteder que minhas lembranças foram produzidas por mim quase deixei de acreditar em mágica. depois de ler tanto nietzsche também larguei a mão da varinha de condão, deixei no canto o saco de presentes, a bola de cristal, o caminho das águas, as mãos que curam e sei lá mais o que. depois de tanto querer tanto pensei alto que deveria desistir do que supostamente é irreal, o que é e o que depende só do outro. abri mão do outro pelo poder do que há dentro de mim para doar ao outro a consciência pequena e translúcida dos meus ossos, nervos e de todos os sistemas do meu corpo.
eu pesei cada braço e perna, meu tronco e minha cabeça miúda, não cheguei a conclusão nenhuma.
quando percebi que do sonho que vivia transbordava mais vida do que a que era alcançada nos meus dias, morri. vou confessar que perdi eternamente a vontade da mágica. a mágica, meu amigo, não existe.
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cheguei nesse ponto, nesse momento em que estou nua falando com você.
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cheguei aqui e ainda não sei bem como mas uma coisa eu não perdi porque redescobri nessa minha negação.
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o que é humano é o cume do objetivo final e comum à todos. o que é do humano, da carne, do peito e das mãos é meu também. é toda nossa essa humanidade. por mais castigada que seja, é a única, a ÚNICA coisa que nos resta.