7.11.08

Motivos pra se deixar ser - Parte I

Ele tinha queimado os dedos no bule. Pela janela as crianças eram observadas de longe, por um pai um pouco ausente mas muito cheio de amor, as vozes e gargalhadas que preenchiam a casa eram de se guardar. O tempo virou. No telefone, sua mulher respondia seca e que aguardaria la fora, ele pediu que entrasse, mas a resistência era maior, algo havia morrido sem volta e ele ainda tentava compreender. Duas chamadas. Duas chamadas não atendidas. Ele logo tentaria novamente. Era um dia como qualquer outro e sem a menor sombra de duvida ele havia feito algo de errado. As crianças voltavam para dentro da casa e o jantar estava pronto.

Quase que sem querer ele parecia preocupado. Pedia ajuda, qualquer ajuda que qualquer um conseguisse dar. Os pratos e talheres se esbarravam, ele olhava inquieto, respondia com carinho mas o olhar estava distante.

Enquanto os talheres não parassem de causar alarde, ele não se acostumaria com a sensação de se esperar. Não tinha o privilegio da paciência. O peito reclamava.

Das duas uma, ou ele deveria aprender a ceder ao tempo dela, ou ela iria causar o seu fim, o fim de um começo que estava ainda por vir. Ele não queria perder o sangue frio.

Sua mulher chegou rápido, fora menos tempo do que ele esperava esperar e o sol se punha como um quadro que seria feliz se não fosse doloroso. Ele realmente precisava que ela entendesse... Mas ela não alcançava a sua falta de lógica. O tempo passava.

***

Era quatro da manha. Quatro da manha, ele pensou afiado. O telefone vibra, uma mensagem enviada às pressas. Ele calado e preso, preso num tom quase sem tréguas. Era ela, e quase conseguia ouvir sua voz através do aparelho. Eu não durmo bem e sei que você da mesma forma pena para tal... Em dias de guerra, durma com os olhos abertos - ela dizia.

Em dias de guerra, ele repetia.

Sua calma se esgotava com um trovão la fora. A chuva começava a importunar...




...CONTINUA...