19.3.07

As coisas que se repetem toda segunda-feira

Eu não espero ter que contar quantas vezes tentei congelar essas idéias em mim.
Afinal, todos morrem, todos tem um fim e está mais do que provado que cada um escolhe a realidade que tem, ou escolhe?
Eu tinha deixado de lado a vontade de qualquer coisa que fosse do dever de todos para poder me confortar no que existe de direito de um e abandonar princípios que foram antes o fim de tantos e que talvez não será mais o fim de ninguém.
Existe tanto que é esquecido por nós, tanto que existe em cada pessoa, tanto poder, tanto dom e tanta verdade que se esquiva pelos cantos escuros dessa imensa jaula. Essas jaulas que são chamadas de vidas regradas completamente levadas pelo "mais rápido, maior, melhor, agora" e que nos deixam embasbacados com tanto que você não consegue viver sendo bicho de laboratório. Sendo exploração em conta-gotas. Eu nunca quis acreditar na desmoralização da integridade de caráter do indivíduo que propositalmente se chama de humano.
Nunca quis largar a mão dos dias que eu sonhei que algo muito forte e muito poderoso pudesse mudar tudo a minha volta e dentro de mim - e dentro de todos, as a matter of fact- mas o que parece é que algo morreu e se foi sem deixar vestígios.
E se foi, pra onde foi? A gente suou tanto, ou melhor, alguém suou tanto para que nós pudéssemos compreender que nada acaba, tudo se transforma e mesmo assim não há resposta.
Pra onde foi você?
Compadre complacente à dor alheia?
Onde você foi parar? Debaixo da ponte ou em cima dela esmagada por algum pedestre manco, desesperado em chegar na hora, no lugar, no momento certo para não ser jogado no buraco cheio de gente igual que guarda os restos dos mortais do piso de fábrica de um país, de um continente e de um mundo em chamas?
Onde você foi parar? Dentro de um trem rumo a direções desconhecidas por nós mortais moradores da selva de pedra onde até o coração esqueceu que tem cor e é vermelha, pulsando a cada falta de vontade ou pior, pulsando com a raiva que constrói muros a sua volta, com medo, muito medo, muito, muito medo do dia que chegará com o sol nascendo mais uma vez?
Onde você foi parar, doce compadre?
Atrás das grades, além do morro, dentro das casas de papelão, sobre os edifícios altos e espelhados com placas de nomes de telefonia celular brilhando nas sacadas, em escolas particulares onde os pais vão buscar as criancinhas com jagunços tecnológicos em carros blindados que nunca morrem, nas esquinas, nas lanchonetes, nos botecos, nos restaurantes, nos parques públicos, no córrego sujo, na cabeça do morador de rua, na rua, na rua...
Pra onde foi você?
Se você morreu quero que me leve.
Se você vive, grite! Vou encontrar você.
Onde for que você estiver...
Não quero perder aquilo que não se perde por nada e ninguém, aquela coisa que a gente diz que é a última que morre, ela mesma...
A esperança.