23.1.07

ben, seu dom e seu grande problema...

"i hate to say i love you because it means that i will be with you forever or will sadly say goodbye ...
i love to say i hate you, because it means that i will live my life happily without you or will sadly live a lie..."
ground on down do ben harper


não vou falar do show do Ben Harper. nem do show especial que foi assistir o super Juan Nelson com aquela cara de amigão e com sua personalidade graciosa, mesmo com aquele tamanho todo e com todo seu talento para extrair mágica do seu baixo... não vou falar também do show único que foi a percussão do Leon Mobley pirando em burn one down e levando a galera a entrar no ritmo dele, só dele e pular como nunca vi tanta gente pulando junto em um show gringo. vou falar sobre a capacidade que o brasil tem em produzir pessoas desprovidas de senso de coletivo. vou falar sobre a falta de noção, não só com o seu colega de muvuca mas também com o pequeno grande homem que está no palco, cheio de si (porque o meu lindo ben tem um ego razoável) e cheio de vontade de realmente transmitir o que ele sabe que não consegue transmitir a um público tão estrondoso e gigantesco... ele simplesmente sempre soube que o que ele faz lá em cima não é tão honesto quanto ele faria em uma salinha cabendo 10 pessoas, com um violão, um par de olhos cheios d'água e umas almofadas gostosinhas pro pessoal sentar em cima... ele sabe bem disso e ontem deu pra perceber. seus olhos nunca encaravam a platéia. auto-preservação. e quando ele se empolgou com o povo em si foi durante o refrão do my own two hands, e foi nesse momento que ele pediu pro pessoal mover as mãos, de um lado para o outro, no ritmo da música... foi isso. tenho certeza que ninguém, pelo menos ao meu redor, pelo menos naquela noite, realmente pensou no que ele estava falando: i can CHANGE the world, with my OWN TWO HANDS... make it a better place...
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é, acho que ninguém ficou "pensando na letra" pra poder mexer as mãos de um lado para o outro como qualquer macaquinho amestrado faz.
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se você quer uma "balada", é melhor ir ali perto mesmo no bárbaro ou no jerivá bar, sei lá onde, mas não vá gastar seu tempo e dinheiro com uma pessoa que simplesmente não se doa a qualquer um. ele precisa ter espaço. você precisa querer ouvir. parar e ouvir. sentir no seu corpo todo e talvez assim assimilar melhor o que a música representa. daí você vai me dizer "mas a música representa coisas diferentes para pessoas diferentes" e eu vou falar "mas é claro seu asno!" a questão é que se você está indo lá para prestigiar o artista é bom que você entenda a forma que ele aprecia a arte dele, é bom que você doe a ele a liberdade de tocar você. tocar fundo. e não foi isso que eu vi ontem. vi um bando de gente dessa geração aí que dizem que é a minha, completamente wasted, mais chapada do que sã, mais lá pra pirar e gritar alucinadamente diamonds on the inside (sem deixar ele falar baixinho "a little girl, her name was truth, she was a horrible liar"...) do que perceber a linha tênue que separa a boa curtição e o bom sentimento.
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e isso tudo só me fez amá-lo mais ainda...