26.3.07

so...

sinceridade é a única coisa que me resta.

quantas vezes eu deixo escapar a mentira mais doce pra mim mesma? aquela que me tira do meu trilho, do meu caminho e da minha decisão? um milhão, novecentos e trinta mil, duzentas e quarenta e três vezes...
meu pai foi o único que fez a coisa acontecer. ele saiu pobre de marré deci de minas (sô!) com catorze anos e foi pro rio de janeiro quando vargas nem sonhava em ser presidente, engraxou sapatos e se transformou em dôtô, mesmo vindo de uma família que só tinha cortador de cana e afins... ele perdeu uma parte do dedo indicador quando era moleque no serviço e disso ele tinha orgulho.
e eu, euzinha, a única filha dele (são três irmãos e eu) fui o sonho mais doce que ele sonhou (ai que modéeeestia!). ele queria tanto uma menina, uma filhinha, uma mãezinha, como ele falava, que acabei tendo que colher também todos os sonhos que ele moldou pra mim. parece que caiu no meu colo mesmo essa coisa linda que ele via, esse mundo perfeito, a o ponto de harmonia completa entre a razão responsável e a arte mais complexa e humana, o cúmulo da beleza e do fim, a vida de quem abdica da vida pra se doar ao simples ser. meu pai fez isso comigo mas eu não entendi nada! nada! acho que nunca irei entender, ele não deixou diário... mas sei que acabei de receber o dom, é isso mesmo, o dom de trilhar meu próprio caminho, sem precedentes, sem grama podada ou estrada asfaltada, só pedras, lama mas uma vista linda do penhasco, um mundo de montanhas verdinhas, algumas cobertas de neve e a vista para o mar... esse oceano de possibilidades que mora no meu caminho e nesse mundo perfeito que já foi escolhido para mim mas sem deixarem instruções de como pegar o caminho, eu que terei que me virar...

e é isso.

hoje acordei e resolvi dizer a verdade a mim mesma.

e que assim seja.