31.12.08

pra nada, mesmo.

o que eu quero? que um raio caia e parta meu peito no meio que jorre de dentro de mim toda essa pressão que se refina e se infiltra em meu sangue, que todo o ferro que me pesa como um fim de um túnel escuro sem um fio de luz ou ar me tome, que rasgue minha pele, queime meu sonho, reluza em um tempo e que seja agora. que tudo que seja um acaso, que seja um sem fim e que ele seja repleto de dor, que a dor seja pouca porque não é, que seja quem é e que continue sendo, mas que essa resposta seja curta, grossa, repentina mas que seja, que meus ossos se entortem, que eu ache o espaço pra que o nada tome conta, que eu me livre. que a terra que come e que arde escondida com olhos inchados de tanto chorar me receba, que ela me enalteça quando enfim chegar a encara-la de frente. que eu a encare e ela me reconheça. que os tambores, as asas, as vozes se calem naquele instante. eu preciso de silêncio! eu quero silêncio. que o silêncio seja a música que sem resolver nem simplificar sejam os votos de uma história irregular, que os povos finalmente queimem as plantas dos pés de tanto procurar, que o que basta chegue enfim, que o recomeço não seja uma opção, os olhos entregam pouca ou muita verdade enquanto observam por cima das grandes montanhas ao oeste, que o oeste se exploda. que o oriente se oriente, que o topo e o meio se encontrem, que o fundo seja raso e que a base seja feita de qualquer coisa que seja e não seja real. eu quero base e que seja desfeita em algo que não tenha nome ou cor ou cheiro ou textura, que seja e esteja presente para que eu a derrame por água baixo e que a descarga esteja funcionando, quero a base longe de entupir qualquer coisa. quero uma luz cegante. uma luz negra, cegante. quero um tempo estranho, quero perguntar aos ventos e receber respostas sem qualquer estrutura que se pareça com palavras. quero desistir delas e não te-las me reerguendo a cada minuto, me mostrando que há esperança. não entendo dessa palavra, pra que é no fim o que é? é pra alguém que realmente seja, eu quero deixar falar e expressar esse peso pois eu queimo, eu quero me jogar ao mar. o que eu quero? eu quero o vento irregular, vindo de todos os lados. o que eu quero? um mar morto e sem reação que me engula e me cuspa do outro lado. o que eu quero? um outro lado. eu quero, desesperadamente e cegamente pelo outro lado.

eu não quero nada.



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